Joseph Cotten (Petersburg, Virginia, 15 de maio de 1905 – Westwood, Califórnia, 6 de fevereiro de 1994), ator que irradiava inteligência e fez muito sucesso entre as espectadoras dos anos 40
– “A algum lugar a vaidade o levará”. Com esse título, que parecia inspirado de alguma frase de efeito de Oscar Wilde, Joseph Cotten – lançou, em 1987, a sua autobiografia.
Tinha muitas histórias para contar, mas nenhuma delas o caracterizava como um homem especialmente vaidoso. “Todo ator, por natureza, o é”, dizia, com base na sua vasta experiência no palco e diante das câmeras. “Sempre desconfiei que foi por pura vaidade que troquei o jornalismo pelo teatro”. Os dois saíram ganhando. Ao que consta, Cotten nunca chegou a ser um bom repórter, nem mesmo um bom crítico teatral no “Miami Herald”.
Como ator fazia o gênero “low key”: nenhum espalhafato, discrição absoluta, a sobriedade em pessoa. Nem quando encarnava sociopatas perdia as estribeiras -era o louco contido, tipo que modelou à perfeição em “A Sombra de uma Dúvida”.
Tinha talento, charme, irradiava inteligência e fez muito sucesso entre as espectadoras dos anos 40. De todos os atores do Mercury Theatre que Orson Welles levou para Hollywood, na caravana de “Cidadão Kane”, ele foi o que mais rápida e exitosamente emplacou no cinema.
Cotten e Welles. Impossível dissociá-los. Parceiros e amigos, juntos fundaram o Mercury, cuja importância para a dramaturgia teatral e radiofônica dispensa comentários. “Sem Welles, minha carreira teria tomado outro rumo -e que não seria do meu agrado”, confessou Cotten, que já tinha algum prestígio na Broadway quando conheceu o futuro “enfant terrible” dos palcos nova-iorquinos. “Não era meu desejo passar o resto da vida como galã de peças de sucesso, ainda que eventualmente estreladas por atrizes como Katherine Hepburn”. Cotten, como Welles, queria agitar a ribalta, perturbar a plateia, deixar outro tipo de cicatriz no mapa do show-biz.
A ida para Hollywood o amansou um pouco. Depois de atuar nos três primeiros filmes que Welles já rodou (os outros: “Soberba” e “Jornada de Pavor”), engrenou um currículo de provocar inveja em qualquer ator de sua geração. Sua quinta aparição cinematográfica, “Sombra de uma Duvida”, tinha na direção ninguém menos que Alfred Hitchcock. E a sétima, “À Meia Luz”, George Cukor. Três fitas mais e pegaria King Vidor (“Duelo ao Sol”). Nos intervalos, dilacerou corações em melodramas de guerra (“Desde que Partiste”) e patológicos (“Um Amor em Cada Vida”), nos quais as mulheres sofriam quase sempre mais do que ele.
Hitchcock gostava tanto do seu jeito recatado e elegante que o convidou para mais um filme, “Sob o Signo de Capricórnio”, e não pensou em outro protagonista para “Breakdown”, sua estreia como teleasta em 1955. Ingrid Bergman, que ao lado dele atuou em “À Meia Luz” e “Sob o Signo de Capricórnio”, também o admirava: “Poucos atores me transmitiram tamanha segurança diante das câmeras”.
Seu último grande filme, “O Terceiro Homem”, de Carol Reed, foi rodado em 1949, por coincidência com Welles na retaguarda. Dali em diante, limitou-se a ganhar dinheiro (e muito mais ganhou quando a produção de telefilmes tomou conta dos estúdios) e a curtir a “dolce vita” hollywoodiana, ao lado da mulher, considerada uma das melhores anfitriãs da colônia cinematográfica. Sua mais gratificante lembrança dos anos 50, 60 e 70 foi ter sido o marido psicopata de Marilyn Monroe em “Torrentes de Paixões” (Niagara).
Joseph Cotten morreu em 6 de fevereiro de 1994, em Los Angeles, de pneumonia, aos 88 anos.
(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/2/08/ilustrada – ILUSTRADA / Por SÉRGIO AUGUSTO DA SUCURSAL DO RIO – 8 de fevereiro de 1994)
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