Maria Teresa de Habsburgo, Imperatriz do Sacro Império

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Maria Teresa de Habsburgo, Imperatriz do Sacro Império

Única mulher da dinastia de Habsburgo que subiu ao trono imperial, Maria Teresa é considerada a restauradora dessa nobre estirpe e uma das mais extraordinárias governantes de todos os tempos

Maria Teresa, filha do Imperador Carlos VI, do Sacro Império Romano Alemão, e de sua esposa Elizabeth von Braunschweig-Wolfenbüttel, nasceu em 13 de maio de 1717. Em 1711 havia falecido seu irmão, o Arquiduque Leopoldo, único filho de Carlos VI.

Por isso, prevendo que poderia não ter outro filho do sexo masculino, o soberano promulgou a famosa Pragmática Sanção, pela qual, nesse caso, o trono poderia passar para uma filha. Tal sanção foi aprovada na época por quase todas as monarquias da Europa.

Ora, Maria Teresa, apesar de se tornar assim herdeira do trono, não fora educada para governar. Sua juventude, despreocupada e pura, passara no estudo das artes e das línguas. “Ademais de sua língua materna, o alemão, falava com inteira facilidade latim, francês, italiano e castelhano; a História era uma ocupação favorita de seu apetite de saber; cantava e tocava com maestria, e bailava com graça”.(1) Pensava seu pai que ela deixaria nas mãos do marido o governo, e que cuidaria apenas das questões sociais e filantrópicas. Porém, o marido — o Duque Francisco Estêvão de Lorena, com quem se havia casado em 1736 — era desprovido do necessário tino para o governo de um império. Maria Teresa viu-se, assim, na contingência de aprender por si mesma a difícil arte de governar.

A Arquiduquesa ascende ao trono em dificuldades

Maria Teresa, Rainha da Hungria –– Martin van Meytens

Para agravar a situação, “durante os últimos anos do reinado de seu pai, duas guerras tinham já deixado o Império comprometido financeiramente e com um exército enfraquecido. […] Sem dinheiro e um forte exército, desprovida do conhecimento dos assuntos de Estado, Maria Teresa soube que tinha que confiar somente em seu julgamento e força de caráter”.(2)

Assim, ao falecer Carlos VI em 1740, Maria Teresa subiu ao trono aos 23 anos de idade. “No próprio dia da morte de seu pai, ela recebeu a homenagem dos Conselheiros Privados e da nobreza como Rainha da Hungria, Rainha da Boêmia e Arquiduquesa da Áustria; e na primeira reunião de seu gabinete expressou sua determinação de manter em sua integridade cada direito que ela havia herdado. Todos admiraram sua firmeza, dignidade e força de espírito”.(3)

Mas as coisas começaram a piorar. O Príncipe Eleitor da Baviera, não reconhecendo a Pragmática Sanção, reclamou o trono para si, pois era descendente de uma filha do Imperador José I, irmão de Carlos VI. Ao mesmo tempo, “ultrapassando as normas de moderação de Luís XV, [o general]Belle-Isle estabeleceu com a Prússia, a Saxônia, a Espanha, a Polônia, a Sardenha e a Baviera uma grande coalizão contra a Áustria, cada um dos coligados tendo a esperança de lhe arrancar algumas belas províncias”.(4)

Firmeza da Imperatriz entusiasma seus súditos

O Rei Frederico da Prússia, fez de Maria Teresa este elogio: “Ela honrou o trono e seu sexo. Eu guerreei contra ela, mas nunca fui seu inimigo”

Frederico II, rei da Prússia, invadiu e anexou a Silésia. Simultaneamente o exército francês, comandado por Belle-Isle, invadiu a Boêmia, tomando Praga em 26 de novembro de 1741. Começou assim a Guerra de Sucessão.

Foi nos seus territórios hereditários que Maria Teresa encontrou a principal ajuda contra seus inimigos. Sua enérgica atitude suscitou um entusiasmo geral. Pois ela tinha “um carisma que lhe permitia, nas horas mais difíceis, ganhar o coração de seus súditos, em particular dos húngaros”.(5) Assim, nessa grave contingência, ela foi à Hungria e, com o filhinho nos braços, fez em Pressburg patético apelo ao cavalheirismo desses súditos. Os magnatas húngaros, num só brado, responderam que estavam prontos a dar seu sangue e sua vida “por nossa Rainha Maria Teresa”.

A indômita soberana viu que era necessário separar da aliança seu mais poderoso inimigo, Frederico II, e fez uma trégua com ele cedendo-lhe parte da Silésia. Com isso seu exército pôde reconquistar a Boêmia, e lá Maria Teresa foi coroada rainha em 1743. Com o auxílio dos ingleses, seus aliados, ela derrotou também a Baviera e a França.

Maestria nas guerras e nos negócios do Estado

Com a trégua, pôde Maria Teresa trabalhar para que seu esposo, Francisco Estêvão, fosse eleito imperador, o que se deu a 4 de outubro de 1745. Mas a luta recomeçou, e foi apenas a conclusão da paz de Aix-la-Chapelle, em 1748, que pôs fim à Guerra da Sucessão.

Entretanto, mais tarde teve Maria Teresa que fazer face à Guerra dos sete anos, uma série de batalhas com vitórias e derrotas, que só teve fim com a Paz de Hubertsburg, em fevereiro de 1763.

Nas fases em que não estava tratando dos negócios de guerra, Maria Teresa cuidava dos assuntos do Estado. Assim, em 1753, designou uma comissão para compilar um novo código civil. Em 1768 foi promulgada a Constitutio Criminalis Theresiana, para a lei criminal.

Maria Teresa tinha “uma concepção matriarcal do poder, inspirada pelo vigor de sua fé católica, que impôs à posteridade a imagem de ‘mãe dos povos’; um pragmatismo e uma inteligência intuitiva a serviço da consolidação do todo austríaco que, sob seu reino, acabou de se individualizar pela relação com o Sacro Império; uma tenacidade, enfim, em fortificar o poder diplomático dos Habsburgos por uma política matrimonial bem calculada, da qual o florão foi o casamento de Maria Antonieta com o Delfim [da França]em 1770”.(6)

Espírito católico da grande Imperatriz

Durante o seu reinado, o comércio marítimo do Império progrediu intensamente. O exército foi também aperfeiçoado, tendo como modelo o prussiano. Em 1752 ela estabeleceu uma academia militar, e dois anos depois uma academia de engenharia. Maria Teresa preocupou-se igualmente com a educação, tendo em vista principalmente as escolas primárias e secundárias. Empenhou-se para que a Faculdade de Medicina da Universidade de Viena, tão longamente negligenciada, alcançasse grande eficiência. Fundou uma academia para os nobres, o Theresianum, e outra de línguas orientais.

No campo religioso, Maria Teresa, além de dar o exemplo da mais exata observância das normas da Igreja, comungando freqüentemente e seguindo os jejuns nos dias prescritos, defendia a unidade da fé no Estado não somente por razões religiosas, mas também políticas. Os protestantes que não queriam se converter deveriam emigrar para a Transilvânia, onde seu culto era permitido.

Como a fé católica, a única verdadeira, não pode ser imposta pela força, Maria Teresa procurava favorecer a conversão de seus súditos ao catolicismo, mediante argumentos e cuidadosa instrução.

Atrito com seu filho, perseguidor da Religião Católica

Maria Teresa, já viúva, tendo à sua esquerda seu filho José, com quem várias vezes entrou em choque, devido à posição dele contrária à Igreja Católica

Seu esposo, Francisco I, faleceu repentinamente aos 57 anos de idade, em 1765. Maria Teresa sentiu tanto sua morte, que até o fim de sua vida, 15 anos depois, manteve o luto. Ela não quis que seu filho mais velho, José, subisse ao trono com poderes ilimitados, pois julgava que seu temperamento era arrebatado e as idéias professadas por ele não concordavam com as suas. Assim, tornou-se ele co-regente da Áustria com sua mãe, e Imperador com o título de José II (1765-1790).

De péssimas idéias, ele instalou no Império o josefismo, que visava, entre outras coisas, uma Igreja nacional e sujeita ao Estado. Este foi um dos muitos pontos de atrito entre mãe e filho. As Bulas papais somente eram tornadas públicas com o consentimento do governo, e as relações com Roma deveriam ser conduzidas através do Ministério do Exterior. As Ordens religiosas foram limitadas, assim como os bispados. A imunidade de taxação que gozava o Clero foi abolida, e adotadas muitas outras medidas persecutórias da Igreja. A Companhia de Jesus também foi abolida.

De seu casamento com Francisco I, Maria Teresa teve 16 filhos, seis dos quais portaram a coroa. A filha que mais satisfação lhe dava, e com quem tinha mais afinidade, era Maria Cristina, casada com o Príncipe Alberto da Saxônia-Teschen. E a que mais preocupação lhe causava era a caçula, Maria Antonieta, casada com o Delfim da França, depois Luís XVI. Maria Teresa acompanhava todos os filhos com seus conselhos, procurando em tudo que seguissem o bom exemplo materno. Inúmeras são as cartas que dirigiu às filhas espalhadas por diversas cortes da Europa.

Enfim, chegou para a grande mulher o ônus que todos, grandes e pequenos, temos que pagar nesta vida terrena. No dia 8 de outubro de 1780 ela participou de uma caçada, tendo sido acometida de uma gripe na noite chuvosa. Em virtude da doença, violenta tosse a enfraqueceu. Mas ficou pouco tempo no leito, pondo em ordem seus papéis e consolando seus filhos. Escreveu o testamento, deixando boa quantia para ser dada aos pobres e outra para garantir um mês de soldo aos soldados. No dia 25 ela recebeu a Comunhão e, três dias depois, os últimos Sacramentos. Veio a falecer no dia 29, aos 63 anos de idade.

A essa valorosa Imperatriz, que os historiadores apontam como a salvadora da dinastia dos Habsburgos num momento em que esta estava para desmoronar, seu pior inimigo, Frederico da Prússia, fez este elogio: “Ela honrou o trono e seu sexo. Eu guerreei contra ela, mas nunca fui seu inimigo”.

(Fonte: http://catolicismo.com.br – GRANDES PERSONAGENS/ Por José Maria dos Santos)

 

 

 

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