Mary Renault (Londres, 4 de setembro de 1905 – Cidade do Cabo, África do Sul, 13 de dezembro de 1983), foi uma romancista inglesa que se especializou na reconstituição romanceada da vida e dos costumes da Grécia Clássica, como por exemplo em Deuses e Heróis, que tem como figura principal o poeta Simônides de Ceos, do século VI a.C.
A romancista inglesa Mary Renault, que há trinta anos vivendo na Cidade do Cabo, África do Sul, resolveu esclarecer de como era a vida cotidiana da época da Grécia Clássica, como os livros de História costumam tratar apenas de heróis e de seus feitos públicos.
Debruçou-se sobre livros de História, de Tucídes a historiadores contemporâneos, e registrou em Deuses e Heróis, através das supostas memórias do poeta Simônides de Ceos (556 a.C. – 468 a.C.) – famoso por seus epigramas e por sua ode aos espartanos caídos na batalha de Termópilas – somos informados do dia-a-dia na Grécia, no tempo de vida do poeta e do período.
O que se tem não é propriamente um livro de História, mas um romance histórico. Ou melhor: tem-se ao mesmo tempo um romance histórico e um livro de História, pois, se permite criar um entrecho e deixar a imaginação voar onde os documentos são falhos, no restante a autora se escora firmemente na pesquisa.
O ponto de partida é um Simônides que, já velho, decide passar sua vida em revista, e a ênfase será sempre nos fatos miúdos do dia-a-dia. O Simônides recriado por Mary Renault chega a deixar de fora batalhas como as de Termópilas, Maratona e Salamina, para se concentrar na vida cotidiana.
Não se trata da primeira incursão da autora no gênero. Antes, ela já produzira fascinantes narrativas sobre Alexandre da Macedônia e sobre o herói mítico Teseu, vencedor do Minotauro. Em todos os livros, há uma constante: a informação histórica nunca é pedante e deslocada.
No final de Deuses e Heróis, Mary Renault acrescenta uma citação de fontes e personagens, além de uma cronologia do período tratado. Como Robert Graves, em seus romances sobre o mundo romano, e Gore Vidal, no seu Criação, um grande painel do mundo anterior à Magna Grécia, Mary Renault trata a Antiguidade com precisão e conhecimento. Mas, como Graves e Vidal, sabe acrescentar a dose exata de paixão.
(Fonte: Veja, 30 de maio de 1984 – Edição 821 – LIVROS/ Por João Cândido Galvão – Pág: 108)