Marlon Brando, excêntrico, imprevisível e genial: o maior ator da história do cinema

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Ícone de Hollywood 

Considerado um dos maiores atores de sua geração, ganhou o Oscar por “Sindicato de Ladrões” e “O Poderoso Chefão”.

Marlon Brando (Nebraska, 3 de abril de 1924 – Los Angeles, 1° de julho de 2004), um dos mais importantes atores da história do cinema, que atuou em filmes como “O Poderoso Chefão”, “Sindicato de Ladrões”, “Uma Rua Chamada Pecado” e “O Selvagem”.

Em sua longa carreira, Brando foi premiado com Oscars por sua atuação em “Sindicato de Ladrões” (1954) e pelo filme “O Poderoso Chefão” (1972).
Nos últimos anos, o brilhantismo de sua carreira foi ofuscado por sua excentricidade e reclusão, sua tumultuada família e disputas financeiras.
Christian Brando, filho do primeiro casamento do ator, foi condenado a dez anos de prisão pelo assassinato do namorado de sua meia-irmã Cheyenne em 1990. Em 1995, Cheyenne cometeu suicídio aos 25 anos de idade.

Conhecido por sua imagem rebelde, sedutora e seus inúmeros romances, Brando estava muito acima de seu peso nos últimos anos. Ele afirmou, em uma entrevista em 1990, ter sofrido uma decadência física devido ao estresse de estar constantemente sob a mira do público.

“Sofri muita miséria em minha vida por ser famoso e rico”, declarou na ocasião.

Brando teve pelo menos onze filhos com três ex-esposas e com várias outras mulheres que passaram por sua vida.

Início:

Marlon Brando nasceu em 3 de abril de 1924, em Omaha, no Estado americano de Nebraska, filho de um vendedor e de uma atriz que liderava um grupo de teatro local. Em 1940, Brando entrou para a Academia Militar, em Fairbult, mas acabou sendo expulso por insubordinação. Em 1943 foi a Nova York, matriculou-se numa academia de teatro, dirigida pelo famoso Erwin Piscator, onde estudou o método de interpretação Stanislavski, com Setlla Adler.

Ele iniciou sua carreira como ator após mudar-se para Nova York, onde suas duas irmãs estavam estudando artes. Na cidade, Brando estudou com Stella Adler e na famosa escola de artes dramáticas Actors’ Studio. Marlon Brando morreu dia 1° de julho de 2004, aos 80 anos, em Los Angeles (EUA).

(Fonte: www1.folha.uol.com.br – Publicidade da Folha Online – 02/07/2004)

 

 

 

O PODEROSO BRANDO
TALENTO EXPLOSIVO – Contra o estúdio e contra todos, Francis Coppola deu ao ator, problemático e quase esquecido, seu papel mais lembrado: o Don Corleone de Chefão
O lendário Kowalski de Um Bonde Chamado Desejo: talento, beleza fizeram de Brando um ícone irresistível

Marlon Brando (1924-2004), excêntrico, imprevisível e genial: o maior ator da história do cinema. Numa época em que a dramaturgia americana passava por uma profunda transformação – e por um grande momento -, Brando reformulou, praticamente sozinho, o que siginificava atuar para uma câmera: não um ato dirigido para fora, para o espectador, mas voltado para o próprio interior. Marlon Brando morreu no dia 1° de julho, como um homem em dívida. Em dívida com seus credores, à ordem estimada de 20 milhões de dólares; com o dramaturgo Tennessee Williams, por ter escrito (não para ele, mas é como se fosse) a cena em que Stanley Kowalsky grita por sua amada, Stella, em Um Bonde Chamado Desejo, e que fez sua carreira: e com o diretor Francis Ford Coppola, que ressuscitou essa mesma carreira e a consagrou de forma definitiva ao imaginá-lo no papel de Don Corleone em O Poderoso Chefão. Muito mais endividado, porém, está o cinema para com Brando.

Hoje, no cinema D.B. – depois de Brando -, parece fácil constatar que a lente registra emoções, nuances e centelhas que o olho humano, desassistido, não é capaz de perceber. No cinema A.B. – antes de Brando -, porém, essa não era uma noção tão óbvia. A célebre cena de Sindicato de Ladrões (1954) em que Brando e seu irmão, interpretado por Rod Steiger, conversam no banco de trás de um carro elucida esse seu poder singular. Brando, um ex-boxeador decadente, faz com que a plateia mergulhe junto com ele em seu fracasso, decepção e mágoa, sem nunca se abrir para ela. Esse era o paradoxo que ele dominava tão bem, e que fez dele o maior ator da história do cinema: a capacidade de abstrair o observador e, exatamente por isso, colocá-lo em contato íntimo, pessoal e particular com seu personagem.

Revelado no fim dos anos 40, na Broadway, Brando virou um ícone praticamente de imediato. Com uma combinação quase sobrenatural de talento e beleza, era também um inconformista, um rebelde, um iconoclasta – enfim, o perfeito precursor das enormes transformações sociais que se acumulavam no horizonte planetário do pós-guerra – e um ator original em tudo. É comum que se atribua seu estilo naturalista, sua dicção deliberadamente imprecisa e a tensão de suas atuações ao “Método” que aprendeu de Lee Strasberg e Stella Adler no lendário Actors Studio, pelo qual passaram também vários de seus seguidores famosos, como James Dean e Robert De Niro.

Mas talvez fosse mais certo dizer que, com seu dom explosivo, Brando é que fez a força do Método. Sinal disso é que, apesar de construírem carreiras bem mais estáveis, nemhum de seus pares jamais conseguiu se provar tão eletrizante. Brando era um ator sem noção de perigo ou senso de autopreservação – um gênio sem rédeas, e que por isso mesmo, como está escrito no destino dos humanos desprovidos das amarras do senso comum, viveu uma vida alucinada, que terminou por se consumir de maneira tão melancólica.

Durante a juventude, Brando desenpenhou o papel esperado do herói belo e privilegiado – que terminará destroçado no fim da história. Fez sexo com todas as mulheres que pôde – e ninguém podia mais do que ele -, casou-se e divorciou-se em situação hostil de três delas, teve pelo menos nove filhos (as contas variam, e diz-se que ainda não foram fechadas), bebeu e comeu quanto quis, torrou dinheiro à vontade e encontrou o refúgio supostamente perfeito quando comprou uma ilha – Tetiaroa, no Taiti, pela qual caiu de amores durante as filmagens de O Grande Motim, em 1962, ao mesmo tempo que se apaixonou pela estrela do filme, Tarita Teriipía. Na meia-idade, os efeitos desse apetite desenfreado já eram visíveis.

Francis Ford Coppola teve de brigar com os executivos da Paramount para tê-lo em o O Poderoso Chefão. Na opinião dos produtores do filme, e de todo o meio cinematográfico, Brando era excêntrico, difícil, preguiçoso, pouco confiável e, de modo geral, um ídolo morto e enterrado (execto pela última parte, claro, estavam cobertos de razão). Com O Poderoso Chefão e O Último Tango em Paris, porém, o astro parecia estar se encaminhando para reprisar sua marca dos anos 50, quando fora indicado ao Oscar quatro vezes consecutivas. Mas escolhas como o papel de Jor-El em Super-Homem (pelo qual ganhou 4 milhões de dólares, um escândalo à época, em três semanas de trabalho) e a aparição magnífica, mas assustadora, em Apocalypse Now dissiparam qualquer ilusão a esse respeito.

Patologicamente obeso e psicologicamente instável, Brando viveu o seu crepúsculo de deus do cinema em todas as suas deprimentes etapas. As tragédias domésticas misturavam-se à decadência individual. Em 1990, seu filho Christian matou o namorado da irmã Cheyenne e enfrentou um julgamento marcado por insinuações de incesto e dissolução familiar. Em 1995, Cheyenne se suicidou na casa da mãe, no Taiti. O Brando da última década era um homem cada vez mais bizarro, que só lembrava a figura gigantesca de outrora em seus rompantes ocasionais – como o beijo na boca do apresentador Larry King, durante uma entrevista.

Na última semana, quando ainda não se sabia de sua internação em um hospital de Los Angeles, veio a público que a decadência do ator era mais impressionante do que se imaginava. A situação financeira de Brando nos últimos tempos era calamitosa: segundo a americana Patricia Ruiz, que acaba de publicar uma biografia do ator, suas dívidas (muitas delas contraídas durante o julgamento de Christian, quando contratou um esquadrão de advogados) somavam 20 milhões de dólares. Acossado, estava morando sozinho num apartamento de um quarto, sujo e dilapidado, onde escondia seus dois Oscar – por Sindicato de Ladrões e por O Poderoso Chefão – dos cobradores.

O fim de Brando tem uma triste simetria com suas origens, também elas precárias e infelizes. Nascido em Omaha, no Estado de Nebraska, em 1924, ele foi criado por um pai e uma mãe alcoólatras e indiferentes – ou, nos piores momentos, violentos -, e dizia que atuar era uma consequência quase que direta do seu ambiente familiar. “Quando se é um filho indesejado, procura-se uma identidade que pareça aceitável.” Brando encontrou várias – quase todas indeléveis. Brando morreu no dia 1° de julho de 2004, aos 80 anos.

 

(Fonte: Veja, 7 de julho, 2004 –- ANO 37 – Nº 27 – Edição 1861 –- Memória/ Por Isabela Boscov – Pág; 52/53/54)

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