Autor fez história ao escrever sobre Hiroshima no mangá “Gen Pés Descalços”
Keiji Nakazawa (Hiroshima, Japão, 14 de março de 1939 – Hiroshima, Japão, 19 de dezembro de 2012), quadrinista japonês autor do clássico mangá “Gen Pés Descalços”, que foi traduzido em mais de 20 idiomas e vendeu mais de 10 milhões de cópias.
A obra-chave do desenhista foi extremamente influente, sendo referencial para muitos cartunistas americanos, como Art Spiegelman, por exemplo (que prefaciou um dos volumes de suas histórias).
Nascido em Hiroshima, no Japão, Nakazawa tinha 6 anos em agosto de 1945 quando os norte-americanos jogaram de um avião B-29 a primeira bomba atômica sobre sua cidade, provocando a morte de 232 mil pessoas (entre as quais estavam seu pai, seu irmão e suas irmãs). Ele e sua mãe, que morreria 20 anos depois, foram contaminados. Viviam a 1,5 quilômetro do local da explosão.
Seu gibi é considerado um testemunho histórico de raro impacto sobre a irresponsabilidade e a desumanidade que é o uso de armas atômicas em guerras. A gravidade do tema não o impediu de tratá-lo com senso de humor. O personagem Gen (pronuncia-se Guën) Nakaoka é um alter ego de si mesmo, e foi criado após a morte de sua mãe, em 1966. “Quando o corpo dela foi cremado, não sobraram seus ossos. Geralmente, eles resistem à cremação, mas o césio tinha devorado seu esqueleto. O ódio ferveu dentro de mim.” Assim nascia Gen (significa raízes, em japonês), e o primeiro trabalho, batizado de “Hadashi no Gen”, foi originalmente publicado de forma seriada em 1972 e 1973 na “Shukan Shonen Jump”, a revista semanal de maior circulação no Japão, cerca de 2 milhões de leitores. Tornou-se o primeiro mangá, ou gibi, a ser encontrado habitualmente nas livrarias escolares no Japão, recomendado por professores e pedagogos.
Keiji Nakazawa morreu no dia 19 de dezembro de 2012, aos 73 anos, em um hospital de Hiroshima vítima de câncer de pulmão.
Nakazawa já não desenhava desde 2009, por não enxergar mais, decorrência de problemas de catarata. Também recebia tratamento contra um câncer no pulmão desde 2010. No quarto e último volume da história, “O Recomeço”, ele mostrava a penosa tarefa dos sobreviventes da bomba de Hiroshima em retomar suas vidas após a tragédia que se abatera sobre eles. Essa dificuldade acompanharia Nakazawa pelo resto da vida.
Dois filmes foram feitos a partir da série. “Gen Pés Descalços 2”, de 1986, tinha uma perspectiva expressionista, muitas vezes. A queda da bomba era mostrada primeiro do ponto de vista americano, protocolar e impassível. Em seguida, quando a bomba explodia, já era vista do ponto de vista dos habitantes japoneses da ilha, que viam as pessoas sendo vaporizadas e os edifícios explodindo em múltiplas cores. “Não há Godzillas expostos à radiação ou supermutantes, somente realidades trágicas”, definiu Art Spiegelman.
(Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/ArteAgenda – Arte & Agenda > Variedades – 26/12/2012)
Com informações do jornal O Estado de S. Paulo