Machado de Assis, o maior expoente do realismo social no Brasil, foi apontado em vida, como o maior escritor do país

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O autor ficou conhecido por sua inteligência, ironia e crítica à sociedade burguesa da época

 

Machado de Assis aos 57 anos (Foto: Divulgação)

Sua fama adquiriu o lustro brônzeo do monumentalismo oficial

Um dos nomes mais importantes da literatura nacional, que moldou o movimento realista no Brasil, Machado escreveu obras em praticamente todos os gêneros literários, sendo mais conhecido por seus romances e suas crônicas.

Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro, 21 de junho de 1839 – Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908), foi um gênio autodidata da literatura brasileira, foi apontado em vida, como o maior escritor do país, autor de clássicos como “Dom Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Um mestre que não transmitiu a nenhum outro escritor o legado de sua arte estupenda.

Foi um dos principais escritores do Brasil, um dos precursores do movimento literário realista.

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839, numa família humilde. Era filho de dois ex-escravos mulatos alforriados: o pintor de paredes Francisco José de Assis e a lavadeira Maria Leopoldina Machado de Assis. Essa situação marcou toda a sua vida, já que a escravidão só seria abolida no Brasil 49 anos depois do seu nascimento. Ficou órfão quando era muito pequeno e foi criado por sua madrasta, a também mulata Maria Inês, que lhe apresentou e ensinou as primeiras letras.

Machado de Assis era neto de escravos libertos e nasceu em uma família simples no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 1839. Por ser negro, o autor enfrentou muitos obstáculos, incluindo até mesmo o acesso limitado à educação formal.

Machado de Assis enfrentou muitos desafios por ser um mestiço no século XIX, incluindo o acesso limitado à educação formal. Passou pela escola pública, mas sua formação na verdade foi autodidata, já que nunca foi à universidade. Por outro lado, uma grande ambição intelectual o acompanhou por toda a vida. Em um de seus primeiros trabalhos, na padaria de Madame Guillot, aprendeu a ler e a traduzir francês, e quando já estava perto de completar 70 anos quis começar a estudar grego.

O trabalho como tipógrafo permitiu – que Machado experimentasse a escrita de poemas, romances e peças de teatro.

Com apenas 16 anos, Machado de Assis entra em contato com o grupo de escritores que se reunia numa livraria central do Rio e publica seu primeiro poema, Um Anjo. A partir desse momento, sua atividade intelectual será contínua até sua morte, em 1908.

Também trabalha como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional. Aos 19 anos, se torna revisor de provas na editora de Paula Brito, e um ano depois no Correio Mercantil. Seu novo ofício o introduz plenamente no ambiente jornalístico e literário.

Colabora nas publicações Marmota, Paraíba, Espelho – efêmera revista que funda com Eleuterio de Sousa em 1858 – e no próprio Correio Mercantil. Sua primeira colaboração em prosa é uma tradução de Lamartine, e seu primeiro estudo crítico importante, O Passado, o Presente e o Futuro da Literatura, reflete sobre a formação de uma literatura nacional.

Em 1860, aos 21 anos, Machado de Assis começa a colaborar com o Jornal do Rio, onde será o encarregado de escrever sobre os debates no Senado. Obrigado a refletir sobre a política e a vida social, a experiência representará um grande aprendizado para ele, que a essa altura dá sinais de ser um excelente jornalista que começa a forjar esse modo inconfundível de narrar, ao mesmo tempo tão simples e profundo, marcado por uma inteligente ironia.

Sua extensa obra literária é composta por nove romances e peças teatrais, 200 contos, cinco coleções de poemas e sonetos e mais de 600 crônicas. Embora não alcance grande reconhecimento como dramaturgo, o obtém como poeta, com a coletânea Crisálidas (1864), seu primeiro livro, ainda associado ao romantismo.

Dois acontecimentos cruciais na biografia de Machado de Assis marcarão sua vida: seu ingresso na Administração do Estado – primeiro em 1867, como funcionário do Diário Oficial, e depois, em 1873, na Secretaria de Agricultura – e seu casamento com Carolina Xavier de Novais, em 1869.

Ascendeu na carreira de funcionário público até se aposentar como diretor do Departamento de Comércio, podendo a partir de então se dedicar integralmente à literatura, para o que contribuiu também a sua esposa, ao lhe proporcionar estabilidade emocional e estimulá-lo a conhecer os autores ingleses que tanto o influenciaram em suas obras seguintes.

Em 1870, é lançado o segundo volume de poemas Machado, Falenas, mas, embora tivesse então apenas 31 anos, essa década se destacará por sua maturidade e desenvolvimento narrativo. Contos Fluminenses (1870) e Histórias da Meia-Noite (1873), lançados por aquela que viria a ser a sua principal editora, a Garnier, reúnem contos publicados anteriormente no Jornal das Famílias. Ressurreição (1872), seu primeiro romance, é também uma obra convencional, embora já se detecte nele uma das principais características de Machado como romancista: a prospecção psicológica.

Após passar por uma grave crise de saúde entre outubro de 1878 e março de 1879, escreve Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), que trata das relações sociais no Brasil. Com esse romance, narrado pelo defunto Brás Cubas, Machado abandona a fórmula do realismo europeu e, com isso, o predomínio da racionalidade convencional. Nesse romance, ele inaugura a sua fase de maturidade que o eleva à altura dos grandes mestres do realismo do século XIX. É considerado o introdutor do estilo realista no Brasil.

Esses anos marcam também o início de sua inteligente percepção da história brasileira, que revela uma sociedade oposta àquela de uma pátria romântica, com referências à organização servil e familiar e aos desafios da abolição da escravatura e da proclamação da República.

Tão brilhantes como seus romances foram seus contos desta etapa, que fazem de Machado um mestre do gênero, talvez o primeiro grande contista latino-americano. Papéis Avulsos (1882), que inclui O Alienista, Histórias Sem Data(1884), Várias Histórias (1896) e Páginas Recolhidas (1899) são testemunhos disso.

Quase todas essas obras-primas da narrativa brasileira e universal foram escritas em meio à vida plácida e ordenada de funcionário público, e algumas após a sua aposentadoria compulsória, em 1897. Àquela altura, já era considerado havia algum tempo o melhor escritor brasileiro. Sua aclamação como presidente da Academia Brasileira de Letras, da qual foi membro fundador, constituiu um reconhecimento a mais, antes de sua morte, a 29 de setembro de 1908.

Com a pena da galhofa, a tinta da melancolia e algumas rabugens de pessimismo, Machado de Assis escreveu uma obra que lhe granjeou a estima dos graves e o amor dos frívolos. Os sisudos lhe apreciam a filosofia bem-pensante, os ditos sábios e sibilinos, a agudeza com que perquiriu os grandes temas universais e sua ponderada trajetória de um róseo romantismo rumo a um realismo maduro.

Admira-se a obra de Machado de Assis, pois é unânime a constatação de que seus últimos cinco romances estão entre os grandes momentos da literatura brasileira.

Além de oferecer uma nova visão, Machado de Assis permitiu pensar em novos termos toda uma série de questões sobre a literatura brasileira, a arte brasileira, a cultura brasileira e seus laços com o pensamento gerado nos centros do capitalismo, a elite brasileira, os pobres brasileiros.

Os romances da primeira fase de Machado de Assis, encerrou-se em 1878 com Iaiá Garcia, nesse romance, mostrou como os impolutos membros da elite brasileira, iluminados pelas modernas ideias de progresso, ciência, liberdade e trabalho assalariado, se viravam para viver da atrasada exploração do trabalho escravo, com liberdade exclusiva para os privilegiados, perpetrando um sistema social oligárquico e um mandonismo de caráter patriarcal.

Nessa sociedade de ideias fora do lugar, o romancista compõe personagens que circulam pelo impasse entre atraso e modernidade. De um lado, há os ricos proprietários, mandando e desmandando a seu bel-prazer. De outro, os escravos, produzindo a riqueza na condição de mercadorias a serem compradas, vendidas e açoitadas no pelourinho. Entre elites e escravos, havia uma faixa de gente sem propriedades, com pouco espaço para trabalhar mediante salário e vivendo basicamente dos favores e humores da classe dominante.

Nessa faixa estavam os escravos alforriados, seus descendentes, os afilhados de gente rica e agregados a pessoas em melhor situação. Nela estava o próprio Machado, bisneto de escravos, filho de um pintor (de paredes, não de quadros), afilhado de uma rica senhora e ganhando o pão graças aos seus escritos até que fugiu da incerteza para militar no funcionalismo público.

Nos primeiros romances machadianos, esse jogo sinistro em que os agregados e afilhados batalham para sobreviver e subir na vida, enquanto os ricos decidem o destino dos subalternos segundo caprichos, era um assunto, um conteúdo na arte machadiana daquela primeira fase. Ocorre que até Iaiá Garcia os livros de Machado são fracos e, lidos hoje, até bastante tediosos.

Dois anos depois, em 1880, no entanto, Machado publica Memórias Póstumas de Brás Cubas, a primeira de suas obras-primas. Em vez de aludir aos caprichos e volubilidade da classe dominante brasileira, Machado fez com que o narrador e personagem principal das Memórias Póstumas, o defunto autor Brás Cubas, virasse a própria voz da elite brasileira. Tudo é capricho e volubilidade caprichosa da burguesia nacional. Daí se explica por que o enredo de Memórias Póstumas se desenvolve lentamente, que Brás Cubas filosofe a respeito de tudo (brigas de cães, emplastos, defeitos físicos) e não tenha filosofia alguma, que no livro pensamentos sublimes trombem com as grossuras mais torpes e o estilo do escritor mude abruptamente de timbre, promovendo uma salada de pastiches estilísticos.

Brás Cubas é um porta-voz desabusado da burguesia pátria, e suas Memórias Póstumas um retrato acabado das contradições de classe do Brasil do século XIX – e o romance é da melhor qualidade justamente por materializar de maneira dialética esse conteúdo histórico em forma artística.

Legado

O autor ficou conhecido por sua inteligência, ironia e crítica à sociedade burguesa da época, além do próprio ser humano.

Os 69 anos de vida permitiu que Machado produzisse 10 romances, cinco coletâneas de poemas e sonetos, sete coletâneas de contos, além de outras obras. O autor também foi fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.

 

Obras de Machado de Assis

  • Desencanto, teatro, 1861
  • Queda que as mulheres têm pelos Tolos, teatro, 1861
  • Quase Ministro, teatro, 1864
  • Crisálidas, poesia, 1864
  • Os Deuses de Casaca, teatro, 1866
  • Contos Fluminenses, conto, 1870
  • Falenas, poesia, 1870
  • Ressurreição, romance, 1872
  • História da Meia Noite, conto, 1873
  • A Mão e a Luva, romance, 1874
  • Americanas, poesia, 1875
  • Helena, romance, 1876
  • Iaiá Garcia, romance, 1878
  • Memórias Póstumas de Brás Cubas, romance, 1881
  • Tu, Só Tu, Puro Amor, teatro, 1881
  • Papéis Avulsos, conto, 1882
  • O Alienista, conto, 1882
  • Histórias Sem Data, conto, 1884
  • Páginas Recolhidas, conto, 1889
  • Quincas Borba, romance, 1891
  • Várias Histórias, conto, 1896
  • Dom Casmurro, romance, 1899
  • Poesias Completas, 1901
  • Esaú e Jacó, romance, 1904
  • Relíquias da Casa Velha, conto, 1906
  • Memorial de Aires, romance, 1908

 

(Fonte: Veja, 22 de agosto de 1990 – ANO 23 – Nº 33 – Edição 1144 – LIVROS – Pág: 100/102)

(Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/06/21/cultura – EL PAÍS – BRASIL – CULTURA/ Por ALBERTO LÓPEZ – 21 JUN 2017)

(Fonte: http://tecnologia.ig.com.br/2017-06-21 – TECNOLOGIA – Por Brasil Econômico |

(Fonte: https://www.colunatech.com.br – Por Redação ColunaTech – 

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