Intelectual brasileiro que pioneiramente mapeou o drama da fome no Brasil e no mundo
Dr. Josué de Castro; Terceiro Mundo auxiliado por diplomatas
Realizou o primeiro levantamento sociológico de um problema do nordeste
Castro: exílio e perseguição
Josué Apolônio de Castro (Recife, 5 de setembro de 1908 – Paris, 24 de setembro de 1973), sociólogo e intelectual pernambucano que pioneiramente mapeou o drama da fome no Brasil e no mundo.
O sociólogo pernambucano, é o autor do livro “Geografia da Fome”, em 1946, obra clássica da ciência brasileira, o livro buscou tirar da obscuridade o quadro trágico da fome no país. A obra foi o primeiro trabalho científico sobre a falta de uma política agrária no Brasil e sua principal consequência, a desnutrição e a fome de grandes parcelas da população.
Dr. Josué de Castro, foi um diplomata e estudioso brasileiro que era conhecido por seu trabalho em favor dos países do terceiro mundo, era um médico que se tornou sociólogo. Adquiriu fama internacional com os ensaios “Geografia da Fome” e “Geopolítica da Fome”, respectivamente traduzidos para 9 e 24 idiomas. Ele foi um dos primeiros a chamar a atenção para a crescente disparidade de receita entre os países industrializados e os subdesenvolvidos, pedindo remédios.
O Dr. de Castro ocupou a cadeira de geografia humana na Universidade Federal do Rio de Janeiro de 1939 a 1970 e lecionou na Universidade de Paris a partir de 1970. Simultaneamente, teve uma carreira política que incluiu deputado brasileiro entre 1955 e 1963, e ocupou a presidência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação entre 1952 e 1956.
Ex-embaixador do Brasil no escritório europeu das Nações Unidas em Genebra, o Dr. de Castro posteriormente chefiou vários comitês e campanhas de ajuda ao terceiro mundo. Recebeu inúmeros prêmios internacionais por suas contribuições à paz, incluindo a Legião de Honra da França, com o posto de oficial.
Origem Social da Fome
O livro do Dr. de Castro “The Geography of Hunger”, publicado nos Estados Unidos em 1952, atraiu o seguinte comentário de Jonathan N. Leonard no The New York Times Sunday Book Review:
“O melhor do livro de Castro é esse reconhecimento de que a maior parte da fome no mundo é de origem social e, portanto, está sob o controle do homem. O pior é sua noção ingênua e complacente de que a natureza, sem a ajuda do homem e apesar do homem, impedirá automaticamente o aumento de uma população bem alimentada.
Seus últimos livros publicados aqui incluem “Morte no Nordeste”, sobre uma área empobrecida do Brasil; “O Livro Negro da Fome” e “Dos Homens e dos Caranguejos”.
Foi médico, professor, geógrafo, sociólogo, escritor, político, intelectual, e ativista brasileiro, nascido em Recife, à 5 de setembro de 1908. Desde 1964, quando teve seus direitos políticos suspensos e foi demitido do cargo de embaixador brasileiro junto aos organismos internacionais sediados em Genebra, Castro sofria o exílio. Mesmo em Paris, onde chefiava um instituto de assessoria a países subdesenvolvidos, lecionava na Universidade de Vincennes e recebia os direitos autorais de seus livros traduzidos para 33 idiomas, permitindo-se um padrão de vida razoável, sempre se queixava de viver longe do Brasil. Em certa ocasião, na Suíça, solicitou diante do senador Dinarte Mariz, seu retorno imediato. E lembra o deputado Carlos Flexa Ribeiro, ex-diretor da Unesco, que foi seu vizinho: “Morávamos em apartamentos no último andar de um edifício. Sob o telhado ficavam as mansardas, quase todas ocupadas por estudantes brasileiros. Nesse ambiente ele se queixava de sentir falta do Brasil”.
O caminho do exílio – Acometido por frequentes crises de angústia, Josué Apolônio de Castro acabou morrendo num exílio em que vivia de maneira singular e ao qual chegara por caminhos bastante diversos dos convencionais. Em 1935, aos 27 anos, começou a tornar-se conhecido quando realizou o primeiro levantamento sociológico de um problema do nordeste e escreveu “As Condições de Vida nas Classes Operárias do Recife”. Com os anos, lançou novos trabalhos, dois dos quais lhe dariam renome internacional, a “Geopolítica da Fome” e a “Geografia da Fome”. Aos poucos, envolveu-se na máquina governamental, como colaborador dos presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, e acabou entrando na política, elegendo-se deputado federal por Pernambuco em 1954 e conseguindo a reeleição em 1958 como o parlamentar mais votado do nordeste.
A fusão do sociólogo com o político parece ter sido a causa dos infortúnios de Castro. Apesar de sua obra ter valor indiscutível, algumas falhas metodológicas e frequentes desatenções estatísticas valeram-lhe severas críticas. O sociólogo Gilberto Freyre, com o qual não mantinha relações de afeto, porém, situou suas deficiências num patamar aceitável: “Seu trabalho foi mais polêmico do que científico. Não lhe faltou, entretanto, fluência e brilho no que escreveu e publicou”.
De qualquer forma, os anos se encarregaram de provar que a ideia central do raciocínio de Castro estava certa. Para ele, a fome não era um mal da natureza, e sim uma praga criada pelo homem. O corolário natural dessa ideia é o combate ao controle da natalidade para enfrentar a falta de alimentos. E, defendendo-a, Josué de Castro participou da Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em 1972. Sua posição era semelhante à da delegação brasileira.Cinco anos antes, o secretário geral da ONU, U Thant, o havia convidado para assessorá-lo em questões ligadas à América do Sul. Uma gestão do Itamaraty desfez o convite. “Ele se sentia profundamente amargurado por não poder participar de nenhum encontro na qualidade de brasileiro.”
O sonho da volta – Quando foi cassado, era chamado de Josué da Fome, o homem que enriquecera com a falta de comida alheia. Certamente essa era uma imagem apaixonada de inimigos políticos que o acusavam, inclusive, de desvios de verbas na criação do Serviço de Alimentação da Previdência Social. Essa acusação nunca foi provada e, mesmo sabendo-se que nunca foi provada judicialmente nenhuma acusação referente aos torrenciais vazamentos que assolam a previdência, pode-se supor que Castro não fosse um corrupto.
O sociólogo pernambucano acreditava que em abril de 1974, quando seus direitos políticos fossem devolvidos, poderia deixar Paris e voltar para Ipanema. Com os amigos, temia não poder retomar atividades intensas, mas, ao mesmo tempo, considerava sua obra ultrapassada. Basicamente, mesmo vivendo bem no exterior, desejava voltar a viver como um cidadão no gozo de todos os seus direitos na terra em que nascera.
De qualquer forma, por mais motivos que julgassem ter seus inimigos e por mais penas que desejassem impor-lhe, é certo que em 1964 ninguém colocou o nome de Josué de Castro na lista dos cassados para que ele morresse angustiado em Paris, com um passaporte caduco e inútil na escrivaninha. Em nove anos, voltou duas vezes ao seu país para curtas visitas em Ipanema. Na manhã do dia 24 de setembro de 1973, o sociólogo foi encontrado morto em seu apartamento da rua Lord Byron, em Paris, a três quarteirões do Arco do Triunfo. Há quatro meses, ele esperava que o consulado do Brasil revalidasse seu passaporte. Cumprindo um desejo repetido inúmeras vezes aos familiares, Josué de Castro retornou ao Rio de Janeiro, onde foi sepultado.
Josué de Castro faleceu aos 65 anos, em Paris. Ele deixa um filho e duas filhas.
(Fonte: Veja, 3 de outubro, 1973 – Edição 265 – DATAS – Pág; 19 – CULTURA – Morte no exílio – Pág; 28)
(Fonte: Veja, 23 de outubro de 1996 – ANO 29 – Nº 43 – Edição 1467 – Homenagem / Por Neusa Sanches – “Geografia da Fome”, de Josué de Castro – Pág: 37)
(Crédito: https://www.nytimes.com/1973/09/25/archives – The New York Times/ ARQUIVOS/ por Arquivos do New York Times – 25 de setembro de 1973)