Lyndon Baines Johnson, ex-presidente dos Estados Unidos

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Lyndon Johnson (Stonewall, Texas, 27 de agosto de 1908 — Stonewall, Texas, 22 de janeiro de 1973), ex-presidente dos Estados Unidos, seu mandato foi entre 22 de novembro de 1963 a 20 de janeiro de 1969.

Vaidoso, autoritário, grosseiro no trato com os subordinados, os defeitos do 36.º presidente dos Estados Unidos realmente se haviam acentuado à medida que se acumulavam as frustrações com a guerra que parecia não ter fim. E a sua maior virtude – a energia inesgotável – parecia servir apenas para arrastar o país mais depressa para o sorvedouro da crise nacional. Mas ele não era simplesmente pouco simpático e não lhe faltavam apenas o sorriso atraente e a oratória eloquente de John Kennedy. Acima de tudo, porque fizera da guerra a “sua” guerra e porque não soubera – como seu sucessor o saberia – mobilizar em sua defesa as forças então insuspeitadas da maioria silenciosa do povo americano, ele se transformara no pastor cego de um rebanho em fuga desordenada.

À esquerda de sua mesa, sa Sala Oval da Casa Branca, uma mesa abrigava três telas de televisão. Todos os dias eles lhe mostravam coisas que ele não queria ver. As cenas de sangue e morte no longínquo Vietnam se sucediam às vinhetas da realidade americana na década de 60 – guetos em chamas, universidades em ebulição, o Congresso em revolta. Jovens morrendo na Indochina e jovens gritando nos Estados Unidos (“Êi, êi, LBJ, quantos meninos você matou hoje?”)

“Por que não gostam de mim?”, perguntava Lyndon Baines Johnson. À sua volta, poucos teriam coragem de responder, mas Dean Acheson, o velho ex-secretário de Estado, já não tinha ambições a lhe travar a língua: “Porque, presidente, o senhor é pouco simpático”. Era verdade, mas era também uma resposta incompleta.

Assim, como um personagem de tragédia, Lyndon Johnson viveu os últimos anos de sua vida pública. No dia 22 de janeiro, sozinho em seu rancho no Texas, ele chamou pelo telefone um dos agentes do serviço secreto que o guardavam. O agente correu ao seu quarto, mas já o encontrou morto. Sofrera o quarto ataque do coração, aos 64 anos. Entre um dia e outro, como se a história fizesse questão de terminar a tragédia com uma ponta de ironia, terminaram as últimas negociações para a paz.

Nos primeiros meses de 1965, poucos suspeitavam de que o fim fosse esse. Johnson estava apenas começando o que pensava ser a justa consagração de uma longa carreira política. Ele chegara a Washington trinta anos antes, como secretário de um deputado texano. Muito alto, na época muito magro, a glote saliente no pescoço comprido sob um queixo pontudo, era desengonçado apenas fisicamente. Em pouco tempo tinha amigos em toda parte, com os quais praticava com precoce desembaraço a arte de fazer e obter favores políticos. Nomeado para um cargo federal no Texas, de lá voltou já como congressista. Em 1948 era senador e em 1964, aos 46 anos, sempre no Partido Democrata, passava a ser líder da maioria, o mais moço da história do Congresso.

Enquanto Lady Bird * construía a fortuna da família administrando uma rede regional de rádio e TV, Lyndon consolidava sua reputação de manobrador político de habilidade insuperável e de um verdadeiro dínamo humano. Todos esses talentos e toda essa energia, no entanto, não o haviam levado à Casa Branca. Sem rivais no Congresso, cometia o erro de confundir o Capitólio com a nação. Numa ilusão que mais tarde se revelaria funesta, imaginava que, se a maioria dos senadores era a favor de uma determinada posição, a maioria do povo também o era; se tinha no bolso o senador de um Estado, acreditava controlar os eleitores daquele Estado. E, se John Kennedy era uma presença quase apagada do Senado, também não seria um adversário perigoso na disputa da escolha do candidato democrata à presidência em 1960.

Humilhado pelo jovem herdeiro de Boston na convenção do partido, surpreendentemente Johnson aceitou ser seu companheiro de chapa. Uma curiosa dupla: o menino do leste – com a vida encantada do filho de milionário, herói de guerra, amigo de poetas e professores, um intelectual por méritos próprios – e o descendente da arruinada aristocracia rural do Texas – detentor de um modesto diploma de professor secundário, político e apenas político. A união dos contrastes ajuda a ganhar eleições mas não contribui para uma convivência harmoniosa após a vitória – e Johnson passou três anos no limbo da vice-presidência.

Mas houve o assassínio em Dallas, e a estrela do texano voltou a brilhar. Logo ninguém lhe negava o mérito de ter devolvido a tranquilidade e a confiança ao país, nos meses traumáticos que se seguiram à morte de Kennedy. Ele não falava bonito como o antecessor – mas, em poucos meses de governo, conseguiu o que o outro em três anos não obtivera: extrair do Congresso a mais avançada lei de direitos civis de todos os tempos. O sulista Lyndon Johnson, trocando um sorridente aperto de mão com Martin Luther King – o que lhe faltava para ser, como ele dizia, o presidente de todos os americanos?

As eleições realizadas em 1964, aparentemente, deram a resposta: muito pouco. Com 61% dos votos populares, sua vitória sobre o republicano Barry Goldwater era a mais arrasadora do século, e parecia sem obstáculos o caminho para a Grande Sociedade que prometera. Por um mágico momento, ele era o que mais desejava ser: o líder de seu povo. E contava os comícios aos amigos, mostrando-lhes as fotos: “Olhem só para eles. Aqueles negros se agarravam às minhas mãos como se fosse Jesus andando entre eles”.

Mas já então o Vietnam existia, com os governos caindo em Saigon como dominós. No entanto, exceto pela promessa de que não mandaria “rapazes americanos lutar no lugar de rapazes asiáticos”, em nenhum momento ele fez da guerra um tema da campanha. Era um assunto menor e, acima de tudo, um problema de política externa – e Johnson entendia de senadores, não de estrangeiros. Nos primeiros meses de governo, protestara até mesmo contra a presença na Casa Branca de embaixadores que lhe vinham apresentar credenciais: “Quem é essa gente? O Rusk (Dean Rusk, secretário de Estado) é que tem de falar com eles; são seus clientes, não meus”.

E a partir da posse, em janeiro de 1965, começou a edificar a Grande Sociedade: em menos de seis meses, fez o Congresso aprovar um bloco de 86 medidas administrativas: tratamento médico gratuito para os idosos, ajuda maciça para escolas primárias e secundárias, elevação dos salários mínimos, proteção contra a pobreza. Mas o Vietnam não poderia desaparecer por um ato de vontade. A princípio empurrado pelo simples desenvolvimento espontâneo de uma política que começara muito antes dele, mas pouco a pouco envolvido e atingido em seus brios pela resistência do Vietnam do Norte – “Essa potência de quarta classe” -, Johnson partiu para a escalada. Em fevereiro de 1965, os primeiros soldados americanos chegaram ao Vietnam emquanto se iniciavam os bombardeios contra Hanói; três anos depois, eram mais de 500 000. Em 1968; mais de 31 000 haviam morrido e os planos da Grande Sociedade haviam sido sepultados pelos custos da guerra: mais de 70 bilhões de dólares. Internamente, a situação se agravara já a partir do segundo semestre de 1965. No antes dócil Congresso, a oposição, centralizada na Comissão de Relações Exteriores do Senado, tornara-se cada vez mais numerosa e severa.

As manifestações populares – com estudantes incendiando centros de recrutamento militar e negros arrasando seus próprios guetos – criavam no país umclima de cerco e de desespero. E Johnson, por sua vez, cercado e desesperado, refugiava-se na exasperação misturada a um vazio exercício de otimismo que seria talvez um de seus maiores pecados, minando a confiança da opinião pública na Casa Branca e ao mesmo tempo abalando a própria instituição da presidência.

Assim, seus cinco anos no poder, iniciados num assassínio, bafejados por uma curta euforia, mas principalmente marcados por uma crise superior às suas forças e à sua própria compreensão, fizeram dele mais uma vítima da guerra que tentara vencer a qualquer custo. E foi como vítima, o rosto cansado, marcado de rugas recentes, que Lyndon Johnson surgiu na televisão em 31 de março de 1968, para anunciar que não seria candidato à reeleição. Na renúncia do político, nascia, tardiamente, o estadista: poucos dias depois, o Vietnam do Norte concordava em iniciar negociações de paz. Lyndon Johnson morreu em 22 de janeiro de 1973, aos 64 anos, de um ataque cardíaco, em seu rancho no Texas.

* Claudia Taylor (Lady Bird é um apelido de infância), com quem Johnson se casou em 1954; tiveram duas filhas, Linda e Lucy.

(Fonte: Veja, 31 de janeiro de 1973 – Edição n° 230 – DATAS – Pág; 13 – Política; 56/57)

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