Genial como sempre, mas mais humano
Ludwig van Beethoven (Bonn, Alemanha, 16 de dezembro de 1770 – Viena, Áustria, 26 de março de 1827), músico e compositor alemão, reconhecido como o grande elemento de transição entre o Classicismo e o Romantismo.
Um dos mistérios mais estupendos da história da música é que o alemão Beethoven tenha composto a Nona Sinfonia, de força e complexidade indescritíveis, quando já estava surdo como uma porta. Como ele nunca foi um grande missivista e a essa altura vivia também como um recluso, sem um círculo de confidentes, faltam subsídios para entender o que se passava no íntimo de Beethoven enquanto ele compunha sua obra monumental, e como se travou sua guerra entre som e silêncio.
A busca artística do compositor em sua crença de que o sagrado e o profano eram esferas antagônicas, mas não opostas, do espírito humano , que, se non è vera, è ben trovata.
O temperamento de Beethoven é medonho, seus aposentos são imundos e seu amor opressivo reduziu seu sobrinho, Karl, a uma figura patética.
A história fascina mais ainda do que julgava possível com quanto de genialidade e inspiração esse homem grosseiro é capaz de conter.
Acredita-se que Beethoven não tenha sido sempre irascível como o foi em seus últimos anos, quando enfrentou a tortura da surdez e as exigências sobre-humanas que impôs a si mesmo e a sua obra. Consta que, na juventude, foi expansivo e generoso para com músicos e amigos.
Beethoven era uma soma de tudo o que ele possa ter sido no decorrer da vida um homem temperamental, rude e egoísta, mas também sensual, vulnerável e até divertido.
Acima de tudo, ele localiza nessa bagunça espiritual a origem da contribuição indestrutível de Beethoven: a convicção de que a beleza passa longe do bonito, do organizado e do agradável, como se postulava então.
A beleza está no tumulto, na mistura do vulgar e do sublime de que os homens são feitos. Ao suceder em dar forma a essa convicção, Beethoven quebrou as amarras do classicismo e libertou a arte.
CONQUISTAS HERÓICAS
Como Beethoven mudou a música
Magistral em quase todos os formatos de composição, Beethoven fez a transição do classicismo para o romantismo, mudando a percepção do que era o belo na música.
Suas sinfonias (em especial a Terceira, a Quinta e a Nona) transformaram esse tipo de composição em verdadeiras obras de engenharia musical. A orquestra passou a trabalhar como se fosse ela própria um instrumento.
No período clássico, as sinfonias duravam em média quinze minutos, e cada compositor as produzia às dezenas. As de Beethoven duravam pelo menos quatro vezes mais e exigiam um trabalho hercúleo de estruturação tonal e instrumental.
(Fonte: Veja, 20 de dezembro de 2006 – ANO 39 – N° 50 – Edição 1987 – CINEMA/ Por Isabela Boscov
– Pág; 192/193)