Lee Iacocca, lendário executivo-chefe da Chrysler, que salvou a montadora americana da falência em 1979

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Iacocca: um dos mais bem-sucedidos CEOs americanos

Lendário gênio dos automóveis

Lee Iacocca, lendário executivo-chefe da Chrysler, que salvou a montadora americana da falência em 1979

Em 1979, Iacocca salvou a Chrysler do colapso ao produzir carros mais baratos e de menor custo, que caíram no gosto popular durante a recessão de 1980-1982. Com o dinheiro, a Chrysler foi capaz de pagar rapidamente o empréstimo que tinha o governo como fiador.

O executivo chegou a aparecer em vários anúncios da Chrysler e ficou famoso pelo slogan “Se você conseguir achar um carro melhor, compre”. Sua experiência está descrita em livros como “Iacocca: Uma Autobiografia” e “Cadê os líderes?”

Lee Iacocca, ou Lido Anthony Iacocca – nome completo desse filho de imigrantes italianos -, ostenta ele próprio, um nome tão mitológico como o de Henry Ford II (1917-1987), o herdeiro da poderosa Ford Motor Company e detentor de um dos nomes mais carismáticos do século XX.

Já na década de 60, ele despontou como o menino-prodígio da indústria automobilística, ao lançar, nos tempos em que gerenciava um dos setores da Ford, um dos automóveis mais bem-sucedidos da história americana, o Mustang. Em 1970, como coroamento de uma carreira fulminante, feita toda ela na Ford, Iacocca assumia a presidência da empresa.

E nem sua espetacular demissão, em 1978, ao final de uma série de embates com Ford, apagou sua flama. Muito pelo contrário, ao aceitar a travessia do deserto que representou pegar a Chrysler quando ela apresentava, no último trimestre de 1978, um déficit de 160 milhões de dólares, e levá-la, em 1983, a um lucro de 925 milhões – o maior de sua história -, Iacocca só fez reforçar sua legenda.

Ele não foi apenas o executivo mais conhecido e louvado dos Estados Unidos. Seu prestígio voou tão alto que se chegou a cogitar, na época, do lançamento de seu nome para nada menos do que a Presidência americana.

Iacocca começou a se aproximar de Henry Ford, seu ex-patrão em 1965, quando foi promovido a uma das vice-presidências da empresa. Finalmente, Iacocca fazia parte do primeiro time da companhia, aquele seleto grupo que almoçava todo dia com Henry Ford. Mais que isso, ele era um óbvio candidato à presidência, não só por suas qualidades como pela atenção com que, na época, era olhado por Henry Ford, de quem se tornou o assistente protegido.

 

Na Ford desde 1946, época em que, ainda estudante, ingressou como engenheiro numa das fábricas da companhia, Iacocca teria no entanto de esperar um pouco antes de atingir o posto máximo. Alguns imprevistos se interpuseram à sua frente, um dos quais foi a contratação de um notável executivo da General Motors, Semon Knudsen (1912-1998).

Felizmente para Iacocca, porém, Knudsen não duraria muito na presidência da Ford. Sua permanência foi de exatos dezenove meses, ao fim dos quais foi demitido por um motivo simples: ele não batia na porta antes de entrar no gabinete de Henry Ford. “Ed O’Leary, um dos assessores de Henry, sempre dizia: ‘Henry  fica furioso. A porta se abre, e lá está ele'”. Este hábito, segundo Iacocca, representou a gota d’água final num relacionamento que nunca foi bom: “Henry era um rei que não suportava que alguém fosse igual a ele, um ponto que Knudsen nunca pareceu entender”.

 

PREGOS NO CAIXÃO – Com a saída de Knudsen, Iacocca assume a presidência. Nesse ponto, Iacocca deixa de ser o protegido para se tornar um rival, na mente de Ford – e então começam os problemas. Uma série de episódios dos masi corrosivos, um dos quais é um discurso que Ford, acompanhado de toda a diretoria da empresa, foi fazer certa vez perante os investidores de Wall Street. “Quando Ford levantou para falar, já tinha bebido bastante, e começou a dizer coisas sem sentido sobre o desenvolvimento da empresa.” Então, o principal assessor financeiro da companhia, Ed Lundy, cochichou a Iacocca que falasse ele próprio, para corrigir a situação: “Tente salvar o nosso dia, ou todos pareceremos idiotas.”

Iacocca acatou o conselho, mas no dia seguinte perceberia que o patrão não gostara de sua atitude. “Você anda falando com muitas pessoas de fora”, observou-lhe Ford. “O que ele queria dizer, é que eu podia falar sem problemas com revendedores e fornecedores, mas devia ficar longe de Wall Street. Senão, eles poderiam pensar que eu estava dirigindo a companhia, e isso não lhe agradava.”

Episódios como esse eram sentidos por Iacocca como pregos que iam sendo colocados, um a um, em seu caixão. Um dos mais pemetrantes foi o sucesso do Fiesta, o carro que Iacocca lançou na Europa. Ali havia um coquetel de ingredientes para desagradar o patrão – a começar pelo fato de ser um carro pequeno e de tração dianteira, exatamente do tipo em que Ford admirava e da qual se considerava um supremo conhecedor. Era demais para seus ciúmes.

Ford passou a disparar ataques destinados exatamente ao fígado de Iacocca, como aproveitar sua viagens para tomar decisões da envergadura d ocorte das verbas de determinado projeto ou da inversão da estratégia com relação a algum outro.

Iacocca gostava muito de seu salário: 970 000 dólares por ano. Nada pior, para alguém assim, que o calvário que o esperava na Chrysler, tão logo se viu despojado de seus poderes e seus confortos na Ford. No dia mesmo em que ele ingressou no novo emprego – registra Iacocca -, o jornal Detroit Freee Press estampava duas manchetes. A primeira era: “Os prejuízos da Chrysler foram os piores de toda a história”. E a segunda: Lee Iacocca vai para a Chrysler”.

TESOURA INSACIÁVEL – A situação ainda iria piorar, com déficits maiores e uma recessão econômica que, na virada dos anos 70 para os 80, atingiria toda a indústria automobilística. A miserável conjunção de infortúnios é que iria, porém, consagrar de vez os poderes de Iacocca. “Encontrei um estado de anarquia na Chrysler, havia 35 vices-presidentes, cada um com seu próprio feudo”.

Nos três anos seguintes, Iacocca despediria 33 dos 35 vices-presidentes. Suas medidas de economia incluiram o deliberado planejamento de um comprimento abaixo dos 4 metros e 30 centímetros para os carros K, que projetara para a Chrysler, de forma que coubesse um maior número deles em cada caminhão de carga. Onde houvesse cortes a efetuar, lá estava a insaciável tesoura de Iacocca.

 

TRIUNFO SUPREMO – Os empréstimos afinal saíram e foram um poderoso elemento na recuperação da Chrysler. Em 1983, com o sucesso de seus carros da linha K, a empresa registrou um lucro operacional de 925 milhões de dólares. Iacocca pôde então encenar o melhor ato de sua vida: resolveu pagar todos os empréstimos de uma só vez, sete anos antes de seu vencimento.

“Nós, da Chrysler, tomamos empréstimos à moda antiga: nós os pagamos”, disse ele durante uma cerimônia armada com grandes fanfarras, em Nova York. O presidente da Chrysler exibiu então o maior cheque que já vira na vida – de 813 487 500 dólares – e o entregou aos credores.

Foi o momento de triunfo supremo para um executivo que, a essa altura, graças à sua saga e a seu aparecimento em anúncios na TV, para promover os carros da Chrysler, já era tão popular, nos Estados Unidos, como os ídolos do esporte ou do show business.

De maneira cabal, ele representa o prestígio dos executivos – personagem que começa a tomar lugar, na imaginação popular, antes reservado aos capitães de indústria. Para o próprio Iacocca, porém, talvez nada seja mais confortador do que algo que ele garante ter sido uma simples coincidência: o fato de aquele grande momento de triunfo, em que entregou o cheque aos credores, ter se dado exatamente no mesmo dia em que comemorava o quinto aniversário de sua demissão na Ford.

 

 

(Fonte: Veja, 10 de outubro de 1984 – Edição 840 – PERSONALIDADE – Pág: 86/87)

(Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI75171-16355,00- EMPRESAS / EMPRESÁRIOS – Por Época NEGÓCIOS Online – 29/05/2009)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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