Max Ernst: um audacioso, inquieto e permanente inventor de técnicas
Max Ernst (Brühl, Alemanha, 2 de abril de 1891 – Paris, 31 de março de 1976), artista surrealista alemão, naturalizado francês. Pintor, escultor, poeta e escritor franco-alemão.
Espremido, de um lado, pelo estrepitoso e eficaz aparelho de autopromoção montado pelo espanhol Salvador Dali, e, de outro, pelos talentos inequivocamente maiores do também espanhol Joan Miró e do belga René Magritte, coube ao alemão Max Ernst uma espécie de quieta e quase discreta posição entre os grandes nomes da pintura surrealista. Não lhe faltou, por certo, o reconhecimento ainda em vida, nem a glorificação de expor um grande balanço de um ano, no Grand Palais de Paris. Nele, a crítica mais rigorosa conseguiu detectar sinais de uma certa fadiga e redundância: “Ernst se repete, seus desequilíbrios se evidenciam. Ainda assim, foi impossível não louvar a audácia desse inquieto e permanente experimentador, inventor de técnicas, e um dos mais autênticos surrealistas, no sentido originalmente proposto pelo movimento.
Ernst nasceu perto de Colônia, em abril de 1891, e ao longo de sua vida se tornou homem do mundo, vivendo ora na Europa, ora nos Estados Unidos, casando-se (por pouco mais de seis meses, em 1940) com a milionária herdeira e mecenas americana Peggy Guggenheim, e finalmente concentrando seu tempo na França, cuja cidadania adquiriu em 1958.
Seus primeiros contatos com os surrealistas aconteceram em 1922, em Paris. Já àquela altura o jovem Ernst participara do movimento dadaísta de Colônia, fundara uma revista, “Die Schammade”, se envolvera em episódios mais estrondosos que estéticos. “Penso sempre que uma arte nova só pode nascer da destruição e da provocação”, diria ele bem mais tarde, numa entrevista de 1971. Talvez por temperamento, entretanto (pois é fácil encontrar, ao longo da vida do artista, mais de um episódio em que se manifesta seu lirismo), Max Ernst, junto aos surrealistas parisienses, preferiu adotar uma arte mais comportada. E a técnica que na época descobriu – o frottage se constituiu de fato na única tentativa de se transpor, para o universo visual, processos de criação do surrealismo poético.
Fundamentado em poemas (André Breton, Paul Eluard, Philipe Souppault), o surrealismo pregava uma uma “escrita automática pura”, uma espécie de associação livre de palavras e ideias, da qual nasceriam o texto e o poema. O frottage constava em colocar sob a folha de papel objetos diversos, esfregando o lápis por cima, e obtendo assim formas estranhas e fantásticas. Sobre elas, o artista trabalharia depois, racionalmente, desenvolvendo o quadro até o fim. Nesse jogo entre o casual e a vontade, entre o inconsciente e o consciente, estaria o ideal por excelência da obra surrealista. E Max Ernst sem dúvida o encarnou, ao se caracterizar, segundo escreveu um de seus críticos – “no mestre do acidente provocado e do acaso controlado”.
Visualmente, o resultado de seu trabalho foi uma obra vasta, cheia de ideias, desigual, contraditória e instigante. De todos os surrealistas, Ernst é o único que não se pode reduzir a uma só fórmula. Oscilando entre a figura e a abstração, criando climas e texturas, ora lírico, ora dramático, o pintor franco-alemão apenas comprovou, mais uma vez, o quanto, em arte, a irrealidade pode ser maior que a realidade. Max Ernst morreu no dia 31 de março de 1976, aos 85 anos, em Paris.
(Fonte: Veja, 7 de abril de 1976 – DATAS – Edição 396 – Pág; 57)
(Fonte: Veja, 4 de junho de 1975 – DATAS – Edição 352 – Pág; 32)
MESTRE MODERNO
Max Ernst, pintor surrealista, do início da arte moderna, da vegetação quase humana de suas telas. Suas pinturas são referências obrigatórias para qualquer iniciação à arte do século XX.
Max Ernst participou da primeira exposição coletiva do surrealismo em Paris, em 1925, na pequena Galerie Pierre. Ao seu lado, Miró, De Chirico, Picasso, Jean Arp e Man Ray. No entanto, se todos os artistas tivessem que seguir a definição publicada no “Manifesto Surrealista” do ano anterior por André Breton, talvez somente Miró estivesse dentro das regras exigidas.
Segundo o manifesto, era preciso ir além de qualquer preocupação moral ou estética e não permitir que a razão exercesse censura ou controle de espécie alguma. Alemão de Colônia, francês naturalizado e falecido em março de 1976 em Nova York, mudou muito a orientação da sua obra. Fundador em 1919 do movimento dadaísta em Colônia, gradualmente tornou-se um nome consagrado até receber o Grande Prêmio da Bienal de Veneza em 1954. E, das ideias irreverentes e arrojadas da mocidade, voltou aos meios tradicionais para criar apenas figuras de sonho.
(Fonte: Veja, 13 de maio de 1981 – Edição 662 – Arte/ Por MARCO ANTÔNIO DE REZENDE, de Roma – Pág: 110/111)