Lafayette Coelho, tecladista fundamental no reino da Jovem Guarda
Marca inconfundível do movimento pop da década de 1960, o som do órgão do músico está eternizado em discos de artistas como Roberto Carlos e Erasmo Carlos.
Lafayette Coelho Varges Limp (11 de março de 1943 – 31 de março de 2021), pianista e tecladista carioca que ajudou a delinear a assinatura do som da Jovem Guarda com o toque de órgão Hammond B3 ouvido em mais de 50 discos de artistas associados ao movimento.
Pianista de formação clássica, Lafayette começou a estudar piano na infância. Na adolescência, ouviu o chamado juvenil do rock’n’roll e se juntou, como músico, à celebre turma roqueira que se aglutinava na Rua do Matoso, no bairro carioca da Tijuca. Roberto, Erasmo, Jorge Ben e Tim Maia (1942 – 1998) integravam a lendária turma.
Basta ouvir as gravações originais das músicas Quero que vá tudo pro inferno (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1965) – hino da Jovem Guarda que consolidou definitivamente a carreira então ascendente de Roberto Carlos – e Coração de papel (Sérgio Reis, 1966) para perceber a marca do órgão de Lafayette nos discos da Jovem Guarda lançados a partir de 1965.
O artista, que já tocou com nomes importantes da música como Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Sergio Reis, chegou até Roberto Carlos através de Erasmo Carlos, que tinha gravado disco em 1964 com o toque do organista e gostara tanto do que ouviu que recomendou o músico para o amigo de fé e irmão camarada.
Aprovado por Roberto, com quem gravaria regularmente até o fim dos anos 1960, o músico ganhou também o aval fundamental de Evandro Ribeiro, diretor centralizador da CBS, gravadora que mantinha sob contrato a maior parte dos ídolos da Jovem Guarda. Começou então a escalada de Lafayette dentro dos estúdios, mas não somente como acompanhante.
A sonoridade do órgão do tecladista era tão marcante que, após álbum inicial dedicado em 1965 à mulher Dina Lúcia, o artista começou a gravar a série de discos Lafayette e os sucessos, com abordagens instrumentais de hits da época. A série rendeu 20 volumes editados de 1966 a 1978 pela gravadora CBS, na qual Lafayette permaneceu até 1980, até ser dispensado e ter que gravar em companhias fonográficas de menor peso no mercado, como as já extintas Copacabana e Continental.
Mesmo com menor regularidade, Lafayette gravou discos até o fim da década de 1980, amargando nos anos 1990 um período de menor visibilidade que somente seria encerrado quando, nos anos 2000, músicos cariocas da nova geração pop – fãs assumidos da Jovem Guarda – reabilitaram o organista com a criação em 2004 de grupo, Lafayette e os Tremendões, centrado na figura do tecladista.
Com Érika Martins (voz), Gabriel Thomaz (guitarra e voz), Melvin Ribeiro (baixo e voz), Nervoso (guitarra e voz), Raphael Miranda (bateria) e Renato Martins (guitarra e voz), Lafayette gravou dois álbuns, As 15 super quentes de Lafayette & Os Tremendões (2009) e A Nova Guarda de Lafayette & Os Tremendões (2015), este somente com músicas inéditas. Esses discos representaram fachos de luz em trajetória então já crepuscular.
O resto faz parte da história do pop brasileiro, construído ao longo da década de 1960 com a marca inconfundível do órgão de Lafayette Coelho. Som eternamente jovial que ainda influencia e encanta gerações.
Lafayette Coelho faleceu no dia 31 de março, aos 79 anos de idade. Coelho estava internado com uma pneumonia. A morte do tecladista foi confirmada por sua mulher, a cantora Dina Lúcia, no Facebook: Lafayette faleceu hoje, muita dor no coração. Hoje a música ficou mais pobre. Adeus, grande Lafayette, escreveu.
O astro estava com a saúde debilitada desde fevereiro, quando sofreu uma queda e fraturou o fêmur.
(Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2021/03/31 – POP & ARTE / MÚSICA / por BUSCAR BLOG DO MAURO FERREIRA – 31/03/2021)
Jornalista carioca que escreve sobre música desde 1987, com passagens em ‘O Globo’ e ‘Bizz’. Faz um guia para todas as tribos