Foi a primeira mulher a entrar, no Brasil, para uma sociedade literária, bem como a primeira mulher que subiu à tribuna para expor suas ideias, entre as quais a da emancipação da mulher.
Combativa e pioneira
Luciana de Abreu lutou pela emancipação da mulher e pelo voto feminino nos anos 1870
Luciana de Abreu (Porto Alegre, 11 de julho de 1847 Porto Alegre, 13 de junho de 1880), escritora, educadora e militante pelos direitos da mulher, numa época em que mulheres não votavam, o conceito de “berço” ainda era levado a sério, e Porto Alegre ainda era uma cidade provinciana e algo isolada.
Para os incautos: Luciana de Abreu é uma referência a uma personagem histórica de grande pioneirismo, embora pouco conhecida.
Essa mulher que, em apenas 33 anos, passou de órfã abandonada por mãe desconhecida a integrante ativa de uma sociedade literária formada por jovens progressistas.
Luciana de Abreu nasceu em 1847 e foi abandonada na “roda dos expostos” da Santa Casa numa noite de julho – a roda era uma entrada na parede do prédio onde havia um mecanismo giratório de madeira, semelhante a um barril, para que fossem depositadas as crianças e empurradas para o lado de dentro dos muros da instituição.
Adotada por um casal de posses modestas, Luciana de Abreu estudou, formou-se professora, casou e teve dois filhos, ou seja, até aí nada diferente do roteiro básico de qualquer mulher do século 19. A diferença é que, simultaneamente a isso, ela desenvolveu uma obra combativa, a favor da emancipação da mulher, do voto feminino e da admissão de mulheres nas escolas de Curso Superior.
– Eram posições muito progressistas, apoiadas pelo ambiente favorável que se formou em torno dela pela sua ligação com o Partenon Literário.
Levada pelo escritor e romancista José Antônio do Valle, o futuro Caldre e Fião, Luciana integrou-se ao grupo do Partenon Literário, jovens literatos progressistas que, ao mesmo tempo em que dialogavam sobre poesia e literatura em saraus, também publicavam panfletos e artigos pró abolicionismo e sufrágio feminino.
Fala-se muito das sufragistas britânicas e sua luta pelo direito das mulheres ao voto, no século 19, como precursoras do feminismo. Um dos marcos do movimento costuma ser apontado como a fundação em Londres da União Nacional pelo Sufrágio Feminino, em 1897, capitaneada pela ativista Millicent Fawcetto. É bom lembrar que Londres era a maior cidade da Europa e coração de um império econômico. O que só torna mais digno de nota o fato de Luciana de Abreu defender a mesma causa na década de 1870 em uma Porto Alegre que recém passava dos 20 mil habitantes e que, apesar de Capital de fato, talvez ficasse atrás de Pelotas em termos de sofisticação e de contato com o, à época interminável, mundo lá fora.
(Fonte: Zero Hora – LIVRO/ Por Carlos André Moreira – DONNA – 18 de fevereiro de 2007 – Pág; 3)