Maria Martins, entrou para a história como a maior escultora surrealista do país.

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Maria Martins (Campanha, 7 de agosto de 1894 – Rio de Janeiro, 26 de março de 1973), escultora e embaixatriz, entrou para a história como a maior escultora surrealista do país e por seu tórrido “affair” com o artista Marcel Duchamp (1887-1968).

Nos círculos diplomáticos, ela era a madame Carlos Martins, mulher do embaixador brasileiro em Washington nos anos 1940.

Maria Martins definiu num único verso a sua condição de agente duplo, dividida entre o tédio das altas rodas e a voracidade com que construiu obras sobre desejos insaciáveis -dizia ser “o meio-dia pleno da noite tropical”.

Esse verso é do poema “Explicação”, que fez para sua mostra de 1946 na Valentine Gallery, em Nova York. Explicava, de fato, a base poética em que arquitetava sua obra.

Martins gostava de escrever que vinha dos trópicos, ancorando nessa raiz calorenta e faiscante a lascívia que escancarava no trabalho.

“Não Te Esqueças que Venho dos Trópicos”, a escultura de uma mulher deitada de costas, com feições animalescas e garras em riste, estava naquela mostra e abre agora, quase sete décadas depois, uma das maiores retrospectivas da artista no país, que começa amanhã no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Depois da publicação do antológico “Maria”, livro editado há três anos pela Cosac Naify que reuniu pela primeira vez imagens de todas as obras conhecidas da artista, a exposição no MAM tenta desfazer certo esquecimento que ronda a figura de Martins.

De certa forma, é algo que começou lá fora, quando a última Documenta, em Kassel, na Alemanha, mostrou, no ano passado, peças de Martins. Em outubro, obras dela estarão no museu Astrup Fearnley, em Oslo (Noruega).

Veronica Stigger, que organiza a mostra no MAM, enxerga certo preconceito nesse silêncio em torno da artista.

“É uma reação à maneira como ela expõe aquilo que, na mulher, a sociedade gostaria que permanecesse escondido, como o desejo, ou a vulva”, diz a curadora. “Não se perdoa uma mulher por ser inteligente demais, corpórea demais, livre demais -ainda mais tudo ao mesmo tempo.”

ROCOCÓ ASSUSTADOR

Mas, com ou sem perdão, a obra de Martins já não é vista hoje como “esquisita”, “complicada” ou um “rococó assustador”, forma que os críticos primeiro descreveram suas peças nos anos 1940.

Depois que André Breton, cérebro por trás do surrealismo, apadrinhou seus traços, Martins foi engolfada por essa vanguarda, embora seu trabalho esbarre no fantástico menos pelo devaneio e mais por uma investigação dos mitos de sua origem.

Isso passava não só pela mutação das figuras humanas, que se tornam mais abstratas e bestiais na evolução de sua obra, mas também em sua representação do entorno desses seres, um “espaço de chumbo”, em suas palavras, que retratava como densas redes de cipós retorcidos.

Mas ela nunca se assumiu surrealista. Romantizava, na verdade, um Brasil distante, de seres estranhos movidos por uma paixão ancestral.

E criava isso à luz da vanguarda europeia que então aportava em Nova York. Seu romance com o francês Duchamp, um dos maiores nomes da história da arte, rendeu um diálogo intenso entre instalações e esculturas.

Em “O Impossível”, sua obra mais célebre, que também está na mostra do MAM, ela mostra o embate entre bichos que tentam se aproximar, mas não conseguem -suas garras afiadas fariam da realização do ato carnal uma verdadeira chacina.

Era sua forma de ilustrar a relação impossível com Duchamp. Em resposta, ele passou 20 anos criando uma peça em que mostrava, por trás de um buraco de fechadura -tão intocável quanto os amantes ferozes de Martins-, uma mulher nua moldada a partir do corpo da escultora.

“Não há nunca essa aproximação”, analisa Stigger. “Tanto nas obras dele quanto nas dela, há a impossibilidade de uma relação carnal.”

Maria Martins morreu aos 78 anos, em 1973.

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/07/1308076-surrealismo-tropical- SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO – 9 de julho de 2013)

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