Laura de Vison (Rio de Janeiro, 7 de setembro de 1939 – Rio de Janeiro, 8 de julho de 2007), ícone do transformismo brasileiro, nascida Norberto Chucri David, fez muito sucesso nas décadas de 60, 70, 80 e 90 como transformista.
Com licenciatura em Filosofia, Psicologia e História, durante anos Laura lecionou comportadíssima: cabelo penteado, terno, gravata e uma cinta para diminuir o seio.
Comparada à americana Divine, Laura fez muito sucesso nas décadas de 60 a 90 como transformista. Seu nome artístico surgiu ainda nos anos 60, quando desfilava de biquíni e casaco de pele no Carnaval carioca.
História
Laura de Vison, que foi batizada com o nome de Norberto Chucri David, começou sua carreira de transformista ainda nos anos 50, mas foi nas décadas de 70, 80 e 90 que Laura ficou nacionalmente famosa ao protagonizar shows pela Cidade Maravilhosa.
Com reconhecimento internacional, principalmente pelo seu estilo exótico de se montar, Laura chegou a ser capa da revista americana “Out Look”.
Durante sua carreira, Laura atuou em oito filmes, entre curtas e longas, inclusive no premiado “Cazuza, o tempo não pára”, onde viveu a si mesma.
O preconceito sempre fez parte da vida de Norberto Chucri David, carioca do Engenho de Dentro, filho de pais libaneses que comercializavam tecidos com a ajuda dos filhos Odete, Ivete, Humberto, Hoover e Norberto, que estudou na Faculdade Nacional de Filosofia com licenciatura em filosofia, psicologia e história. Durante muitos anos, Laura lecionou comportadíssima: cabelo penteado para trás, terno, gravata e uma cinta para diminuir o seio. Retrato de um profissional sério que, mesmo assim, enfrentou discriminações.
Tudo bem, Norberto nunca foi um professor convencional – um dia se vestiu de Cleópatra para explicar a história egípcia – mas amava a profissão. Quando os seios começaram a brotar, morto de vergonha, o menino disfarçava as formas protuberantes com blusas largas. Apesar disso, as crianças notavam:
– Elas faziam chacota com meus peitinhos e minhas pernas, que eram bem femininas.
Laura nunca mais subirá, poderosíssima, a escadaria que a levava ao estrelato no bar Boêmio, no Centro do Rio. Ali, foi aplaudida por turistas, antropólogos, sociólogos, atores, cantores e personalidades internacionais como o estilista Jean Paul Gaultier. Quando soube que Laura lecionava história e moral e cívica na rede pública, Gaultier ficou pasmo: “Interessante essa faceta dupla, isso não seria permitido pela moral francesa”, disse o estilista, levado ao show pela equipe do ELA quando esteve no Rio de Janeiro.
Balde de água nos espectadores e êxtase nos xingamentos
Seus shows antológicos eram uma espécie de videoclipe. Quando interpretava “Súplica cearense”, jogava um balde de água nos espectadores. Em “This is my life”, se transformava numa enfermeira e comia fígado. Volta e meia rolava, absolutamente nua, por uma escada, assistida por até 600 pessoas:
– Uns sentiam aversão, outros amavam – diz Laura.
Em “O fantasma da ópera”, comia o cérebro do fantasma: dois miolos crus, quase 300 gramas:
– Eu fazia essas coisas incorporando Laura. Em meu estado normal jamais seria capaz.
Nos shows, que duravam uma hora e meia, ela alternava sua coleção de quase cem vestidos – que iam do tradicional a trajes mais sexy como baby-dolls e espartilhos – 40 perucas coloridas, 50 sapatos e botas, chapéus e muita pluma, guardados no confortável dúplex da estrela, bem no coração da Glória.
– O público me xingava de tudo, atingindo o êxtase. Para mim também era um ato de libertação.
Comparada à americana Divine, Laura conta que só teve uma paixão na vida. Pelo professor Carneiro, de português. Tinha então 14 anos e pensava nele dia e noite:
– Adorava quando ele me chamava ao quadro-negro. Nunca mais tive um sentimento igual.
Desde então, sua vida foi uma busca desenfreada de prazeres. Relata que, numa noite de carnaval, chegou a ter relações sexuais 49 vezes:
– Sou muito volúvel, amo a vida e o prazer.
Laura fez muito sucesso nas décadas de 60, 70, 80 e 90 como transformista. Seu nome artístico surgiu ainda na década de 60, quando desfilava de biquíni e casaco de pele no Carnaval carioca. Até recentemente, Laura fazia shows na noite carioca em aparições festejadas.
O último trabalho de Laura foi a peça teatral “Dei a Elza em você”, em 2006. No espetáculo, três drag-queens decadentes decidem montar um show com rapazes musculosos.
Laura de Vison morreu em 8 de julho de 2007, de insuficiência respiratória, por consequência de complicações decorrentes de uma cirurgia para tratamento de problemas de hérnia, realizada há oito meses.
(Fonte: Zero Hora – ANO 44 – Nº 15.294 – 13 JULHO 2007 – TRIBUTO / MEMÓRIA – Pág: 55)
(Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura – CULTURA / POR O GLOBO ONLINE – 10/07/2007)
(Fonte: https://disponivel.uol.com.br/acapa/politica – A CAPA – POLÍTICA – BRASIL / Por Redação em 09/07/2007)