Os cem anos da brasilidade de Jorge Amado
Poucos brasileiros sintetizaram tão bem o país quanto Jorge Amado (1912-2001). Suas obras incorporaram personagens ao imaginário nacional, e sua própria história de vida seguiu um enredo emblemático, com intervenções políticas, defesa à liberdade de culto religioso, influência na intelectualidade e observação de costumes do povo.
Veja na linha do tempo abaixo os momentos mais importantes da história do escritor que ajudou a colocar a Bahia no mapa cultural brasileiro e mundial.
Conheça os fatos que marcaram a vida do escritor baiano.
1912 – Nascimento
Jorge Leal Amado de Faria nasce em 10 de agosto, na fazenda de cacau Auricídia, em Ferradas, distrito de Itabuna, Bahia.
1914 – Infância em Ilhéus
Seus pais mudam-se para Ilhéus, onde ele faz o curso primário.
1922 – Estudo em Salvador
Segue para Salvador, para estudar como interno do colégio Antonio Vieira.
1923 – A primeira redação
Escreve a redação “O mar”, que impressiona seu professor, o padre Luiz Gonzaga Cabral. Ele passa a lhe emprestar livros de autores portugueses e também de Jonathan Swift, Charles Dickens e Walter Scott.
1925 – Aventura pré-adolescente
Foge do Antonio Vieira, em Salvador, e percorre o sertão norte baiano rumo à casa do avô paterno, em Sergipe. Lá, passa “dois meses de maravilhosa vagabundagem”. O pai o leva de volta a Salvador, onde vai morar no Pelourinho.
1927 – Início no jornalismo
Ainda aluno do Ginásio Ipiranga, em Salvador, começa a trabalhar como repórter policial para o “Diário da Bahia” e “O Imparcial”, e publica o texto “Poema ou prosa” na revista “A Luva”. Integra a Academia dos Rebeldes, que prega “uma arte moderna sem ser modernista”.
1929 – Primeira novela
Sob o pseudônimo Y. Karl, publica em “O Jornal” a novela “Lenita”, escrita em parceria com Edson Carneiro e Dias da Costa.
1930 – Rumo à capital
Muda para o Rio de Janeiro.
1931 – Primeiro livro
Publica seu primeiro livro, “O país do carnaval”.
1931 a 1935 – Aspirante a advogado
Frequenta a Faculdade Nacional de Direito, mas nunca exercerá a profissão.
1932 – Partidão
Filia-se ao Partido Comunista Brasileiro.
1933 – Primeiro casamento
Casa-se com Matilde Garcia Rosa. Identifica-se com o Movimento de 30, do qual faziam parte escritores como José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos. Neste ano, lança “Cacau”, que tem vários exemplares apreendidos como “subversivos”.
1934 – Terceiro romance
Lança “Suor”.
1935 – Intentona comunista
Lança “Mar morto”. É preso por dois meses, acusado de ter participado, um ano antes, da Intentona Comunista contra o governo Vargas, e novamente em 1937, após a instalação do Estado Novo.
1937 – Censura às obras
Sai “Capitães da Areia”. Em Salvador, seus livros são apreendidos pelo governo e queimados em praça pública.
1941 – Abrigo no exterior
Em tempos de Estado Novo, refugia-se na Argentina e no Uruguai, onde pesquisa a vida de Luís Carlos Prestes, para escrever uma biografia. Lança “ABC de Castro Alves”.
1942 – Terceira prisão
É publicada na Argentina “A vida de Luís Carlos Prestes”, rebatizada depois de “O Cavaleiro da Esperança”. De volta ao Brasil, é preso pela terceira vez, por três meses, e enviado a Salvador. Colabora na “Folha da Manhã”, de São Paulo, torna-se chefe de redação do diário “Hoje”, do PCB, e secretário do Instituto Cultural Brasil-União Soviética. No fim do ano, volta a colaborar em “O Imparcial”, assinando a coluna “Hora da Guerra”.
1943 – Retorno do escritor
Publica, após seis anos de proibição de suas obras, “Terras do sem fim”.
1944 – Divórcio
Lança “São Jorge dos Ilhéus”. Separa-se de Matilde Garcia Rosa.
1945 – Torna-se deputado
Passa a viver com a paulistana Zélia Gattai, a quem conheceu em São Paulo, durante comício a favor da libertação de Prestes — vão se casar oficialmente em 1978. É eleito deputado federal pelo PCB e publica o guia “Bahia de Todos os Santos”. “Terras do sem fim” é publicado nos EUA.
1946 – Carreira parlamentar
Publica “Seara vermelha”. Como deputado, propõe leis que asseguram a liberdade de culto religioso e fortalecem os direitos autorais.
1947 – Cassação
Seu mandato de deputado é cassado, pouco depois de o PCB ser posto na ilegalidade. No mesmo ano, nasce, no Rio, seu filho João Jorge.
1948 – Novo exílio
Devido à perseguição política, exila-se em Paris. Sua casa no Rio é invadida pela polícia, que apreende livros, fotos e documentos.
1950 – Falecimento da filha
Morre no Rio sua filha mais velha, Eulália Dalila. No mesmo ano, Amado e sua família vão morar no castelo da União dos Escritores, na Tchecoslováquia. Viajam pela União Soviética e pela Europa Central.
1951 – Condecoração na URSS
Recebe o prêmio Stálin, em Moscou. Nasce sua filha Paloma, em Praga. Lança “O mundo da paz”.
1952 – Proibição nos EUA
Volta ao Brasil, fixando-se no Rio. O escritor e seus livros são proibidos de entrar nos EUA durante o período do macarthismo.
1954 – Abandona comunismo
É eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores e publica “Os subterrâneos da liberdade”. Afasta-se da militância comunista.
1958 – Surge Gabriela
Lança “Gabriela, cravo e canela”, que marca nova fase da sua obra, pautada pela discussão da mestiçagem e do sincretismo.
1959 – Candomblé
Recebe o título de obá arolu no Axé Opô Afonjá. Embora fosse um “materialista convicto”, admirava o candomblé, que considerava uma religião “alegre e sem pecado”.
1961 – Imortal da ABL
Vende os direitos de filmagem de “Gabriela, cravo e canela” para a Metro-Goldwyn-Mayer, o que lhe permite construir a casa do Rio Vermelho, em Salvador, onde irá morar com a família de 1963 até sua morte. Ainda em 1961, é eleito por unanimidade para a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras. No mesmo ano, publica em um mesmo volume, “Os velhos marinheiros ou O capitão de longo curso” e “A morte e a morte de Quincas Berro D”água”. A TV Tupi adapta “Gabriela”, com Jannette Vollu no papel principal.
1964 – Vésperas do golpe
Publica “Os pastores da noite”.
1966 – Nasce um clássico
É editado “Dona Flor e seus dois maridos”.
1969 – Mais um romance
Lança “Tenda dos milagres”.
1972 – Enredo de samba
Publica “Tereza Batista cansada de guerra” e é homenageado pela Escola de Samba Lins Imperial, de São Paulo, que desfila com o tema “Bahia de Jorge Amado”.
1975 – Novela da Globo
“Gabriela, cravo e canela” inspira novela da Globo, com Sônia Braga no papel principal. Estreia o filme “Os pastores da noite”, dirigido por Marcel Camus.
1976 – Sucesso no cinema
Estreia o longa-metragem “Dona Flor e seus dois maridos”, dirigido por Bruno Barreto. Sai “O gato malhado e a andorinha Sinhá”, escrito em 1948, em Paris, como um presente para o filho.
1977 – Surge Tieta
Estreia o filme de Nelson Pereira dos Santos inspirado em “Tenda dos milagres”. Sai “Tieta do agreste”.
1979 – Mais lançamento
É deste ano “Farda, fardão, camisola de dormir”.
1983 – Entre Paris e Brasil
Ele e Zélia Gattai passam a morar uma parte do ano em Paris e outra no Brasil.
1984 – Traduzido 17 vezes
Publica “Tocaia Grande”.
1987 – Acervo preservado
É inaugurada em Salvador a Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho.
1988 – Número 1 do Carnaval
A Escola de Samba Vai-Vai é campeã do Carnaval, em São Paulo, com o enredo “Amado Jorge: A história de uma raça brasileira”. No mesmo ano, publica “O sumiço da santa: uma história de feitiçaria”.
1989 – Tieta em horário nobre
Estreia a novela “Tieta”, com Betty Faria no papel principal.
1992 – Livro de memórias e “romancinho”
Lança dois livros: “Navegação de cabotagem — Apontamentos para um livro de memória que jamais escreverei” e “A descoberta da América pelos turcos”.
1995 – Língua portuguesa
Recebe o prêmio Camões.
1996 – Saúde fragilizada
Três anos depois de um enfarte e da perda da visão central, Jorge Amado sofre um edema pulmonar em Paris. Passa por uma angioplastia e, no ano seguinte, bota um marcapasso.
1997 – Último livro em vida
Lança “O milagre dos pássaros”.
1998 – Doutor honoris causa
É o convidado de honra do Salão do Livro de Paris, cujo tema é o Brasil, e recebe o título de doutor honoris causa da Sorbonne e da Universidade Moderna de Lisboa. Em Salvador, termina a fase principal de restauração do Pelourinho, cujas praças e largos recebem nomes de personagens de Jorge Amado.
2001 – Adeus eterno
Após sucessivas internações, Jorge Amado morre em 6 de agosto, quatro dias antes de completar 89 anos, de parada cardiorrespiratória.
(Fonte: http://oglobo.globo.com/infograficos/jorge-amado-cronologia/ – Textos: Mauro Ventura – 15 de agosto de 2012)