Maria Barroso, a mulher que nunca abdicou do nome de solteira
Foi a única mulher na foto da fundação do PS, em 1973, em Bad Münstereifel, na República Federal da Alemanha.
Maria Barroso (Olhão, 2 de maio de 1925 – Lisboa, 7 de julho de 2015), esposa do ex-presidente português Mario Soares
Opositora à ditadura e fundadora do Partido Socialista, ao lado do marido, Barroso foi ainda deputada e mais tarde presidente da Cruz Vermelha Portuguesa.
Maria de Jesus Simões Barroso Soares tinha o apelido do marido, mas nunca abdicou de ser conhecida pelo seu nome de solteira. Apesar de se ter tornado figura pública sobretudo por ter sido mulher de Mário Soares, a ex-primeira dama trilhou, a partir de certa altura, um caminho completamente divergente do marido, um convicto agnóstico, ao converter-se ao catolicismo.
A atividade pública que lhe ocupou a última parte da sua vida esteve ligada à defesa dos direitos humanos, sobretudo como presidente da fundação que criou, a Pro Dignitate.
Nasceu em Olhão, a 2 de maio de 1925, filha de Alfredo José Barroso, oficial do Exército, e de Maria da Encarnação Simões, professora primária. Maria de Jesus Barroso Soares é a quinta de sete filhos.
Maria Barroso divergiu de Mário Soares na fé e noutras questões. Por exemplo, afirmou-se a favor do sistema de quotas para as mulheres na política, ao contrário do ex-presidente da República que acredita que “as mulheres sobem pelo seu valor.” Maria Barroso disse: “Sei que é uma forma artificial, mas é a única que consegue ajudar a transformar mentalidades.
Sobretudo as dos homens, para um dia admitirem que as mulheres têm os mesmos direitos”. Também discordou de Soares no momento nuclear da criação do PS. Votou contra a fundação do partido, em 1973, tal como defendia Salgado Zenha.
Ao longo da sua vida, manteve uma forma de independência discreta, bateu-se pelos direitos das mulheres mas viveu conformada com a ideia de que “as mulheres ficam sempre na sombra”.
Única mulher na foto do PS
“Tive medo algumas vezes (…) mas também tinha a convicção de que era importante ter coragem”. Esta reflexão de Maria Barroso, em entrevista em 2005, é a marca de uma geração. Da geração que lutou contra a ditadura. Muito antes de estar do lado da oposição ao Estado Novo na Faculdade de Letras de Lisboa, Maria Barroso já conhecera as privações impostas pelo regime de exceção.
O seu pai, oficial do Exército, esteve deportado no Forte de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, nos Açores, por ter participado na Revolta de Fevereiro de 1927, a primeira rebelião, liderada pelo general Sousa Dias, contra a Ditadura Militar instaurada a 28 de Maio de 1926. No mesmo forte de Angra, décadas mais tarde, o seu sogro também estaria preso.
Na segunda metade dos anos 40 do século XX, Portugal vivia na ebulição da luta dos aliados contra o nazismo. Nas universidades sentia-se o fervilhar da esperança. Era assim na Faculdade de Letras de Lisboa onde Maria Barroso conheceu Mário Soares, então estudante de Letras e Filosofia: “Encontrei no meu marido o desejo de lutar por um mundo melhor, isso foi uma das coisas que me atraiu extraordinariamente”. Em Maio de 1945 participam, com muitos jovens convocados pelo Movimento Unidade Democrática, nas manifestações de júbilo pelo fim da Segunda Guerra Mundial.
Casariam em 22 de Fevereiro de 1949, por procuração, quando Soares estava preso na cadeia do Aljube. É o início de uma vida de casal fora do comum. Entre várias detenções pela polícia política, um dos momentos mais difíceis foi o tempo de deportação, em 1968, de Mário Soares em São Tomé e Príncipe. Com ele vive durante algum tempo na antiga colónia.
Em 1969, a oposição tenta aproveitar a abertura anunciada por Marcello Caetano. Soares, alguns sectores republicanos e elementos da Acção Socialista Portuguesa – fundada cinco anos antes em Genebra por Mário Soares, Manuel Tito de Morais e Francisco Ramos da Costa – criam a CEUD [Comissão Eleitoral de Unidade Democrática] que concorre às eleições à Assembleia Nacional nos círculos de Lisboa, Porto e Braga. Maria Barroso é candidata em Santarém pela CDE [Comissão Democrática Eleitoral], aliança de comunistas, católicos e independentes de esquerda.
Com o marido no exílio, em Paris, assume um duplo papel. Dirige o Colégio Moderno, pilar da economia familiar, e ocupa-se da educação dos dois filhos, João e Isabel, então adolescentes. “Falava-lhes do pai como um pessoa que desencadeava uma acção a favor da democracia, com o desejo de que os direitos humanos fossem respeitados”, recordaria. Em 1973, é, a única mulher na foto da fundação do PS, em Bad Münstereifel, na então República Federal da Alemanha.
Após o 25 de Abril de 1974, foi eleita deputada à Assembleia da República nas legislaturas iniciadas em 1976, 79, 80 e 83, pelos círculos de Santarém, Porto e Algarve.
Maria Barroso faleceu em Lisboa, em 7 de julho de 2015, aos 90 anos de idade.
Maria Barroso encontrava-se hospitalizada em coma, após uma queda com gravidade.
O Presidente da República, Cavaco Silva, apresentou as condolências à família. “Mulher de cultura e de causas, Maria de Jesus Barroso distinguiu-se, ao longo de décadas, como uma lutadora pela liberdade e pela democracia, antes e depois do 25 de Abril”, sublinha o governante, na mensagem divulgada no site da Presidência da República.
(Fonte: http://pt.euronews.com/2015/07/07 – NOTÍCIAS – 07/07/2015)
(Fonte: http://www.publico.pt/politica/noticia- NOTÍCIA/ Por
– 07/07/2015)