Ele foi pintor e cientista, engenheiro e escritor. É um símbolo da razão, o gênio mais versátil da história
Leonardo da Vinci (Anchiano, Florença, Itália, em 15 de maio de 1452 – Ambroise, França, 2 de maio de 1519), mestre italiano da pintura renascentista. Considerado celebridade em seu próprio tempo, os renascentistas até hoje gozam de monumental prestígio entre o grande público. De fato heróis culturais do Ocidente. Apenas na renascença as artes visuais foram a ponta-de-lança da cultura. O mundo jamais assistiu a tamanha conjunção de habilidade manual com dotes do intelecto.
Foi ele o primeiro a dramatizar genialmente a cena, fazendo da passagem bíblica uma das imagens mais populares da era moderna.
Leonardo, que se definia como um “discípulo da ciência, aluno da experiênci”, tinha uma atração irresistível pela descoberta. Capaz de dissecar cadáveres, inventar máquinas de guerra e antecipar projetos de equipamentos como o helicóptero e o escafandro, ele não perdia a chance de testar novas técnicas.
Antes de serem uma característica de Leonardo, a experiência e o empenho nas mais vastas áreas do conhecimento constituem alguns dos traços primordiais dos protagonistas do renascimento. Só que Leonardo levou a inventividade a um grau de milagre. Não é muito provável que outro ser humano em qualquer época tenha desenvolvido tantas habilidades simultâneas no terreno artístico, na engenharia, na estratégia militar e em vários outros campos.
Em 1498, ao dar as últimas pinceladas no mural A Última Ceia, em Milão, Leonardo da Vinci não sabia o tamanho da dor de cabeça que arranjaria para os restauradores do século XX. Hoje reproduzida em salas e cozinhas dos quatro cantos do mundo, A Última Ceia original, pintada no refeitório de um convento em Milão, é apenas uma sombra pálida e esburacada da obra-prima que ficou pronta entre 1497 e 1498.
Antes de Leonardo, a A Última Ceia era um tema sacro burocrático. Leonardo criou um Cristo que, ao fazer a célebre acusação “um de vós me trairá”, provoca uma espécie de maremoto pictórico, com poses, gestos e expressões de espanto que percorrem como uma corrente elétrica os apóstolos. Pois o mesmíssimo Leonardo da Vinci, dono de um estilo único em que cores, linhas, luz e movimento se fundem à perfeição, cometeu um gravíssimo erro, usando a técnica do afresco sobre uma parede seca – a técnica leva esse nome justamente por exigir uma superfície úmida, “a fresco”, segundo a expressão em italiano.
As guerras também vitimaram as figuras do Cristo e seus apóstolos. Durante a invasão napoleônica, o convento de Santa Maria Delle Grazie, o endereço da Última Ceia, serviu como estábulo para as tropas francesas. E, na II Guerra Mundial, a parede com a Última Ceia escapou por pouco de um bombardeio que destruiu parcialmente o convento.
A renascença é uma época marcada por gigantes. Nunca houve arte tão popular como a renascentista.
(Fonte: Veja, 20 de maio de 1998 – ANO 31 – N° 20 – Edição 1547 – ARTE – Pág; 148/149)
Leonardo foi engenheiro, escritor, cientista, músico, arquiteto, escultor. Da Vinci descobriu o princípio do automóvel, do submarino, do helicóptero, das eclusas, dos tanques de guerra, dos pára-quedas.
Nos milhares de páginas que deixou escritas, Leonardo nunca questionou a existência de Deus como o grande arquiteto do universo – o ateísmo era quase uma impossibilidade conceitual para a época. A religião institucional, porém, ocupou um espaço pequeno em sua vida.
Com sua pouco decantada “inteligência social”, ele driblou poderosas interdições eclesiásticas e conseguiu, dissecar cadáveres para estudar anatomia. Leonardo da Vinci foi o maior dos polímatas, ou seja, atuava com brilho em diversas áreas do conhecimento.
(Fonte: Veja, 27 de outubro de 2004 – ANO 37 – Nº 43 – Edição 1 877 – ESPECIAL/ Por Jerônimo Teixeira/ Okky de Souza – Pág: 94/104)