A eminência parda do sindicalismo argentino
Lorenzo Miguel (Buenos Aires, 27 de março de 1927 – Buenos Aires, 29 de dezembro de 2002), dirigente sindical argentino, conhecido como “El Loro”.
Ele foi um dos principais líderes do sindicalismo argentino nas últimas três décadas.
“El Loro” (O Papagaio), como era conhecido o líder sindical Lorenzo Miguel, foi a eminência parda do sindicalismo argentino ao longo das últimas três décadas e meia. Taciturno e arisco à imprensa, esteve no comando da União Operária Metalúrgica (UOM) de 1969 a 2002.
Miguel colocou no comando da poderosa Confederação Geral do Trabalho (CGT) quase todos os secretários-gerais que por ali passaram dos anos 70 até a atualidade. Da mesma forma como indicava quem estaria no comando da CGT, Miguel também os destronava. No entanto, nunca ocupou a secretaria-geral da organização.
A carreira de Miguel começou a deslanchar no início dos anos 60, quando entrou na estrutura sindical da UOM, na época comandada pelo histórico Augusto Vandor (1923-1969), visto como um líder sindical que representava uma ameaça ao chefe do partido Justicialista (Peronista), o ex-presidente e general Juan Domingo Perón, que na época estava exilado na Espanha. Vandor, que havia permanecido no país, conseguia cada vez mais poder dentro do partido, onde falava-se de um “peronismo sem Perón”.
Mas, em 1969, Vandor foi misteriosamente assassinado, e Miguel, amigo de Perón, tornou-se no comandante da UOM, que na época aglutinava meio milhão de filiados. Miguel também passou a controlar com mão-de-ferro dezenas de sindicatos de outros setores, (conhecido como “As 62 Organizações”), que tornaram a vida impossível para qualquer governo que não fosse peronista, fosse civil ou militar.
Posicionado dentro da “direita” peronista, confrontou-se nos anos 70 com a organização, também peronista, embora de esquerda, “Montoneros”, que criticavam a “burocracia sindical” existente.
Durante parte da última Ditadura Militar (1976-83) esteve preso, mas posteriormente voltou a seu cargo. Em 1983 foi acusado de ter realizado um pacto com o militares, fato que sempre negou. Durante a presidência de Raúl Alfonsín (1983-89), Miguel foi um dos organizadores das treze greves gerais que esse governo sofreu.
Em 1989, apoiou Carlos Menem à presidência da República. Mas ao longo do governo Menem (1989-99), com a abertura econômica, os sindicatos começaram a perder o seu poder. As indústrias fechavam, o número de operários reduzia-se drasticamente, e o Congresso Nacional votava constantes restrições aos direitos dos trabalhadores.
Miguel começou a perder poder, junto com todo o sindicalismo. A UOM passou de meio milhão de filiados a apenas 150 mil. Seu sindicato, outrora rico, atualmente possui dívidas calculadas entre 100 e 200 milhões de pesos (de US$ 29,4 milhões a US$ 58,8 milhões). Segundo Saúl Ubaldini, um “afilhado” político seu e ex-secretário-geral da CGT, Miguel foi um líder “indiscutível”.
Lorenzo Miguel faleceu em 29 de dezembro de 2002, aos 75 anos, de insuficiência renal, em Buenos Aires.
(Fonte: Veja, 8 de janeiro de 2003 – Ano 36 – Nº 1 – Edição 1784 – DATAS – Pág: 87)
(Fonte: http://www.estadao.com.br/arquivo/economia/2002/not20021229p43410 – CIDADES – GERAL – 29 de Dezembro de 2002)