Laurent Kabila, presidente do Congo, país do coração da África.

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A guerra do fim do mundo

Laurent Kabila (Likasi, 27 de novembro de 1939 – Kinshasa, 16 de janeiro de 2001), presidente do Congo, país do coração da África.

Kabila chegou ao poder por acaso. Ex-guerrilheiro de “esquerda”, de um tempo em que até Che Guevara andou pelo Congo, era um revolucionário aposentado, dono de boate no tranqüilo exílio.

Foi quando os governos de Uganda e Ruanda, então aliados contra Mobutu, resolveram escolhê-lo como comandante da nascente rebelião armada. Os patronos venceram a luta para ele.

Instalado no poder, porém, Kabila não escapou à lógica tribal: os congoleses têm horror aos tutsis, a etnia no comando em Ruanda. Kabila rompeu com Ruanda e, a partir daí, o conflito se generalizou.

Numa hipótese muito otimista, sua morte abriria caminho a um começo de solução dessa encrenca. Os precedentes, no entanto, não autorizam nenhum otimismo no caso do Congo.

Kabila foi assassinado em 16 de janeiro de 2001, em um incidente em circunstâncias misteriosas no palácio presidencial. Tinha 59 anos.

A morte de Kabila, supostamente assassinado por um guarda-costas, abre um novo capítulo no emaranhado de conflitos que tem o Congo como palco e está sendo chamado de “primeira guerra mundial da África”, devido à quantidade de beligerantes e de interesses em jogo.

Numa tentativa de simplificação, pode-se dizer que o Congo abriga atualmente três guerras paralelas. A primeira envolve tropas do governo e quatro grupos guerrilheiros locais que controlam metade do país.

A segunda tem como pano de fundo a eterna guerra tribal entre as etnias tutsi e hutu. A terceira frente engloba os seis países da região que enviaram tropas para apoiar um dos lados da guerra civil ou para atacar os nove grupos guerrilheiros estrangeiros que utilizam o território congolês como base de suas ofensivas.

Com tantos inimigos e interesses distintos em jogo, era difícil adivinhar quem estava por trás das balas que derrubaram Kabila.

As hipóteses iam desde uma tentativa de golpe desfechada por militares insatisfeitos até a inevitável conspiração estrangeira.

De comandante rebelde que, em 1997, pôs fim a três décadas de reinado de Mobutu Sese Seko, um dos ditadores mais execráveis do planeta, Kabila transformou-se imediatamente num tirano de almanaque.

As únicas mudanças que promoveu foram retomar o antigo nome do país, que Mobutu havia rebatizado de Zaire, e instalar sua turma no comando da corrupção e da incúria. A vida da população piorou ainda mais com a guerra civil que matou mais de 2 milhões de pessoas em dois anos.

O escolhido, em outro lance que contribui para compor a imagem lamentável desse país do coração da África, foi o filho predileto do falecido, Joseph Kabila, detentor de um recorde de precocidade: aos 31 anos já é general, patente à qual ascendeu diretamente do posto de ajudante-de-ordem do pai.

(Fonte: http://www.terra.com.br/noticias/retrospectiva2001/mundo)
(Fonte: http://veja.abril.com.br/240101 – Edição 1684 – Internacional – Congo/ Por José Eduardo Barella – 24 de janeiro de 2001)

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