Joseph Brodsky, poeta e ensaísta, um dissidente soviético naturalizado americano

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Rebelde premiado

Brodsky: poesia refinada

Joseph Brodsky (Leningrado, 24 de maio de 1940 – Nova York, 28 de janeiro de 1996), poeta e ensaísta, um dissidente soviético naturalizado americano. Celebridade internacional tanto pela qualidade de seu trabalho como pela oposição ao regime soviético. Antes de ser expulso da União Soviética, Brodsky teve alguns poemas publicados esporadicamente nos Estados Unidos, na Alemanha e na França, mas só em 1973 apareceu a primeira edição americana de sua obra com Selected Poems (Poemas Selecionados). Em 1980 foi lançada mais uma coletânea de poemas, A Part of Speech (Uma Parte de Fala) e em 1986 saiu uma seleção se ensaios com o título de Less than One (Menos que Um), dedicado a outro poeta literário, o polonês Czeslaw Milosz, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1980. Se Brodsky não envereda pela poesia engajada nem faz de seus versos propaganda política, nos ensaios ele discute o autoritarismo e relembra os tempos de União Soviética, além das análises poéticas.

Desde 1986, a Real Academia Sueca, encarregada de conceder o Prêmio Nobel de Literatura, deixou claro seus critérios e objetivos. Em vez de laurear autores consagrados e populares, empenhou-se em tirar das bibliotecas grandes escritores esquecidos pelo mercado editorial e restritos ao mundo acadêmico, projetando-os mundialmente. Em outubro, os suecos mais uma vez deram mostras de eficiência ao premiar o poeta e ensaísta Joseph Brodsky. Longe do tempo em que se premiavam autores também por motivos políticos, como no caso do também soviético Boris Pastermak, autor do romance Doutor Jivago, o Nobel foi destinado a um escritor de elite, com uma poesia de estilo neoclássico pouco afeito a vanguardas e ensaios inteligentes sobre literatura.

Brodsky, foi um dos mais jovens escritores contemplados com o Nobel, começou a conquistar fama ainda jovem, aos 23 anos, quando o governo soviético cismou de impedir uma carreira poética que se delineava. Alguns anos antes, já experimentava os primeiros atos de rebeldia ao abandonar a escola e optar por uma formação autodidata, sobretudo em literatura e línguas inglesa e polonesa. Denunciado por um jornal de Leningrado, onde morava, foi preso sob a acusação de “parasitismo social”, já que não possuía nenhum emprego fixo além de escrever poesias. Condenado em 1964 a cinco anos de trabalhos forçados, ele amargou uma temporada de dezoito meses numa região remota e gelada, ao norte do país, até que uma campanha entre poetas soviéticos pressionou o governo a libertá-lo antes do prazo previsto. Durante o período de prisão, Brodsky rachava lenha, quebrava pedras e lia muito nas horas livres, sobretudo antologias de poesia inglesa e americana. Mesmo depois de libertado, sua vida não ficou mais fácil, pois era impedido oficialmente de publicar suas poesias e só podia divulga-las clandestinamente, em livretos que circulavam de mão em mão.

“POETA RUSSO” -– Quando o governo soviético finalmente decidiu convidar Joseph Brodsky a se retirar do país e emigrar para Israel, o poeta, que é judeu, não aceitou. Ele só saiu da União Soviética um ano depois, em 1972, quando foi obrigado a embarcar num avião rumo a Viena. Antes de partir, porém, deixou uma carta ao então líder soviético, Leonid Brejnev, em que dizia: “Embora esteja perdendo minha cidadania soviética, eu não deixo de ser um poeta russo”. E Brodsky cumpriu o que dissera – em Nova York, onde passou a morar, continuou escrevendo em russo, e ele próprio fazia a tradução de seus poemas, publicados em revistas e suplementos literários de jornais.

Depois do Nobel, a imprensa soviética começou a quebrar o gelo em relação a Brodsky, ao anunciar a publicação de alguns de seus poemas na revista literária Novy Mir. Cético quanto a um possível reconhecimento tardio de sua arte, Brodsky declarou: “Poemas, romances – essas coisas pertencem à nação, à cultura e ao povo. Elas foram roubadas do povo e agora as coisas roubadas estão sendo devolvidas a seus donos, mas não acho que os donos devam estar agradecidos em e recebê-las”.

PRIMEIRA LINHA –- Ao conceder prêmios a escritores pouco populares, a Real Academia Sueca cumpre também uma tarefa da qual não se dá a mínima conta – reafirma a distância entre a intelectualidade brasileira e os escritores de real valor no cenário internacional. Elias Canetti, o romancista e ensaísta búlgaro que recebeu o Nobel de Literatura em 1981, era simplesmente desconhecido no Brasil antes do prêmio. Depois dele, quatro livros de Canetti foram editados. Por isso, tende-se a concluir no Brasil que o Nobel de Literatura só é concedido a obscuridades literárias sem importância. Tais conclusões confirmam a opção acertada da Real Academia Sueca em divulgar escritores de elite, numa forma de levar o pensamento intelectual de primeira linha a lugares onde a cultura chega sempre com atraso – como o Brasil.

(Fonte: Veja, 28 de outubro de 1987 -– Edição 999 -– LITERATURA -– Pág; 130)

Na premiação de 1987, a Real Academia Sueca chamou a atenção dos leitores do Ocidente para o poeta soviético dissidente Joseph Brodsky, que morava em Nova York. A obra de Brodsky, baseada na tradição clássica e europeia, não perde o brilho quando traduzida do russo. Por isso mesmo, depois de sua premiação, ele passou a ser reverenciado como um dos melhores poetas contemporâneos.

Brodsky, e a maioria dos premiados pelo Nobel foi de certa forma homenageado e revelado para o grande público graças à Academia Sueca. O Nobel não se destina a apontar o melhor escritor do mundo, e sim a chamar a atenção para um deles. A academia, em vez de confirmar o talento de nomes frequentes nas livrarias, promoveu desconhecidos da maioria do público.

(Fonte: Veja, 19 de outubro de 1988 –- ANO 21 -– N° 42 – Edição 1050 -– NOBEL -– Pág: 94/95)

 

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