O libretista libertino
Da Ponte: verve
Lorenzo Da Ponte (Treviso, na Itália, 10 de março de 1749 – Nova York, 17 de agosto de 1838), libretista italiano, autor das melhores óperas de Mozart. Ele escrevia óperas como as óperas devem ser: inverossímeis, cheias de situações mirabolantes em que o dramaturgo exercitava sua inigualável criatividade. Em que a vivacidade e a presteza dos tempos são os requisitos fundamentais da expressão musical.
Um bom exemplo é a “Ária do catálogo”, de Don Giovanni. Da Ponte teve a ideia brilhante de criar uma lista com a contabilidade das mulheres que já haviam passado pela alcova do personagem (um total de 2 064) e forneceu aí o mote para uma das árias imortais de Mozart.
Sua vida foi quase tão movimentada quanto um bom enredo de ópera. Nasceu em 10 de março de 1749 em Treviso, na Itália. Foi expulso de Veneza aos 30 anos, depois de publicar alguns de seus poemas picantes. Lorenzo Da Ponte fez questão de escrever uma autobiografia. Dada a imaginação fértil do autor, é provável que metade daquilo que aparece na história tenha sido deliberadamente inventada. Descreve-se como alvo de muita intriga, ciúme e inimizade.
Jura que foi amigo do lendário conquistador Giacomo Casanova (1725-1798), que chegou a dever-lhe algum dinheiro. Para saldar a dívida, conta Da Ponte, Casanova teria seduzido uma sexagenária de posses. “Eu não seria capaz de fazer o mesmo, pois tenho bom gosto para mulheres”, zomba, com sua verve insuperável, o libretista libertino.
(Fonte: Veja, 14 de fevereiro de 1996 – ANO 29 – N° 7 – Edição 1431 – MÚSICA/ Por Mario Henrique Simonsen – Pág; 93)