Leszek Bilyk (1919-2006), diretor de redação de Quatro Rodas nos primórdios, de 1965 a 1967. Ex-gerente de competições da Vemag. Jorge Lettry, escreveu algumas linhas sobre Leszek Bilyk merecedoras de transcrição: Infelizemente, tudo na vida tem início, meio e fil. Foi assim com o destacado nobre polonês, não pode terminar a faculdade de direito devido ao seu país ter sido invadido pelas forças alemãs em 1° de setembro de 1939 e, ele ter sido convocado para o Exército como tenente.
Após a rendição, um mês depois, Bilyk foi enviado para um campo de concentração de oficiais. Quase em seguida mandaram-no a uma pequena fazenda na Alemanha para trabalhos forçados. Quando a região foi ocupada pelos britânicos, foi para a Inglaterra. Lá, casou-se com uma jovem inglesa que perdera o marido na guerra.
Pouco depois Bilyk e a esposa chegaram ao Brasil, para trabalhar na pedreira de um cunhado em São Paulo. Já separado, conheceu uma jovem de Niterói (RJ), Maria José Porto. Casaram-se e tiveram três filhos. Em meados dos anos 1950, a Vemag importava os Studebaker, mas a fábrica estava em sérias dificuldades e, em meio à indefinição, a Auto Union alemã ofereceu à Vemag parceria para a fabricação dos DKW. Um contrato foi assinado, iniciando-se a fabricação do DKW no Brasil, no fim de 1956.
Um diretor da Vemag, também polonês, convidou Bilyk para ingressar na empresa na área de vendas. Naquele momento, iniciou-se o relacionamento e, logo revelou-se a todos seu caráter e, sobretudo, sua capacidade profissional. Bilyk tinha diversas qualidades, como ser poliglota e muito hábil no trato pessoal; grande incentivador da equipe de competição (estava sempre presente nas corridas); e era paciente com os superiores, que amiúde cometiam erros inadmissíveis que ele sempre resolvia de forma brilhante. Seu real valor, entretanto, jamais foi reconhecido pelo alto escalão.
Sua paciência estava se esgotando quando foi convidado para dirigir Quatro Rodas. É nesse período, num cargo de chefia absoluto, que ele realiza seu maior salto profissional. Numa revista que ainda buscava a fórmula para crescimento, Bilyk conseguiu alcançar padrão internacional. A transformação da revista era admirável. Evoluiu em conteúdo e convidou inúmeras personalidades estrangeiras para palestras. Ajudou a Vemag a obter o recorde de velocidade do Carcará, importando moderno equipamento de cronometragem, sem o qual a tentativa de recorde não poderia ser efetuada dentro dos padrões internacionais.
Graças à atenção dada por Bilyk a Karl Ludvigsen, editor da revista americana Automobile Quarterly, este publicou reportagem sobre o Puma VW, o que lançou o carro no mundo. Parte da extraordinária venda de 23 500 veículos Puma, sobretudo sua exportação para 55 países, é creditada a Bilyk. Foi dele também a iniciativa de convidar o piloto italiano Piero Taruffi para ministrar um curso para pilotos brasileiros e promover o I Concurso de Veículos Nacionais Fora-de-Série.
O trabalho de Bilyk na revista levou-o para a Europa, para estruturar a comercialização internacional de publicidade para as revistas da editora. Bilyk e sua família se mudaram para Bruxelas, até decidir enfrentar a vida por conta própria, mudando-se para Londres. Depois retornou ao Brasil, abrindo uma empresa, a Brasnidea, na qual permaneceu até terminar serenamente seus dias, no último dia de Natal. Numa homenagem organizada por amigos e admiradores no Clube Polonês, em São Paulo, ornamentaram seu caixão com seu quepe de militar e sua espada, ficava a nítida sensação de todos os presentes de que ali se encontrava um verdadeiro nobre, um homem que jamais poderá ser esquecido.”
(Fonte: Quatro Rodas – Edição 562 – ANO 47 – Fevereiro 2007 – Um nobre entre nós/ Por Bob Sharp/jornalista especializado em automóveis – Pág; 110)