Johannes Brahms (Hamburgo, Alemanha, 7 de maio de 1833 – Viena, Áustria, 3 de abril de 1897), compositor alemão, cultivou, com exceção da ópera, todos os gêneros musicais.
A “revolução de veludo”
Habilidade para desenvolver temas era exatamente o forte de Brahms. Ele defendia que a arte não é só talento. Inspiração, escreveu ele, seria uma “intuição superior, algo que independe do compositor”, e só teria valor quando convertida em “propriedade legalmente adquirida pelo trabalho incessante”. Estudioso disciplinado da obra de Bach e Beethoven, passou a infância e a juventude num cortiço de Hamburgo, onde nasceu, e ganhava a vida, quando jovem, como pianista de bordéis. Por admirar os mestres do passado, ficou com fama de conservador, apregoada pelos admiradores de Richard Wagner (1813-1883), o compositor que achava que estava “reinventando” a arte dos sons e entrou para a história da música como o grande rival de Brahms.
Menos famoso, mesmo em sua época, tem-se como certo, que Brahms era um compositor tão ou mais revolucionário do que Wagner. O caráter inovador de sua música é facilmente reconhecível nas suas quatro sinfonias, em que é frequente deparar com inovações harmônicas tão surpreendentes quanto as de Wagner. Esses três opus, com peças suaves e radicais, configuram uma verdadeira “revolução de veludo” musical e encontraram no rigoroso pianista Wilhelm Kempff seu melhor intérprete.
Brahms estreou sua primeira sinfonia, em Viena, quando tinha 30 anos. Foi apelidada de “A Décima de Beethoven”, um elogio para o compositor, acostumado a ser comparado com o antecessor ilustre por outros motivos – tinham a mesma altura (1,65 metro), vestiam-se mal e eram bons de copo. Entre o nascimento de Schubert (1797) e a morte de Brahms (1897), 100 anos se passaram. Esse período abarca Schumann, Berlioz, Verdi, Wagner, Liszt, Chopin e tantos outros, mas não é absurdo dizer que o espírito do século XIX musical está realmente contido entre essas duas datas.
Sombra incômoda
Brahms e Schubert criaram suas obras com o espectro de Beethoven puxando-lhes os pés
Um fantasma genial – Ludwig van Beethoven (1770-1827) – assombrou todos os compositores que vieram depois dele. O austríaco Franz Schubert (1797-1828), e o alemão Johannes Brahms (1833-1897). Schubert, por ter sido jovem na Viena onde Beethoven viveu seu auge, no início do século XIX. Brahms, por ter se dedicado a escrever sonatas, quartetos e sinfonias – formas deixadas em segundo plano pelos compositores do romantismo, entre outras coisas para evitar a comparação com o fantasma. “Você não calcula como esse sujeito me persegue”, queixou-se Brahms a um amigo certa vez. “Depois de Beethoven, o que mais pode ser feito em matéria de música?”, disse Schubert no dia do enterro do compositor alemão, que era seu ídolo. Isso foi em 1827. Um ano mais tarde, o próprio Schubert morreria, aos 31 anos, e seria enterrado ao lado do túmulo de Beethoven.
O interessante nas obras de Brahms e Schubert é que ambas são, em última análise, respostas a essa indagação fundamental – o que fazer depois de Beethoven.
Com Schubert, ficou claro que, depois de Beethoven – que gostava de definir a si próprio como “proprietário de um cérebro” -, uma inspiração prodigiosa não era mais suficiente para configurar um gênio. Duvidava-se até do aparecimento de outro com a mesma combinação de talento e inteligência. Foi quando surgiu Johannes Brahms para mostrar que a música não acabara na Nona Sinfonia.
(Fonte: Veja, 7 de maio de 1997 – ANO 30 – Nº 18 – Edição n° – MÚSICA/ Por João Gabriel de Lima – Pág; 146/147)