Jules Michelet, grande filósofo, historiador medievalista e militante republicano do século XIX

 

 

 

Foi o primeiro historiador a consagrar-se à uma espécie de história pitoresca da Idade Média

Jules Michelet (Paris, 21 de outubro de 1798 – 9 de fevereiro de 1874), grande filósofo, historiador medievalista e militante republicano do século XIX. Considerado um dos maiores historiadores de todos os tempos. O ano de 1838 foi muito importante na vida de Michelet. Estava no auge de sua carreira, os seus estudos que têm alimentado nele a sua aversão natural para com os princípios de autoridade e as práticas eclesiásticas, e no momento em que a atividade Jesuita crescia a ponto de provocar uma apreensão real e consistente, foi nomeado para ocupar a cadeira de História no Colégio da França.

 

Michelet foi o primeiro talvez historiador a consagrar-se à uma espécie de história pitoresca da Idade Média, e a sua arte de contar resto um dos mais vivos que existiram. As suas investigações nas fontes manuscritas e impressas era o mais laboriosa, mas a sua imaginação vivace, e os seus fortes prejuízos políticos e religiosos, faziam-lhe ver muito de um ponto de vista demasiado pessoal. Constata-se uma desigualdade de tratamento dos acontecimentos históricos. A hostilidade sem compromissos de Michelet para com o Segundo Império não impediu que a sua queda e os desastres que acompanharam-o estimulassem-no uma vez mais para levá-lo a agir. Chamou a atenção sobre o fato de que dezenas de milhares de parisienses haviam acompanhado seu enterro em 1874.
(Fonte: Veja, 11 de dezembro de 1996 -– ANO 29 -– N° 50 – Edição 1474 -– MEMÓRIA/ Por Luiz Felipe de Alencastro -– Pág; 121)

 

 

 

Entender a história humana e viva que escreveu significa conhecer sua vida e suas paixões, pois totalmente envolvido em pesquisas e completamente preocupado na ótica do leitor, viveu intensamente tudo que escrevia nos proporcionando a sensação de viver o momento registrado. Assim o grande Historiador francês Jules Michelet, nascido em Paris e considerado um dos maiores historiadores de todos os tempos, carregava consigo preocupações sociais e a compreensão individual de romancista, a paixão e imaginação de poeta, mas possuía a inquietude da revolução e a cede por fatos que o fez mergulhar em pesquisas e escrever história.

 
Nasceu pouco após a Revolução Francesa, filho de um simples tipógrafo, teve uma vida modesta, uma infância triste, pobre e dura. Nasceu numa velha Igreja escura, úmida e abandonada, com janelas quebradas por onde entrava vento e chuva, que seu pai comprará por um bom preço e transformará numa tipografia. Até completar 15 anos, sua família não comia carne ou bebia vinho e no porão onde morava no inverno o frio rachava suas mãos deixando-lhe cicatrizes por toda vida. Na escola era franzino, esquisito e tímido, não tinha amizades pelo mundo que os separava, pois enquanto os outros meninos voltavam para seus lares burgueses ele ia trabalhar na tipografia, onde aprendera a compor aos 12 anos, construindo seu império, sua formação e personalidade forte.
A fome e o frio levavam-o a alimentar-se e aquecer-se com a imaginação, afinal era filho único e seus pais esperavam muito dele, pois dava-lhes tudo que podiam e embora o frio e o sofrimento, era um parisiense, o que para ele significava herdar um imenso legado intelectual.

 
Ainda menino aprendeu latim, grego, inglês, italiano e alemão, leu sobre literatura e sobre esses idiomas, e apesar da pobreza viajou conhecendo quase toda Europa Ocidental e as regiões que não conheceu sua mente as invadiu, dando a impressão que leu todos os livros, viu todos os monumentos e todos os quadros. Em suas obras hoje não se encontra impessoalidade da imprensa, é um registro vivo do seu pensamento, pois com as fontes que utilizava ele aprendia tudo que era possível.
Em suas obras interrompia a narrativa para apresentar uma discrição da vida geral na época, nos levando a períodos anteriores de modo que sentimos as mesmas incertezas dos personagens do passado. Assim, segundo o escritor francês Victor Hugo “ele foi o decifrador das grandes esfinges da história”.
Na procura dos princípios de uma nova ciência da história foi influenciado por Vico. E ao longo da sua vida foi nomeado Conservador dos Arquivos, tendo a disposição todos os documentos da Comuna, onde pôs-se a escrever sua História da Idade Média.
As cartas escritas por Michelet nessa época apresentam de modo sua concepção da tarefa do historiador e a paixão com que ele se dedicava a ela. Ele escrevia:

“Estou tentando unir aqueles fios que a ciência jamais juntou: o direito, a arte, etc., para mostrar que de que modo uma determinada estátua, um determinado quadro, é um evento na história do direito; acompanhar o movimento social desde o servo atarracado que faz às vezes de suporte dos nichos dos santos feudais até a fantasia da corte(…). Esse fio duplo compõe-se de indústria e religião(…)”. (p. 15)

Antes dele ninguém havia estudado os arquivos franceses, e ele nos conta que nas “galerias solitárias por onde caminhei por vinte anos, naquele silêncio profundo, vieram a mim os sussurros das almas que sofreram há tanto tempo, e que agora estavam sufocadas no passado”, ou seja, o passado tão vivo que estava presente nos arquivos, prontos a ser descobertos e vividos. Desta forma, percebemos em sua história muita movimentação, muito de pitoresco, muito embora, ele se diga realista e não romântico.

 
Enfim, ele percorre toda a Idade Média com impaciência, ansioso por chegar à Renascença, que veio a atingir a Filosofia, as Artes e as Ciências, e fez parte de uma ampla gama de transformações culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas que caracterizam a transição do Feudalismo para o Capitalismo. Ele esperava o Renascimento como elemento de ruptura.

 
Michelet era um historiador que retornava e entrava na vida do passado para entendê-la, ele tinha sede de viver esse passado e compreendê-lo. E para escrever a história da França, para descobrir os arquivos, para reanimá-los e explorá-los seriam necessários poetas e não guardiões e foi isso que ele foi. Ele foi grande poeta, o maior lírico histórico do nosso século XIX, que fez com que os arquivos reentrassem na vida.

 
Ele nos guia através dos séculos, ofegante, falando a toda velocidade e se sua narrativa não te permite viver aquele momento é porque não o permitiram os fatos históricos.
Ele foi o primeiro a dizer que os agentes de mudanças sociais não eram as grandes personalidades, mas sim as massas, foi o primeiro a escrever uma história da Revolução baseada nos documentos dos diversos órgãos revolucionários, passando a ser o único historiador a utilizar os documentos da Comuna, e enfim, sem dúvida foi um grande historiador, que além de nos deixar obras importantes de pesquisa, ainda é um historiador diferenciado pela sua maneira de escrever e construir história.

 

(Fonte: http://cafehistoria.ning.com – Postado por Márcia Albuquerque em 12 de maio de 2008)