Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro

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Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro

Histórico

O Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro é criado pela Sociedade Propagadora das Belas Artes em 1856, por iniciativa do arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva (1831 – 1911), com o objetivo de difundir o ensino das belas-artes aplicadas aos ofícios e indústrias, que ele julga primordial para o desenvolvimento de uma sociedade industrial. Tal concepção encontra apoio em John Ruskin (1819 – 1900) e William Morris (1834 – 1896), líderes do Arts and Crafts, que defendem a íntima articulação entre indústria e criação artística. A filosofia norteadora do Liceu está amparada na idéia de que a arte é uma via fundamental para o aprimoramento das cidades. Os edifícios – desde os monumentais e os governamentais até os pequenos estabelecimentos comerciais e residências – devem ser construídos de acordo com padrões estéticos e artísticos.

O Liceu – escola noturna, gratuita e filantrópica – é mantido pela Sociedade Propagadora das Belas Artes, fundada em 1856, no Rio de Janeiro, que tem como finalidade garantir a educação fundamental e o ensino profissionalizante para a população operária, num contexto de ampla campanha de educação de adultos, no qual Bethencourt da Silva é figura de destaque. Segundo a ata oficial de criação da Sociedade, o Liceu é destinado aos homens livres nacionais e estrangeiros, visando à formação de trabalhadores para a construção civil e de operários em geral, e deve ainda editar uma revista, organizar uma biblioteca e realizar sessões públicas, com exposições de trabalhos dos alunos.

Arquiteto de obras públicas, além de professor, escritor e jornalista, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, aluno de Grandjean de Montigny (1776 – 1850) na Academia Imperial de Belas Artes – Aiba, é responsável por várias obras na cidade do Rio de Janeiro, entre as quais os pórticos da Santa Casa de Misericórdia e do cemitério São João Batista; o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista e o antigo edifício da Bolsa de Comércio, na rua Primeiro de Março (hoje sede do Centro Cultural do Banco do Brasil – CCBB). Catedrático de desenho na Escola Central, depois Politécnica, ele institui o desenho como a espinha dorsal do ensino do Liceu de Artes e Ofícios. Aos cursos de desenho de figuras e de ornatos, somam-se os de arquitetura naval, português, aritmética, álgebra, geometria, francês, inglês, música, geografia, estatuária e escultura. Completam a grade curricular aulas de caligrafia, história das artes e ofícios, estética, mecânica aplicada, física, química mineral e orgânica.

O corpo docente, inicialmente de 28 professores, não recebe remuneração e é composto de pessoas importantes da época e beneméritos que contribuem para a manutenção do ensino. As fontes registram 279.130 alunos matriculados entre 1858 e 1954. As atividades do Liceu são inauguradas em salas cedidas no Consistório da Irmandade do Santíssimo Sacramento da antiga Sé, em 9 de janeiro de 1858. Em fins desse ano a Irmandade requisita o espaço, e as aulas passam à antiga Igreja São Joaquim (de 1859 a 1877). Os cursos desenvolvem-se regularmente entre 1860 e 1863, quando as atividades são interrompidas e retomadas em fins de 1865, por escassez de recursos. Além de auxílios públicos, o Liceu conta com doações de beneméritos, em forma de dinheiro, obras de artes, livros, materiais e maquinário. Em 1878 a escola é transferida para o edifício onde funcionava até então a Secretaria do império, na rua da Guarda Velha (depois avenida 13 de Maio). A insuficiência de recursos retarda a abertura de oficinas, o que só acontece em 1889.

As mulheres, por sua vez, têm acesso aos cursos do Liceu em 11 de outubro de 1881. No ano seguinte, é inaugurado o curso comercial, que funciona gratuitamente até 1958, o único curso regular na área até a criação da Academia de Comércio do Rio de Janeiro, em 1902. Passam pelo Liceu de Artes e Ofícios alunos como Rodolfo Amoedo (1857 – 1941), Eliseu Visconti (1866 – 1944), Adalberto Matos, e professores como Francisco Antonio Néri (s.d. – 1866), Victor Meirelles (1832 – 1903), José Maria de Medeiros (1849 – 1925), Oscar Pereira da Silva (1867 – 1939) e Carlos Oswald (1882 – 1971) – este responsável pelo ateliê de gravura a partir de 1914 – entre muitos outros.

Além das aulas regulares, o Liceu realiza várias exposições com trabalhos de alunos. A primeira delas é aberta ao público em 18 de março de 1882, com a presença do imperador dom Pedro II (1825 – 1891), que não apenas comparece às diversas solenidades do Liceu como condecora parte dos professores. A Exposição de Belas Artes no Liceu é a maior exposição realizada fora da Aiba. Entre os expositores estão Victor Meirelles, Angelo Agostini (1843 – 1910), Belmiro de Almeida (1858 – 1935), Decio Villares (1851 – 1931), José Maria Medeiros e Georg Grimm (1846 – 1887). O Liceu realiza, em 1916, o 1º Salão dos Humoristas. Em 1919, Carlos Oswald promove a primeira exposição com seus alunos, que é também a primeira mostra de gravura em metal no Rio de Janeiro.

Com a morte do fundador, em 1911, assume o Liceu o doutor Bethencourt Filho, até 1928, ano de seu falecimento. Nessa gestão são criadas as oficinas gráficas, de douração, encadernação e o ateliê de água-forte. Funcionam, a partir de então, oficinas de gravura, cerâmica e xilogravura (os ateliês do Liceu de Artes e Ofícios criam diversos trabalhos para os Palácios do Catete e do Itamaraty). Progressivamente, a escola incorpora novos terrenos por meio de doações e passa a ocupar área de cinco mil metros na avenida Central (hoje Rio Branco), em quadrilátero formado pela avenida e pelas ruas Santo Antonio, 13 de Maio e Barão de São Gonçalo. A ala do edifício na avenida Rio Branco, 174, é inaugurada em 1916.

O Liceu de Artes e Ofícios continua em funcionamento hoje na rua Frederico Silva, 86, praça Onze. No mesmo local, é criada a Faculdade Bethencourt da Silva – Fabes, com os cursos de licenciatura em técnicas de comércio e serviços, em 1981, também mantida pela Sociedade Propagadora de Belas Artes.

(Fonte: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia – 06/10/2006)
(Fonte: Veja, 24 de fevereiro de 1971 – Edição n° 129 – DATAS – Pág; 54)
(Fonte: Veja, 14 de novembro de 1979 – Edição 574 – ARTE – Pág: 173/174)

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