Margaret Mee (Chesham, 22 de maio de 1909 – Seagreve (Leicester), 30 de novembro de 1988), a inglesa que documentou a flora da selva brasileira.
Ao longo das viagens que realizou à Amazônia em mais de três décadas, Margaret Mee produziu mais de 400 obras desse tipo e tornou-se uma artista de currículo único, uma desbravadora das belezas naturais do país.
Com uma bagagem que misturava pincéis e tintas a bússolas e miçangas para presentear índios, ela escolhia no mapa do Brasil o destino de sua próxima empreitada na selva, onde mais uma vez iria procurar plantas e flores raras para reproduzi-las em aquarelas.
O trabalho de Margaret Mee é do tipo que costuma ser esnobado pelos críticos e confundido pelo público com meras peças de decoração. O rigor formal com que retratava suas plantas e flores, com realismo próximo ao da fotografia, evoca uma nobre estirpe de naturalistas relegada aos livros de ilustrações pela arte contemporânea.
É impossível, no entanto, deixar de apreciar a graça e a leveza de suas imagens, o detalhismo com que reproduzia as texturas e as gradações das cores das flores e o valor documental de sua obra com relação à flora brasileira – dez novas espécies foram descobertas por ela e batizadas com seu nome.
PIO DA CORUJA – Margaret Mee desembarcou no Brasil em 1952 acompanhando o marido, desenhista técnico, numa missão que duraria três anos. Com um diploma de belas-artes e outro de botânica, ela acabou por encontrar no país o cenário ideial para juntar as duas atividades de que gostava.
Primeiro empregou-se como desenhista no Instituto Botânico de São Paulo. Depois da primeira viagem à Amazônia estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde conseguiu iniciar carreira como artista. O espírito que a movia pelas florestas era o de uma defensora da ecologia, muito nates que a expressão se desgastasse pela apropriação política. “A natureza não é perigosa, e sim o homem”, costumava dizer para interlocutores espantados.
Sempre com sede de aventura no coração, Margaret fez quinze viagens à Amazônia e além de produzir aquarelas recolheu um rosário de peripécias. Certa vez, viajando num barco, desiquilibrou-se e caiu num rio infestado de piranhas. Saiu ilesa. De outra feita, foi obrigada a encostar um revólver no peito de um garimpeiro embriagado que insistia em invadir sua barraca.
Uma das histórias que mais gostava de relembrar dava conta de que um dia, enquanto desenhava, uma cotuja insistia em piar, tirando-lhe a concentração. Ela comentou o fato com um índio que a acompanhava e, desse modo, acabou como protagonista involuntária de um ato de predação ecológica: no dia seguinte, o índio a presenteou com um robusto colar – feito com as penas da coruja importuna.
Margaret Mee faleceu em 30 de novembro de 1988, aos 79 anos.
(Fonte: Veja, 17 de Outubro de 1990 ANO 23 – N° 40 – Edição 1152 ARTE/ Por Silvio Giannini Pág; 103)
(Fonte: Veja, 7 de dezembro de 1988 Edição N° 1057 DATAS Pág; 113)