Gracias a la vida
Mercedes Sosa (San Miguel de Tucumán, Argentina, 9 de julho de 1935 – Buenos Aires, 4 de outubro de 2009), lendária cantora argentina, intérprete de um dos grandes hits dos anos 70, Gracias a la Vida, que embalou os movimentos de Esquerda na América Latina.
Considerada a “Voz da América Latina”, era chamada carinhosamente por seus amigos e admiradores por “La Negra”.
Famosa por dar voz a clássicos como Volver a los 17 e Gracias a la Vida, Mercedes ignorou fronteiras artísticas e geográficas, ao dividir canções, álbuns e palcos com Milton Nascimento, Charly García, Fagner, Antonio Tarragó Ros, Beth Carvalho, Kleiton & Kledir, Shakira, Caetano Veloso e Fito Páez.
A firmeza das convicções políticas de Mercedes obrigou a cantora a exilar-se em Madri entre 1979 e 1982, depois de receber ameaças de morte. Em 1980, durante um show no Gigantinho, alguém detonou uma bomba de efeito moral para inviabilizar o concerto da argentina.
Mercedes assumiu o comando com sua voz e acalmou o público, que se juntou a ela em um coro emocionado. Anos mais tarde, Mercedes recebeu uma homenagem mais formal de parte dos gaúchos: em 1996, ela foi agraciada com a Medalha Simões Lopes Neto, outorgada pelo governo do Rio Grande do Sul.
Um dos últimos reconhecimentos que Mercedes recebeu foram três indicações para o Grammy Latino 2009 pelo álbum Cantora. O anúncio do vencedor será no dia 5 de novembro em Las Vegas, mas o resultado da vida de Mercedes já é conhecido desde há muito tempo: La Negra iluminou alguns dos tempos mais escuros que a América Latina já experimentou.
Uma voz do tamanho da América
Luiz Carlos Borges acompanhou as últimas horas de Mercedes Sosa em Buenos Aires. No sábado à tarde, ele cantarolou ao ouvido de Mercedes uma das músicas preferidas da cantora, Missioneira (de Borges e Mauro Ferreira), que começa com os versos Eu pela noite negra dos teus cabelos / Tu acendendo estrelas pra me guiar.
O acordeonista gaúcho participou da última turnê internacional de La Negra, realizando shows na Alemanha e em Israel, em outubro e novembro do ano passado. Borges, que contabiliza mais de 50 shows ao lado da argentina, diz que a amiga seguia disciplinada, exigente e generosa como sempre:
Durante um show em Jerusalém, troquei uma palavrinha de Missioneira por um sinônimo. E, no palco mesmo, enquanto me beijava, ela me sussurrou que eu tinha que aprender a letra.
À memória de uma artista perfeccionista, Borges agrega o papel de alguém que pensava e sonhava o folclore. Desde que os dois se conheceram, em 1984, Mercedes sempre insistiu em que a música regional devia ser autêntica mas aberta a influências, usando as palavras Temos de partir da raiz, mas fazer com que nasçam flores.
A argentina Mercedes Sosa morreu dia 4 de outubro de 2009, aos 74 anos no hospital Trinidad, em Buenos Aires, de complicações renais e pulmonares, além de problemas cardíacos.
Para Borges, é difícil quantificar a extensão da perda com a morte de Mercedes:
Desconheço quem tenha revelado tantos valores, e não só da Argentina. Ela cantou chilenos, bolivianos, colombianos e brasileiros. Posso compará-la a uma águia, imponente, com uma visão ampla da cultura.
(Fonte: Zero Hora - Ano 46 - N° 16.105 - Segundo Caderno/Renato Mendonça - 05/10/09)
(Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/musica – 445614 – CULTURA – MÚSICA – DA REDAÇÃO, COM ASSOCIATES PRESS – 4 de outubro de 2009)