Refugiado, exilado e maior jogador da história do Barcelona: Kubala, ídolo do clube espanhol
Atleta ganhou eleição feita em 1999 e foi escolhido como maior da história culé
László Kubala Stecz (Budapeste, 10 de junho de 1927 — Barcelona, 17 de maio de 2002), lenda do Barcelona, foi um jogador quase sem pátria e está no hall de craques do futebol que nunca disputaram uma Copa do Mundo.
Nascido em Budapeste, em 1927, cresceu em uma Hungria militarizada, mas já gostava de esportes e era dono de uma força física que impressionava quando criança. Jogava futebol com amigos mais velhos e se destacava, tanto que logo foi para as divisões do então gigante Ferencváros, principal clube do país.
Kubala queria fugir do serviço militar e se envolveu ainda mais com o mundo da bola. Brilhou no Ferencváros entre 1945 e 1946, sempre ao lado de seu futuro companheiro de Barcelona, Kócsis. Aos 19 anos deixou o país para defender o Bratislava, da Tchecoslováquia, e iniciou um problema que o perseguiria durante a carreira.
O país entrou com pedido para que o atacante fosse barrado e a FIFA acatou. Kubala então liderou a criação de um clube de jogadores refugiados que ficou conhecido como Hungria. A equipe fez excursões pela Europa e o alto nível impressionou. O atacante era o dono da equipe e o Real Madrid e o Barcelona foram atrás de sua contratação, tanto que Santiago Bernabéu chegou a conversar diretamente com o atleta para sua ida aos merengues.
Kubala, porém, viu no Barcelona uma chance de levar o treinador do Hungaria e seu cunhado Ferdinand Daucik para comandá-lo mais uma vez. Dito e feito.
Chegou ao Barcelona em 1950 e foi o antídoto a Di Stéfano. O argentino foi alvo de quase uma guerra entre blaugranas e merengues, muito pelo chapéu dado pelo Barcelona no caso Kubala. O time catalão só desistiu do jogador porque tinha o húngaro e seu time e o atacante resolvia os problemas.
A temporada 1951/52 mostrou isso e o Barcelona conquistou o Campeonato Espanhol após três anos, além da Copa do Rei e a Copa Latina, torneio que antecedeu a criação da Liga dos Campeões e reunia os melhores times espanhóis, italianos, franceses e portugueses.
Kubala também foi o primeiro grande craque do Camp Nou. Quando o jogador chegou o Barcelona ainda atuava em Les Corts, primeiro estádio do clube. O atual local em que a equipe manda seus jogos foi inaugurada em 1957 e o sucesso do jogador é até hoje encarado como parte da magia que o estádio leva. Até por isso é a estátua de Kubala a primeira a ser vista no Camp Nou.
Ausência em Copa do Mundo
O jogador foi um dos maiores da história e fez parte da seleção espanhola assim que sua cidadania foi liberada – já havia defendido a própria Hungria e a Tchecoslováquia, mas nunca em partidas oficiais.
Kubala era nome certo para a Copa do Mundo de 1962 e ajudou a Espanha nas Eliminatórias, mas graves lesões do craque de então 35 anos o afastaram da equipe e o atleta perdeu a chance de disputar o Mundial. Sucumbiu com a seleção nas Eliminatórias para os Mundiais de 1954 e 1958 e nunca disputou a competição.
No ano seguinte Kubala se despediu do Barcelona como o terceiro maior artilheiro da história do clube com 194 gols em jogos oficiais, quatro títulos espanhóis em uma época que o Real Madrid dominava o futebol – era pentacampeão europeu – e cinco títulos de Copa do Rei.
László Kubala foi o primeiro grande jogador disputado ferrenhamente por Real e Barça, antes de Alfredo Di Stéfano. Com raízes polonesas e eslovacas, o húngaro deixou o seu país, contrário ao regime comunista que se instaurava. O atacante que estourou no Ferencváros, clube mais popular da Hungria, preferiu se juntar aos italianos do Pro Patria em 1949 a cumprir o serviço militar obrigatório – que poderia levá-lo ao poderoso Honvéd. Perseguido pela federação húngara e pela Fifa, que resolveu suspendê-lo por um ano, Kubala organizou o Hungaria – um time de refugiados para lutar pela causa, que disputou amistosos na Espanha. Lá, o craque atraiu o interesse dos rivais.
Contudo, as negociações com o Real foram por água abaixo. Para assinar, Kubala também queria levar o treinador Ferdinand Daucik, seu cunhado. E a imposição que os merengues não aceitaram foi acatada pelo Barcelona. Ali, os blaugranas ganharam aquele que eles mesmos apontaram como seu melhor jogador no Século XX. Após o regime franquista acelerar sua naturalização como espanhol, Kubala se tornou o líder dos catalães em quatro títulos da Liga, quatro Copas, duas Copas de Feiras e uma Copa Latina. E, de certa forma, também acabou sendo útil aos madridistas.
Afinal, foi depois que Kubala passou a enfrentar sérios problemas pulmonares que o Barça cresceu os olhos em Di Stefano, então no Millonarios, potência do chamado “Eldorado Colombiano”. E, após uma longa queda de braço com o Real, o retorno de Kubala a seu ápice foi um dos motivos que fez com que os blaugranas desistissem da Flecha Loira – um acordo inicial assinado na Fifa determinava que Di Stéfano ficasse as temporadas de 1953/54 e 1955/56 em Madri e as de 1954/55 e 1956/57 em Barcelona, recusado posteriormente pelos catalães.
Apesar da rivalidade entre Real Madrid e Barcelona, que contavam com esquadrões e se digladiavam na Liga e na recém-criada Copa dos Campeões, Kubala não deixou de colecionar amigos do outro lado. Em sua partida de despedida do Barcelona, em 1961, fez com que os ídolos merengues Di Stéfano e Ferenc Puskás vestissem o azul e o grená por uma noite – e antes, o próprio Kubala tinha usado o branco, na aposentadoria do meio-campista Luis Molowny. Já o maior gesto de solidariedade foi encabeçada por Raimundo Saporta, braço direito do mítico Santiago Bernabéu na presidência do Real e principal articulador da contratação de Di Stéfano.
Quando Kubala já havia pendurado as chuteiras, mas seguia como técnico do Barcelona, Saporta o ajudou a reencontrar sua família. O craque não via seus parentes desde 1949, quando deixou a Hungria. Desde então, o país havia passado por momentos tensos, em especial na Revolução de 1956, quando foi invadido por forças militares soviéticas e cerca de 200 mil húngaros fugiram de lá. Mas foi somente cinco anos depois, em dezembro de 1961, que o veterano pôde rever sua mãe.
(Fonte: https://www.torcedores.com/noticias/2020/06 – NOTÍCIAS / FUTEBOL / Por Matheus Camargo – 10/06/20)
(Fonte: https://trivela.com.br/espanha – ESPANHA / por Leandro Stein – 25 de dezembro de 2020)