Maia Plissetskaia, a rara bailarina do Bolshoi
Inovadora nos gestos e indomável nas convicções, a intérprete russa. Em 2005, aos 80 anos, dançou no palco do Teatro Bolshoi.
Maia Plissetskaia, bailarina hispano-russa, nome indissociável da história do importante Teatro Bolshoi
Dançou como solista até aos 65 anos e aos 80 voltou ao palco para dançar uma peça coreografada para si por Maurice Béjart. Uma lenda, uma rara prima ballerina assoluta, elogiada por Nikita Kruschev foi uma estrela mesmo contra a vontade inicial do regime soviético.
Uma das grandes bailarinas do século XX, dançou com a mítica Galina Ulanova e tem então o raro título de prima ballerina assoluta – só atribuído às excepcionais bailarinas de uma geração -, que partilha com nomes como o de Margot Fonteyn ou Alicia Alonso. Quando Ulanova, até aí a única russa prima ballerina assoluta, se retirou do Bolshoi, Plissetskaia recebeu esse título e até hoje não houve mais russas com tais honras.
A bailarina nasceu em 1925 em Moscovo e estreou-se no Bolshoi em 1943 e na década de 1950 a modernização dos gestos e das convenções do bailado clássico no seu corpo e interpretações surpreenderam Moscovo: os seus pés subiam energicamente, os seus saltos eram longínquos, o seu corpo movia-se com paixão e alguns dos papéis que interpretava tornavam-se seus. É o caso da sua Rainha em Lago dos Cisnes – a sua peça mais conhecida e interpretação aclamada – ou da sua Carmen Suite, com coreografia de Alberto Alonso e música a partir da ópera de Bizet pelo seu marido Rodion Schedrin em 1967. O choque com esta última e a sua força erótica foi tal que o Kremlin baniu a peça, só a reinstituindo por intervenção do compositor Dmitri Shostakovich.
As autoridades soviéticas tentavam mantê-la debaixo de olho. O pai foi morto por traição pelo regime de Estaline, a mãe era atriz e foi presa num campo de trabalho no Cazaquistão, a tia bailarina do Bolshoi acabou por criá-la, recorda o diário britânico Telegraph. Inicialmente não era autorizada a viajar com a companhia, mas Kruschev cedeu à sua popularidade e acabou por considerar que aquela que era “não só a melhor bailarina da União Soviética, mas a melhor do mundo” podia sair do país com o Bolshoi. Chamavam-lhe “a indomada” e nem o diretor artístico do teatro conseguia fazer-lhe frente – Maia Plissetskaia criou uma trupe no interior do Bolshoi para poder fazer novas peças.
Nunca desertou porque, segundo escreveu na sua autobiografia citada pelo Telegraph, não queria que o regime soviético tivesse oportunidade de a condenar. Contudo, quando da queda da URSS, mudou-se para a Alemanha. Entre 1987 e 90 dirigiu o Ballet do Teatro Lírico Nacional de Espanha e em 1993 obteve nacionalidade espanhola. É até agora a única galardoada com o Prêmio Príncipe das Astúrias (2005) na área da dança.
Era exuberante, sensual e esguia – como uma bailarina tinha de ser. Em 1966, a revista Vogue enviou uma jornalista para a entrevistar no Bolshoi. “Vem de Paris para falar comigo sobre comida?”, intrigou-se Plissetskaia. “Não se fala de comida com uma bailarina. Sabe o que a lenda do bailado e parceira de Nijinsky Spessivtzeva disse em tempos? Disse que uma bailarina devia viver de uma gema de ovo e duas pétalas de rosa.” E deu-lhe duas receitas. Um guisado de carne e um molho. Era adorada por criadores de moda como Yves Saint Laurent ou Pierre Cardin.
Aos 80 anos, dançou no teatro que foi sempre seu. Celebrou os 60 anos de carreira em Novembro de 2005 em palco no Bolshoi, dançando a Ave Maiaque Maurice Béjart coreografou em sua honra.
Maia Plissetskaia morreu este sábado aos 89 anos.
Plissetskaia morreu na Alemanha, onde estava com o seu marido, o compositor Radion Schedrin. O director geral do Bolshoi, Rodion Schedrin, disse à TASS que “ela morreu de um ataque cardíaco fulminante”. O seu agente em Espanha detalhou ainda aoEl País que a bailarina se encontrava em casa. O Presidente russo, Vladimir Putin, já enviou as condolências à família.
(Fonte: https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia – CULTURA ÍPSILON/ Por JOANA AMARAL CARDOSO – 02/05/2015)