Jorge Gerdau, foi responsável por transformar a siderúrgica em um grupo transnacional.

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Com muitos cargos no currículo, é na função de “quase ministro” que ele parece estar mais à vontade

Jorge Gerdau, é um dos mais poderosos “ministros” da República. Empresário, com atuação na área de siderurgia. Graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nasceu no Rio de Janeiro (RJ).

As aspas entram em nome do rigor jornalístico, mas, na prática, poderiam ser perfeitamente eliminadas sem prejuízo da informação. Mesmo sem pasta, Gerdau notabilizou-se como um dos mais próximos e prestigiados colaboradores de Dilma Rousseff. Muitos dos 39 ministros de Estado levam meses para somar o número de conversas que ele tem com a presidenta da República no espaço de uma semana.

O discurso da busca da eficiência na gestão pública tornou-se um estribilho de Gerdau em reuniões com autoridades, palestras e entrevistas à imprensa. Não raramente sobram flechadas na direção do governo.

Gerdau é mais do que um dos principais interlocutores entre o empresariado e o Planalto. Sua influência no governo vai da elaboração de políticas industriais às discussões em torno dos mais importantes projetos estruturantes em curso no país, notadamente na área das concessões públicas. Neste mosaico chamado Jorge Gerdau cabe ainda a figura de condutor de um dos maiores grupos empresariais do Brasil. Para onde quer que se vire, Gerdau é puro aço.

Jorge Gerdau tornou-se um dos nomes mais proeminentes da cena empresarial brasileira. Trata-se de um daqueles personagens que pulverizam rótulos ideológicos. Gerdau sempre foi tachado pelas esquerdas de um “capitalista de direita” – para se dizer o mínimo. Assim como tantos outros empresários, cometeu o “pecado” – neste caso, as aspas são mais do que fundamentais – de expandir seu império durante os anos de governo militar, como, se por acaso, a Gerdau não estivesse fadada a crescer qualquer que fosse o regime dominante. Tão logo assumiu a Presidência da República, Lula, que nunca foi de se deixar levar por rótulos ou reducionismos mesquinhos, tratou se de se aproximar do mais teutônico dos empresários nacionais. Desde então, o cartaz de Gerdau no Planalto só fez subir, seja com o próprio Lula, seja, principalmente, com Dilma Rousseff.

Coincidência ou não, o imbricamento entre Jorge Gerdau e o governo só fez crescer após sua saída da gestão executiva de suas empresas. Em 2006, ele deixou a presidência da Gerdau. Passou o timão para o filho André Gerdau Johanpetter e foi se aninhar no Conselho de Administração do grupo. À época, muitos atribuíram sua decisão a um possível convite para assumir, de fato e de direito, um ministério no governo Lula. Mais recentemente, Gerdau voltou ao posto de “ministeriável”, quando esteve cotado para assumir a própria Pasta da Fazenda no lugar de Guido Mantega. Até hoje, o tão almejado ministério não veio, ao menos não com nomeação publicada no Diário Oficial.

Bisneto de João Gerdau, fundador do grupo, Jorge Gerdau assumiu a presidência da siderúrgica em 1983, aos 47 anos. No entanto, sua ascendência na companhia e no próprio cenário empresarial brasileiro precederam a nomenclatura do cargo. Dos quatro filhos de Curt Johannpeter – todos com passagem pela direção da empresa –, sempre foi aquele que mais se sobressaiu, dentro e fora das fronteiras da Gerdau. Ainda na década de 1960, foi um dos artífices da expansão do grupo, primeiramente com a compra da Fábrica de Arames São Judas. Nos anos seguintes, conduziu a incorporação da Siderúrgica Açonorte e da Companhia Siderúrgica da Guanabara.

A gestão de Jorge Gerdau se caracterizaria pela agressiva política de aquisições. Já na década de 60, o empresário vislumbrava a necessidade de o grupo se firmar como um dos grandes consolidadores de um setor pulverizado e com forte presença do Estado. Se, nos anos 60 e 70, Gerdau pôs-se a vasculhar o mercado em busca de ativos, a partir da década de 80 soube se valer do ciclo de privatizações. Em 1988, cinco anos após ser alçado à presidência, Gerdau venceu seu primeiro leilão, o da usina Barão de Cocais, em Minas Gerais. No ano seguinte, arremataria a baiana Usiba. Seria um aquecimento para a principal aquisição da Gerdau. Em 1997, o grupo participou do leilão de desestatização da Açominas, ficando com uma participação minoritária da empresa. Quatro anos depois de uma tumultuada relação com os demais acionistas, entre elas a asiática Natsteel, a Gerdau assumiu o controle da siderúrgica mineira.

Jorge Gerdau foi responsável também por transformar a siderúrgica em um grupo transnacional. A Gerdau tirou seu passaporte em 1980, quando comprou a Laisa, do Uruguai. No entanto, o grande salto viria no fim da década de 1990, com a incorporação da Ameristeel, com a qual a companhia herdou uma importante base industrial nos Estados Unidos. É bem verdade que, nos últimos anos, premido por sucessivas crises mundiais, o grupo enfrentou alguns sobressaltos na América e teve de reorganizar sua operação local, inclusive com o fechamento de algumas instalações. Ainda assim, a Ameristeel reúne mais de 30 plantas industriais, voltadas à produção de aços longos e especiais, e hoje já responde por praticamente um terço da receita global do grupo. Além do Brasil e dos Estados Unidos, a empresa opera em outros 11 estados. No ano passado, faturou quase R$ 40 bilhões. Ainda que Jorge Gerdau esteja fora da gestão executiva há quase seis anos, estes números vão para a sua conta. A Gerdau que existe hoje foi esculpida pelo empresário.

Jorge Gerdau sempre chamou para si a marca da eficiência na gestão. A Gerdau é siderúrgica não apenas no que produz, mas também da forma como funciona. A empresa segue um rigoroso sistema de metas. Na interseção entre o empresário e o homem público, nada mais natural que ele empunhe esta bandeira em suas andanças pelo Planalto Central. O discurso da busca da eficiência na gestão pública tornou-se um estribilho de Gerdau em reuniões com autoridades, palestras e entrevistas à imprensa. Não raramente sobram flechadas na direção do governo. Um dos principais alvos de suas pontas afiadas é exatamente o “inchaço ministerial”. Vez por outra, Gerdau joga sobre a mesa uma proposta para a redução do número de pastas. Recentemente, sugeriu a criação de um “superministério dos transportes”, que englobaria também as Secretarias de Aviação e de Portos. “Jorge Gerdau não se conforma com a existência de 39 ministérios. Ainda mais, quando há 39 ministérios e nenhum lhe pertence”, diz, em tom irônico, um importante empresário igualmente com trânsito livre no Planalto.

Farpas à parte, cargos não faltam no currículo de Jorge Gerdau. Numa rápida busca na internet, é possível capturar ao menos 15 das funções que ele desempenha simultaneamente, desde a coordenação da Câmara de Gestão e Planejamento do Governo Federal e integrante do Conselho de Administração da Petrobras a membro do Conselho da agência de fomento Pólo RS. Mas, no momento, é na função de “quase ministro” que Gerdau parece estar mais à vontade. Seu nome está vinculado a algum dos principais projetos de infraestrutura do governo. Há um pouco de Gerdau no modelo de concessões públicas, na política de desoneração fiscal e nas estratégias de apoio ao setor industrial. O empresário tem sido também o algodão entre cristais em questões polêmicas. Durante a elaboração da MP dos Portos, foi convocado pela própria Dilma Rousseff para auxiliar na busca de uma solução de consenso entre os empresários e o governo. Singrou por águas conturbadas, tendo que se equilibrar entre os interesses privados e políticos que turvaram a votação da MP. Talvez tenha até se lembrado dos tempos de surfista – Gerdau é um dos pioneiros do esporte no país –, quando enfrentava em seu pranchão as ondas da praia de Atlântida, no litoral norte gaúcho.

(Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br – Os 60 mais poderosos do País – Influência/ Jorge Gerdau – Por iG São Paulo – 13 de setembro de 2013)

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