Max Brod, escritor em língua alemã de origem judaica, aquele que foi o melhor amigo de Franz Kafka.

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O HOMEM QUE SALVOU FRANZ KAFKA

Kafka: desobediência do amigo revelou o autor.

 

 

Max Brod (Praga, 7 de maio de 1884 – Tel Avive, Israel, 20 de dezembro de 1968), jornalista, escritor em língua alemã de origem judaica, formado em Direito. Foi amigo, biógrafo, organizador e testamenteiro de Franz Kafka.
Quando Franz Kafka escreveu um dia que “os homens só atingem a grandeza superando a sua própria pequenez” era incapaz de imaginar que, anos mais tarde, essa seria a melhor frase que se poderia encontrar para definir Max Brod, aquele que foi o seu melhor amigo. Nascido em Praga, na Checoslováquia, em maio de 1884, e falecido em dezembro de 1968, em Tel Avive, em Israel. Max Brod viveu 84 anos para demonstrar que a melhor de suas obras foi um gesto de amizade: autor de diversos ensaios sobre o sionismo, de romances como “Cícero”, “O Caminho de Tycho Brahe até Deus”, peças como “Galileu na prisão”, e até de uma partitura, o “Requiem Hebraicum”, foi ganhando a eternidade para Kafka, com a edição de suas obras, que Max Brod mereceu, ao morrer, as manchetes dos jornais.

K. em versão otimista – Tal como Franz Kafka, nascido de família israelita de Praga, Max Brod, que era literáriamente um fascinado pelo bom estilo, encontrou nos fragmentos da prosa inquieta do jovem amigo da primeira década do século 20 a indicação de um grande escritor. Embora já formado em Direito e trabalhando como funcionário público, Max Brod ainda encontrou tempo para incentivar Franz Kafka à publicação do seu primeiro livro, “Considerações”, em 1913. Por essa época, Max Brod já se dedicava com tanta simpatia ao amigo estranho, e às vezes irritado, que conseguia convencê-lo a ordenar sob a forma de diário o “jornal íntimo”, iniciado em 1910. Anos depois, em sua biografia de Kafka, seria ainda a admiração que levaria Max Brod a ser acusado de descrever a figura sinuosa do amigo com exagerado otimismo.

A maneira de Kafka pagar tanta amizade – o que seria ainda irrisório para a glória de Max Brod – foi citá-lo obsessivamente em seus “Diários”. Por essas citações, ainda hoje é impossível saber se Kafka procura realmente se libertar de uma influência tirânica, ou se isso apenas demonstra que Max Brod era considerado pelo autor de “O Castelo” uma espécie de pai ou psicanalista. “Hoje é o dia de teu aniversário” – escrevia Kafka a Max Brod, num desses momentos decisivos para a compreensão da sua amizade pelo grande admirador – “e não te envio o presente habitual de um livro porque isso seria apenas uma exterioridade; no fundo, não estou nem em condições de te enviar um livro de presente. Só porque preciso tanto, hoje, um instante, nem que seja por meio deste cartão, estar perto de ti, escrevo-te e já começo com as minhas lamentações, para que me reconheças”.

Um amigo como poucos – Era Max Brod quem levava Kafka ao teatro da colônia judaica de Praga, onde o amigo o imitava, às vezes de forma irônica (“Quantas vezes faço imitações de Max”, confessa Kafka). Era Brod quem o apresentava a mulheres belas, vencendo a sua timidez, e ainda quem um dia o acompanhou numa viagem à Suíça, Itália e França. Em Paris, ao sentarem-se os amigos em um bar fronteiro à Ópera Comique, após uma exaustiva visita ao Museu do Louvre, era ainda Max Brod que derrubava desajeitadamente uma garrafa de soda, molhando a roupa, para que Franz Kafka pudesse dar uma das maiores gargalhadas de sua vida.

Em troca de tudo isso, Max Brod pedia pouco – como uma vez, numa tarde de chuva, em um café de Praga, insistindo para que o amigo ouvisse o primeiro ato da sua peça: “Despedida da Juventude”. Quando em 3 de junho de 1924 Franz Kafka morreu, no sanatório de Kierling, em Klosterneuburg na Áustria, pedindo ao amigo que queimasse os manuscritos originais de “América”, “O Castelo”, “O Processo”, “A Muralha”, “Um Campeão de Jejum” e de seus “Diários”, Max Brod ia cometer sua primeira infidelidade. Ao invés de queimar os originais de um homem que sentia ser, em parte, uma obra da sua amizade, Max Brod preferiu mergulhar nos treze cadernos manuscritos de Franz Kafka, para encontrar o fio condutor de um labirinto no fundo do qual o autor de “O Processo”, como uma esfinge, permanecia nebuloso. Max Brod se realizava.

(Fonte: Revista Veja, 1° de janeiro de 1969 – Edição 17 – LITERATURA – Pág; 56)

OBS: Para ver textos de Kafka na íntegra, favor acessar pág; 57)

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