José Luiz de Magalhães Lins, banqueiro que assumiu o Banco Nacional com apenas duas agências e o tornou, no auge de sua história, no segundo maior do País

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José Luiz de Magalhães Lins, banqueiro do Nacional que financiou o Cinema Novo

Amigo de artistas e intelectuais, ele ficou conhecido por financiar filmes, livros, pinturas e peças de teatro

José Luiz de Magalhães Lins (Arcos, Minas Gerais, em 12 de abril de 1929 – em 3 de janeiro de 2023, no Rio de Janeiro), banqueiro que assumiu o Banco Nacional com apenas duas agências e o tornou, no auge de sua história, no segundo maior do País.

Sobrinho do ex-governador de Minas Gerais José de Magalhães Pinto (1909-1996), líder civil do golpe de 1964, Magalhães Lins nasceu em Arcos, Minas Gerais, em 12 de abril de 1929, mas foi no Rio de Janeiro que, ainda jovem, deu início a uma trajetória profissional no mercado financeiro. Aos 17, começou a trabalhar no banco do tio, o Nacional de Minas Gerais, e assumiu o posto de diretor executivo em 1960.

Magalhães Lins trabalhou no Banco Nacional de Minas Gerais, onde começou como escriturário, em 1948, e permaneceu até se tornar diretor-executivo da instituição, que alcançou o posto de segundo maior banco privado do país.

Magalhães Lins ajudou grandes empresas brasileiras. Como diretor-executivo do Banco Nacional, foi avalista de um empréstimo concedido ao jornalista e empresário Roberto Marinho, considerado fundamental para os primeiros passos da TV Globo.

Próximo a políticos, artistas, militares, atletas, jornalistas empresários, atuou nos bastidores de episódios centrais da história recente do Brasil, como mostra reportagem do jornal Folha de S.Paulo, de 2020.

Comandou a campanha de João Goulart pela volta do presidencialismo, participou das articulações do golpe militar no ano seguinte e salvou Garrincha da cadeia.

No entanto, o banqueiro ganhou fama após se tornar um dos principais financiadores do Cinema Novo, movimento cinematográfico brasileiro dos anos 1960 e 1970.

Lins patrocinou obras como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Terra em Transe”, de Glauber Rocha; “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos; “Os Fuzis”, de Ruy Guerra; “A Grande Cidade”, de Cacá Diegues; entre outros clássicos do cinema nacional.

“O exemplo do sr. José Luiz Magalhães Lins é de extraordinária importância neste momento que vive o cinema brasileiro, o mais fértil de sua história”, escreveu Glauber Rocha, em 1963.

Em entrevista ao jornalista Claudio Leal, uma das raras que já concedeu, Lins destacou a retidão dos cineastas naquela época. “Enquanto eu estive no negócio, ninguém deu prejuízo. Ninguém.”

Entusiasta da literatura e das artes plásticas, o banqueiro também financiou o prêmio literário Walmap, a editora Civilização Brasileira e o jornal Pif-Paf, de Millôr Fernandes.

Como mostra a reportagem da Folha de S.Paulo, sua atuação diversa deu trabalho para que o SNI (Serviço Nacional de Informações) definisse sua “posição ideológica” durante a ditadura militar. Em relatório de 1979, o órgão escreveu que “os registros não permitem opinião conclusiva”.

O banqueiro conviveu com figuras que transitavam por todo o espectro político. Antes do golpe militar, ele coordenou campanha de João Goulart, em 1963. Um ano depois, seu tio Magalhães Pinto se alinhou ao regime na conspiração contra Jango.

Outro episódio marcante de sua vida foi com Garrincha. Como conta Ruy Castro, em “Estrela Solitária”, Lins ficou sabendo que o craque poderia ser preso por não pagar a pensão da ex-esposa e das filhas. Para salvar o jogador, o banqueiro assinou um cheque, em 1968, e pediu a seu assessor para pagar a dívida.

Depois que deixou a instituição, em 1972, foi presidente da Light e do Banerj. Em 1980, tornou-se conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, onde ficou até 1999, quando se aposentou. O banco, que ficou marcado por patrocinar o piloto Ayrton Senna, foi extinto em 1995, 23 anos após sua saída da instituição.

Em seu livro Notícias do Planalto, o jornalista Mário Sérgio Conti destaca o apoio permanente dado pelo banqueiro às artes, ao cinema e às letras. Magalhães Lins ficou conhecido por financiar os principais filmes do Cinema Novo.

“Durante dez anos, Magalhães Lins comandou o Nacional. Era um inovador. Abriu as salas dos gerentes das agências aos clientes. Concedia financiamentos a pessoas físicas e pequenas indústrias. Criou uma imagem popular para a empresa, tendo como símbolo o guarda-chuva. Sob a administração dele, o Nacional multiplicou o seu capital e se tornou o segundo maior banco brasileiro”, escreve Conti.

Ainda segundo o jornalista, simultaneamente à sua atuação no banco, Magalhães Lins apoiava a arte brasileira e foi fundamental para o florescimento do Cinema Novo, financiando algumas obras-primas como Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, Os Fuzis, de Ruy Guerra, A Grande Cidade, de Cacá Diegues, Menino de Engenho, de Walter Lima Jr, A Falecida, de Leon Hirszman, e O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade.

Seu papel no apoio ao cinema foi reconhecido pelo cineasta Glauber Rocha (1939-1981). O financiamento do banqueiro foi fundamental para os clássicos do cineasta como Terra em Transe e Deus e o Diabo na Terra do Sol.

“O exemplo do Senhor José Luiz Magalhães Lins é de extraordinária importância neste momento que vive o cinema brasileiro, o mais fértil de sua história, o mais definido pela qualidade cada vez maior de seus filmes”, afirmou o cineasta no livro Revisão Crítica do Cinema Brasileiro.

Cineastas como Luiz Carlos Barreto costumavam se referir ao banqueiro como um “verdadeiro ministro da Cultura durante a ditadura, um ministro informal num governo paralelo”. Seu apoio às artes também se estendia a escritores, pintores e peças de teatro. O Banco Nacional chegou a ter uma carteira exclusiva para a cultura e um gerente especialmente designado para atender os artistas.

“O auge do Cinema Novo foi após 1964. Ninguém foi incomodado. Essa foi minha maior façanha”, afirmou o banqueiro em entrevista à Folha de São Paulo, em dezembro de 2020. Na entrevista ele garantiu que nunca levou prejuízo ao emprestar para os cineastas: “Enquanto eu estive no negócio, ninguém deu prejuízo. Ninguém”, afirmou.

Lins faleceu na tarde da sexta-feira (3), aos 93 anos. A informação foi confirmada pela família, que disse que o falecimento ocorreu por causa naturais.

Lins tratava de pneumonia e morreu em sua casa no Rio de Janeiro, às 14h20. “Ele partiu há pouco e teve uma passagem pacífica. Estamos consternados, porém em paz”, disse José Antonio Magalhães Lins, um dos filhos do banqueiro.
(FONTE: https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil – NOTÍCIAS BRASIL/ História por THIAGO BETHÔNICO – Folha de S.Paulo/ SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – 03/02/23)
(FONTE: https://www.terra.com.br/diversao/entre-telas/filmes – DIVERSÃO/ ENTRE TELAS/ FILMES/ por Carlos Eduardo Cherem – BELO HORIZONTE – 3 fev 2023)

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