Marianne Moore, grande figura da poesia modernista norte-americana.

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Marianne Moore (Missouri, 15 de novembro de 1887 – Nova York, 5 de fevereiro de 1972), grande figura da poesia modernista norte-americana. Nascida em 1887, sua geração é a mesma que produziu Wallace Stevens, William Carlos Williams, Ezra Pound, T. S. Eliot e os caçulas Hart Crane & e. e. cummings – tempos em que definitivamente não era fácil se destacar como poeta. E, sendo uma das poucas mulheres nesse meio, não é surpreendente o fato de que ela seria uma grande referência para futuras poetas, como Elizabeth Bishop, amiga pessoal de Moore e visivelmente influenciada por sua poesia, como acredito que seja observável nos poemas que selecionei aqui. Além de Bishop, ela também influencia poetas tão distintos quanto W. H. Auden e, no Brasil, João Cabral de Melo Neto.

A poeta americana influenciou decisivamente a escritora Elizabeth Bishop no seu estilo de fazer versos a partir da observação atenta dos detalhes dos objetos, pessoas e cenas, e com quem desenvolveria uma relação de dependência intelectual e pessoal durante muitos anos, considerando-a sua grande amiga.

Em 1915, Moore começa a publicar seus poemas em revistas célebres como a Poetry e a The Egoist, editada por Ezra Pound. Em 1918, ela se muda para a Inglaterra e lá publica, em 1921, seu primeiro livro, Poems. A ele se segue, em 1924, seu segundo volume, Observations, ganhador do prêmio Dial (que havia premiado Eliot em 22 e mais tarde premiaria gente como cummings, Williams e Pound), promovido pela revista literária The Dial, para a qual Moore acabou trabalhando como editora entre 1925 e 1929. Já morando de volta nos EUA, em 1935, ela publica sua antologia Selected Poems, com introdução de Eliot, que a apresentaria a um público maior. Mais tarde ela escreveria ainda mais alguns volumes de poemas, ensaios críticos e uma tradução poética completa das fábulas de La Fontaine, ganhando também mais uma boa dúzia de prêmios literários no caminho.

Marianne Moore, no entanto, não foi muito traduzida por essas bandas. O único volume de traduções de Moore de que tenho notícia é a antologia organizada por João Moura Jr. e traduzida por José Antonio Arantes, publicada originalmente pela Companhia das Letras em 1991, intitulada simplesmente Poemas. E, se podemos confiar no que diz sua contracapa, esse é o primeiro livro a reunir a poesia dela em português – e, infelizmente, se encontra esgotado (com os volumes restantes em sebos a uma dolorosa média de 50 reais cada).

Os 3 poemas que selecionei aqui têm em comum, além de uma temática marinho-aquática, uma discussão acerca das relações entre vida e morte, natureza e artificialidade, permanência e efemeridade, que surgem à tona dessas reflexões acerca de coisas simples como um cisne de porcelana num candelabro Luís XV (e os versos entre aspas são uma citação direta de um artigo da New York Times Magazine de maio de 1931 sobre a peça) e dois momentos de observação do mar – um puramente natural, observando a interação entre os abismos, a água, o leito do mar e suas criaturas, e a outra, com a interação do homem com o mar. E, tingindo essas observações, está o olhar distinto de Moore sobre as coisas, um olhar que vê uma imagem potencialmente brega, clichê, tranquilizadora como o mar como sendo, na verdade, feito um túmulo e dotado de violência, com peixes passando com dificuldade por um “jade baço” (uma imagem bastante incomum) e mexilhões se enterrado numa areia, que é feita de cinzas. A brutalidade, porém, não é o foco desses poemas e eles deixam transparecer beleza mesclada com essa selvageria.

Essa seleção de poemas também demonstra algo da variação técnica de Moore – mais um exemplo dos experimentos formais dos modernistas. Era uma marca dela escrever no que se chama “syllabics” em inglês, que é parecido com o funcionamento métrico da poesia em português, com contagem silábica por verso, exceto que a nossa métrica leva em consideração tonicidade (lembrando que a poesia inglesa costuma trabalhar com pés métricos, em vez disso), enquanto os “syllabics” permitem a presença de estranhezas como um verso composto por um “the” ou “an” átono e solitário. Os poemas “No Swan So Fine” e “The Fish” são exemplos dessa metrificação, com o primeiro poema composto de 2 estrofes de versos de 7, 8, 6, 8, 8, 5 e 9 sílabas, com rimas apenas entre o 2º e o 5º versos de cada estrofe, e o segundo poema, de 8 estrofes de versos de 1, 3, 9, 6 e 9 sílabas (com os primeiros 4 versos de cada estrofe com 2 rimas emparelhadas cada). Já “A Grave” é em versos livres e sem rima. Fora isso, também destacamos o uso do enjambément radical (banal atualmente, mas certamente estranho à época, com quebras em artigos como “the”) e as quebras silábicas de versos (como em “ac-/cident lack” em “The Fish”), muito ao gosto de Augusto de Campos, que tentei reproduzir, juntamente com o uso estranho do vocabulário.

O Guilherme me concedeu bondosamente o volume dele da tradução de José Arantes, e verifiquei que os 3 poemas que eu selecionei aqui, por coincidência (ou não, afinal, são 3 poemas algo famosos) foram publicados em sua tradução. Transcrevo-os abaixo, então, juntamente com as minhas traduções – e, assim, poderemos ver como, curiosamente, as soluções escolhidas por nós dois foram bastante distintas.

(Fonte: http://escamandro.wordpress.com/2012/10/05/3- por Adriano Scandolara – 05/10/2012)

(Fonte: Veja, 14 de fevereiro de 1990 – ANO 23 – Nº 6 -– Edição 1117 -– Livros -– Pág: 80/82)

 

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