Julien Green, escritor franco-americano, autor da obra-prima, o romance Leviatã

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Green: o tédio da vida na província

Julien Green

Julien Green

Julien Green (Paris, 6 de setembro de 1900 – Paris, 13 de agosto de 1998), escritor norte-americano que redigiu suas principais obras em francês

Filho de pais americanos emigrados para a França, Julian Hartridge Green nasceu em Paris no primeiro ano do século XX. Tal data se torna especialmente significativa quando se atenta para o fato de, na sua novelística, a técnica do romance realista do século XIX servir para exprimir uma inquietação metafísica já característica de boa parte da ficção francesa do século XX.

GRADES FAMILIARES – Embora tivesse desenvolvido toda a sua atividade literária na França, onde recebeu prêmios importantes, entrou para a Academia e publicou numerosos romances, peças de teatro, ensaios e obras autobiográficas, Julien Green viveu longas temporadas nos Estados Unidos.

A obra desse escritor franco-americano era particularmente prezada pelos nossos intelectuais engajados no renouveau catholique, corrente de ideias que na época dividia espaço com a sedução marxista. Prova do prestígio então desfrutado por Julien Green foi a publicação do seu romance Leviatã.

Em Adrienne Mesurat, romance anterior àquela sua obra-prima, deixa entrever, de certo modo, a dupla nacionalidade do seu autor. Há algo do escritor Nathaniel Hawthorne (1804-1864) na atmosfera sombria em que transcorre a ação do romance, bem como na dialética da liberdade e da culpa em que se vê inextricavelmente envolvida a sua protagonista.

Mas já é da mesma linhagem de Gustave Flaubert a escrita nítida e precisa com que Green fixa o tédio e a mesquinhez sufocantes da vida de província na qual o caráter sensível, mas obstinado, de Adrienne se debate inutilmente contra as grades familiares do casarão da Vila das Bétulas, condenada que está a ali vegetar entre a abulia da irmã tuberculosa e a tirania do pai aposentado.

A absurda paixão que lhe desperta um homem a quem viu uma única vez e mesmo assim de relance; a reclusão com que a castiga o pai por essas tentativas de fuga à mesmice do lar; o parricídio a que o desespero acaba por levá-la; a loucura que lhe dá remate à existência – eis os lances narrativos em cujo encadeamento por assim dizer inexorável se revela a segurança da arte tradicional, mas nem por isso menos eficaz no seu poder de convicção, do ficcionista Julien Green.

Julien Green morreu em Paris, em 13 de agosto de 1998, aos 97 anos de idade.

(Fonte: Veja, 2 de março de 1983 -– Edição 756 -– Livros/José Paulo Paes -– Pág: 85)

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