John Birks Gillespie, trompetista americano. Foi o trompetista mais técnico da história do jazz

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John Birks Gillespie, trompetista americano. Foi o trompetista mais técnico da história do jazz, um dos músicos mais criativos de todos os tempos e esteve na gênese de um estilo que marcou época – o bebop.
Tudo começou nos anos 40, quando Dizzy, filho de um pedreiro da Carolina do Sul, ganhava uns trocados como trompetista da orquestra do cantor e showman Cab Calloway. Com o instrumento em punho, ensaiava solos mirabolantes mais chamativos do que as piruetas do crooner da orquestra. “Não quero mais ouvir essa música chinesa ao acompanhamento”, reclamou o irado Cab. Pior para Cab. O que era “música chinesa” virou ouro na companhia de Charlie Parker, saxofonista com quem Dizzy se uniu para inventar o bebop. O gênero era a mais completa tradução do espírito de improvisação do jazz. Nele, o ritmo se comprimia e esticava para se amoldar às exigências da melodia. Com esse achado, Dizzy e Parker revolucionaram não apenas o jazz mas toda a música do século 20.
Quando não estava revolucionando o jazz, Dizzy gostava de viajar e colher ideias para as suas músicas. Veio ao Brasil várias vezes, ouviu sambistas, fotografou mulatas e incluiu vários números de bossa nova em seu repertório.
Esteve no Paquistão e quase foi expulso do hotel quando levou para o quarto um encantador de serpentes – com a cobra junto – para aprender com ele as escalas paquistanesas. Na santíssima trindade do trompete, em que figurava ao lado de Louis Armstrong e Miles Davis, Dizzy Gillespie era o mais técnico. Armstrong e Miles Davis inventaram estilos. Mas só Dizzy, com sua técnica, era capaz de soar ora como Armstrong, ora como Davis e, na maior parte do tempo, como ele próprio.
As bochechas infladas como balões de aniversário e o trompete torto de Gillespie se tornaram símbolos históricos do jazz. Nos anos 50, o músico subia ao palco com boina, cavanhaque e óculos escuros – detalhes que inspirariam a moda beatnik. Esquisitices como essas, aliadas a um proverbial bom humor em cena – apresentar seus músicos uns aos outros era uma de suas gaiatices prediletas – valeram a Gillespie o apelido de “Dizzy”, tonto em inglês. Na hora de inflar as bochechas e fazer soar sua corneta torta, Dizzy não tinha nada de tonto.
Gillespie morreu no dia 6 de janeiro de 1993, aos 75 anos de câncer no pâncreas, em Nova Jersey, EUA.

(Fonte: Veja, 13 de janeiro de 1993 – Edição 1270 – Datas – Pág; 67)

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