Manoel de Nóbrega, desenvolveu seu humor com grande habilidade artesanal e muito sucesso de público.

0
Powered by Rock Convert

Nóbrega: revelou o talento comercial de Sílvio Santos e a comicidade de Moacyr Franco

Manoel de Nóbrega (Niterói, 18 de fevereiro de 1913 – São Paulo, 17 de março de 1976), criou e desenvolveu seu humor com grande habilidade artesanal e muito sucesso de público, em torno da conversa e da comicidade verbal.

Para as grandes cidades onde é difícil cultivar o prazer da conversação, ele forneceu ao longo de grande parte de seus 46 anos de carreira uma espécie simulada de compensação dessa vantagem perdida.

Na Rádio Tupi de São Paulo surgiu em 1944 como o palavrosos freguês da “Cadeira de Barbeiro”, criação de Aluísio Silva Araújo, onde ferinas críticas políticas pontilhavam o diálogo.

E, depois na televisão, não abandonou a palavra pela imagem. Durante catorze anos, de 1957 a 1971, quase sempre na TV Record, sentou-se na “Praça da Alegria” para escutar a fala de personagens que inventava baseado em tipos populares.

Essa sua preferência pelo bate-papo bem-humorado em lugares adequados deve ter sido uma consequência do estilo de vida da cidade onde nasceu e se educou, a então pacata e provinciana Niterói, ex-capital do Estado do Rio de Janeiro. Uma cidade, na época, repleta de funcionários públicos que gostavam de conversar. Também de Niterói são sua mulher, Dalila, com quem esteve 41 anos casado, e seu único filho, Carlos Alberto, também redator e ator de programas humorísticos.

Deputado calado – Atraído desde cedo pelo rádio, Nóbrega começou como taquígrafo na Mayrink Veiga. E, como era hábito nos velhos tempos do rádio, logo se viu improvisado em ator e locutor, para substituir artistas faltosos. Em pouco tempo se tornaria igualmente redator, produtor e apresentador. Até ir para São Paulo, trabalhou em quase todas as emissoras cariocas.

Em São Paulo, sua maneira simpática e paternalista de tratar ouvintes e artistas continuou a fazer dele uma figura popular na cidade. Tanto que, na eleição de 1946, foi o candidato mais votado a deputado estadual de São Paulo, recebeu mais de 37 000 votos pela legenda do Partido Social Progressista (PSP) de seu amigo Adhemar de Barros.

Para surpresa de todos, mostrou-se um deputado calado. E, quatro anos depois, abandonou a política para, no começo dos anos 50, com a inauguração da Rádio Nacional de São Paulo, lançar o “Programa Manoel de Nóbrega” transmitido todos os dias. No início da década de 60, em mais uma experiência episódica, como todas as que realizou fora do rádio e da televisão, lançou um empreendimento comercial, o Baú da Felicidade, nos moldes das cestas de Natal. Seu sócio neste empreendimento, um alemão, lhe deu o golpe e sumiu com as cestas e o dinheiro. Para sair desta angustiosa situação, pediu auxílio a Sílvio Santos, jovem locutor a quem dera emprego no rádio. Sílvio aumentou tanto os negócios que o atemorizado Nóbrega lhe vendeu sua parte.

O gelo da bebida – Nóbrega escreveu programas para Hebe Camargo (1929-2012), lançou José Vasconcellos (1926-2011), Ronald Golias (1929-2005), Moacyr Franco e Zilda Cardoso. Deu oportunidades para que Jorge Loureiro, Jô Soares, Chocolate, Vagareza (1928-1997), Walter dAvila (1911-1996), Consuelo Leandro (1932-1999) e muitos outros solidificassem suas carreiras. E foi ao lado deles que marcou definitivamente sua imagem junto ao público brasileiro. Era o velho gordo e careca que conversava com tipos engraçados no banco da “Praça da Alegria”. Ele mesmo justificava este seu papel de coadjuvante: “Sou uma boa escada e isto também é uma arte. Igual ao gelo que se põe numa bebida. Ninguém o bebe ou o come, mas sem ele a bebida fica ruim.”

A aceleração do ritmo e da técnica nos outros programas de humor fizera o público se cansar da receita que Nóbrega lhe oferecia sempre de maneira esquemática e sem malícia. A “Praça da Alegria” saiu do ar mas ele não se aposentou. Já doente, continuou a produzir a parte humorística do programa dominical de Sílvio Santos, até se tornar, recentemente, diretor-superintendente da TV que Sílvio Santos instalou no Rio de Janeiro.

Manoel de Nóbrega faleceu em 17 de março de 1976, aos 63 anos, em São Paulo, após longa enfermidade e uma última operação no pâncreas.

Mesmo ausente do vídeo, não perdeu a popularidade. Seu enterro foi acompanhado por mais de 30 000 pessoas, tornando até necessária a intervenção da polícia para impedir tumultos e a invasão do local da cremação. Uma homenagem talvez excessivamente agitada para um homem que fez da cordialidade sua maior virtude profissional.

(Fonte: Veja, 24 de março de 1976 – Edição 394 – TELEVISÃO – Pág: 79)

Powered by Rock Convert
Share.