Manuel António Pina, poeta, autor de livros para crianças, cronista, ficcionista.

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Manuel António Pina (Sabugal, 18 de novembro de 1943 – Porto, 19 de outubro de 2012), escritor e jornalista. Galardoado em 2011 com o Prêmio Camões, o mais importante da Língua Portuguesa, tem uma vasta obra de poesia e literatura infantil, sendo também autor de inúmeras peças de teatro e de livros de ficção e de crônica.

Manuel António Pina, jornalista, poeta e escritor, nasceu no Sabugal, licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Vivia no Porto e foi jornalista do “Jornal de Notícias” durante três décadas, sendo repórter, redator, editor e chefe de Redação, mantendo até há poucos meses, na última página do JN, a crônica “Por outras palavras” e foi ainda cronista da “Notícias Magazine”.

Foi galardoado em 2011 com o importante Prémio Camões, e a sua vasta obra é fundamentalmente constituída por poesia e literatura infantil, sendo também autor de inúmeras peças de teatro e de livros de ficção e de crônica. Algumas dessas obras foram adaptadas ao cinema e televisão e editadas também em disco.

Na área da literatura, destacam-se os livros “O país das pessoas de pernas para o ar”, “O têpluquê”, “Gigões & anantes”, “História com reis, rainhas, bobos, bombeiros e galinhas”, e “O tesouro”, enquanto que na poesia, sobressaem os títulos “Nenhum sítio”, “Um sítio onde pousar a cabeça”, “Cuidados intensivos”, “Nenhuma palavra, nenhuma lembrança”, “Os livros” e “Como se desenha uma casa” .

Prêmio Camões que lhe foi atribuído em 2011, Manuel António Pina foi distinguido ao longo da sua longa carreira literária e jornalística com inúmeros prêmios, nomeadamente o Prêmio de Poesia da Casa da Imprensa (1978) ; Prêmio Gulbenkian (1987); Prêmio Nacional de Crônica Press Club/ Clube de Jornalistas (1993); Prêmio da Crítica, da Seção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários” (2002); Prêmio de poesia Luís Miguel Nava (2003) e Grande Prêmio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT (2005). A sua obra está traduzida em França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.

Bibliografia de Manuel António Pina

Conheça a obra de Manuel António Pina.

1973 – “O país das pessoas de pernas para o ar” (lit. infanto-juvenil)

1974 – “Ainda não é o fim nem o princípio do Mundo, calma é apenas um pouco tarde” (poesia)

1974 – “Gigões & anantes” (lit. infanto-juvenil)

1976 – “O têpluquê” (lit. infanto-juvenil)

1978 – Aquele que quer morrer (poesia)

1981 – “A lâmpada do quarto? A criança?” (poesia)

1983 – “O pássaro da cabeça” (poesia)

1983 – “Os dois ladrões” (teatro)

1984 – “Nenhum sítio” (poesia)

1984 – “História com reis, rainhas, bobos, bombeiros e galinhas” (lit. infanto-juvenil)

1985 – A guerra do tabuleiro de xadrez(lit. infanto-juvenil)

1986 – Os piratas(ficção)

1989 – “O caminho de casa” (poesia)

1987 – “O inventão” (teatro)

1991 – Um sítio onde pousar a cabeça (poesia)

1992 – “Algo parecido com isto, da mesma substância” (poesia)

1993 – “Farewell happy fields” (poesia)

1993 – “O tesouro” (lit. infanto-juvenil)

1994 – “Cuidados intensivos” (poesia)

1994 – “O anacronista” (crônica)

1995 – O meu rio é de ouro /Mi rio es de oro (lit. infanto-juvenil)

1998 – “Aquilo que os olhos vêem, ou O Adamastor” (teatro)

1999 – Nenhuma palavra, nenhuma lembrança (poesia)

1999 – “Histórias que me contaste tu” (lit. infanto-juvenil)

2001 – “Atropelamento e fuga” (poesia)

2001 – “A noite” (teatro)

2001 – “Pequeno livro de desmatemática” (lit. infanto juvenil)

2002 – “Poesia reunida” (poesia)

2002 – “Perguntem aos vossos gatos e aos vossos câes” (teatro)

2002 – “Porto, modo de dizer” (crônica)

2003 – Os livros (poesia)

2003 – “Os papéis de K.” (ficção)

2004 – “O cavalinho de pau do Menino Jesus” (lit. infanto-juvenil)

2005 – “Queres Bordalo?” (ficção)

2005 – “História do Capuchinho Vermelho contada a crianças e nem por isso por Manuel António Pina segundo desenhos de Paula Rego” (lit. infanto-juvenil)

2007 – “Dito em voz alta” (entrevistas)

2008 – “Gatos” (poesia)

2009 – “História do sábio fechado na sua biblioteca” (teatro)

Manuel António Pina morreu em 19 de outubro de 2012, no Porto, tinha 68 anos.

(Fonte: http://www.jn.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior – CULTURA/ Por Agostinho Santos – 2012-10-19 e Publicado em 2011-05-12)

Um poeta posterior à literatura

Manuel António Pina, poeta, autor de livros para crianças, cronista, ficcionista, sucede ao brasileiro Ferreira Gullar.

“É a coisa mais inesperada que podia esperar.” O poeta Manuel António Pina tinha acabado de saber que recebera o Prémio Camões, e esta frase foi a única que se lhe conseguiu arrancar sobre a atribuição do mais importante prêmio literário de língua portuguesa.

O prêmio, no valor de 100 mil euros, foi anunciado ontem, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, no Brasil, onde o júri esteve reunido menos de meia hora. Foi o bastante para que os seis jurados chegassem a uma decisão unânime.

Manuel António Pina tornou-se assim o 23.º escritor a receber este galardão, que foi estreado em 1989 por Miguel Torga e que não era atribuído a um autor português desde que Lobo Antunes o recebeu em 2007. O último contemplado tinha sido o poeta brasileiro Ferreira Gullar.

Se Manuel António Pina deve sobretudo à sua poesia o cada vez mais amplo reconhecimento crítico de que vem gozando em Portugal e no estrangeiro está traduzido na generalidade das línguas europeias, incluindo as dos países de Leste, é de crer que este prémio venha consagrar não apenas o poeta, mas também o singularíssimo escritor de literatura infantil, o ficcionista de Os Papéis de K. (2003) e o não menos relevante autor de milhares de crónicas publicadas, ao longo das últimas décadas, na imprensa portuguesa.

Registos diversos, mas ligados entre si, na obra de Pina, por uma nítida rede de tópicos recorrentes.

Ler por ordem cronológica as dezenas de livros de poemas e de obras para crianças que foi publicando desde a primeira metade dos anos setenta ajuda a tornar claro que é uma mesma obra que se vai desenvolvendo em dois rios paralelos, mas unidos por inúmeros canais. E as transfusões entre os seus poemas e crónicas não são menos significativas.

Homo poeticus

Nascido no Sabugal, Guarda, em 1943, é licenciado em Direito, mas pouco praticou a advocacia. Em 1971 empregou-se no Jornal de Notícias, onde permaneceu 30 anos e onde ainda hoje assina uma crônica diária.

Quem vive no Porto sabe que as suas crónicas são lidas por um público altamente ecléctico, que vai da professora universitária ao taxista ou ao empregado de café. E é bastante surpreendente que isto suceda com crônicas que são, como talvez nenhumas outras no actual panorama da imprensa portuguesa, textos cultos, pelos quais perpassa todo o legado cultural da humanidade, do Velho Testamento a Homero ou ao budismo zen, de Aristóteles ao ursinho Puff, de Dante ao Tintin. Mas Pina nunca é meramente erudito e, tal como os seus livros para crianças, igualmente recomendáveis para adultos, as suas crônicas podem virtualmente ser lidas com proveito por qualquer pessoa.

São também crônicas de um cidadão interventivo. Não serão poucos os políticos de todos os quadrantes, e outras figuras públicas, que aguardam com algum receio a sua “farpa” diária. Pina tem várias “vítimas” de estimação uma delas é, por exemplo, o actual Presidente da República, mas a figura do político só é um dos seus alvos principais enquanto encarnação, entre outras, daquilo que este homo poeticus verdadeiramente detesta: essa “assustadora estirpe dos homens práticos” a que se refere numa crónica já antiga.

O ensaísta Osvaldo Silvestre, autor de vários textos sobre Manuel António Pina, não tem dúvidas em o considerar “o maior autor da nossa literatura infantil”, acrescentando que, “num sentido profundo, Pina é o inventor de uma literatura infantil portuguesa inspirada na lição maior de Lewis Carroll e A. A. Milne: a lição do nonsense, do nominalismo, da recusa em saber o que seja exactamente a infância”. No seu depoimento, Silvestre toca ainda um ponto essencial quando afirma que além de ser “um poeta notável”, é, “em rigor, o único poeta contemporâneo convictamente pós-pessoano”, no sentido de que “a sua poesia não é concebível fora da metafísica poética legada por Fernando Pessoa”.

Inaugurada em 1974 com o livro Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde, a obra poética de Pina prenuncia claramente, no seu gosto pela citação, na sua auto-ironia, na sua deliberada sabotagem de toda a grandiloquência, na sua assumida consciência de que chegámos tarde à literatura e tudo já foi escrito, aquilo a que depois se chamaria pós-modernismo.

No entanto, é do modernismo que vêm os seus tópicos centrais, e em particular essa sua suspeita obsessiva de que aquilo a que a linguagem chama “eu” é apenas um arbitrário nome colectivo atribuído às incontáveis pessoas que fomos sendo e simultaneamente somos. “Agora, vista daqui, da recordação,/ a minha vida é uma multidão/ onde, não sei quem, em vão procuro/ o meu rosto, pétala de um ramo húmido, escuro”, lê-se em Um Sítio Onde Pousar a Cabeça (1991).

Mas se esta e outras questões têm uma ilustre linhagem, do Je suis un autre de Rimbaud à heteronímia de Pessoa, não há na poesia de Pina o menor resquício dessa espécie de deflagração heróica do eu que marcou a modernidade. O drama pessoano dá lugar a um surdo cansaço ontológico, muitas vezes sugerido através da própria linguagem, forçando-a a adequar-se a um “eu” instável que as regras gramaticais não contemplam: “Como escreverei? Sem que palavras? Quem? Qual?”, pergunta Pina logo no seu livro de estreia. É possível que Manuel António Pina seja, de facto, o poeta português em quem o peso de Pessoa, justamente porque não o recusou, se tornou mais produtivo.

E, no mesmo sentido, Pina é um poeta que escreve a partir do fim da literatura.
(Fonte: http://www.publico.pt/cultura/noticia – CULTURA/ Por Luís Miguel Queirós – 19/10/2012)

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