Suas obras são marcadas pela síntese entre erudito e popular
Lorenzato (Belo Horizonte, 1° de janeiro de 1900 – Belo Horizonte, 1990), pintor e escultor, artista plástico mineiro de obras pictóricas, criadas entre as décadas de 1950 e 90, comprova-se o quanto tratou-se de “preconceito” chamar o artista de naïf ou primitivo.
Casarios, paisagens, árvores frutíferas; composições sempre figurativas porque “ele pinta o que vê”, referindo-se àquela pureza da pintura de Lorenzato.
Não se tratam de criações intuitivas, mas realizações de um artista com domínio de técnicas, do uso da cor e da luz. De família italiana, ele viveu na Europa entre os anos 1920 e 1948 e teve formação na Real Academia de Vicenza, além de percorrer museus do Velho Continente.
Para Lorenzato, o pintor renascentista Rafael Sanzio era “muito lambido”. A definição foi feita, entre outras coisas, pela própria experiência, na década de 1930, de restaurar um afresco do italiano na Villa Farnesina, em Roma.
Lorenzato dizia preferir a obra de outro grande da época, Masaccio, lia o histórico Vida dos Artistas, de Giorgio Vasari (1511-1574), falava cinco línguas, mas viveu por décadas na periferia de Belo Horizonte, sem alarde, com pouco dinheiro.
Trabalhou, por muito tempo, como pintor de parede e pedreiro até aposentar-se, forçosamente, aos 51 anos, devido a um acidente. Mais ainda, desde jovem e até morrer, dedicou-se a criar sua arte, à escultura e ao exercício de uma “pintura pura”.
Mas, ao mesmo tempo, uma leveza floresce em suas composições de “apelo perceptivo e não-intelectual”, feitas do “olhar sereno” para a natureza.
Um momento fascinante, uma sequência de vistas de morros e céus de amanheceres e entardeceres (“paixões de Lorenzato”) nas quais o pintor “reduz a figuração” mas não chega à abstração. A terra está em primeiro plano (e numa das pinturas, ela está impregnada de formas de sombras de árvores). Depois vêm as áreas de azul ou de vermelho, do firmamento.
Muitas de suas pinturas pertencem a coleções mineiras e uma das poucas instituições com suas peças é o Museu da Pampulha, de Belo Horizonte.
Amadeu Luciano Lorenzato era um “marginal” das artes, não se prendeu a “ismos”, prezava a liberdade de fazer, mas “estudou bem”.
E trouxe frescor para a pintura, até mesmo por questão do ofício de artesão da vida simples.
Lorenzato usava materiais advindos do trabalho na construção civil como cal, cimento e massa de colar vitrôs em suas telas (produzidas por ele próprio com madeira e tecido). O mineiro misturava também cera à tinta de seus quadros (inspirado por técnica de Leonardo da Vinci); desenvolvia, às vezes, a têmpera. Mas a experiência de pedreiro fez Lorenzato criar uma marca única em sua obra, o ato de “pentear” suas composições. “Só ele fez o pente, como o pintor de parede faz na imitação de madeira e mármore”.
A técnica “como Van Gogh usava o pincel” confere “vibração” às suas obras, é “vetor de respiração” no gesto pictórico.
(Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/arte-e-lazer – CULTURA – Notícias > Cultura/ Por Camila Molina – O Estado de S. Paulo – 10 de março de 2014)