Miles Davis: revoluções musicais
Miles Davis (Alton, Illinois, 26 de maio de 1926 – Santa Mônica, Califórnia, 28 de setembro de 1991), músico e trompetista.
O compositor e trompetista que ao lado de grandes nomes como, Louis Armstrong (1901-1971), Duke Ellington (1899-1974), Charlie Parker (1920-1955) e Dizzy Gillespie (1917-1993), figurou como um dos jazzistas mais influentes e inovadores do século XX.
Criador do reverenciado álbum “Kind of Blue” (1959), que redefiniu o jazz naquela virada de década, Miles Davis foi fundamental ao instituir uma nova forma de construção do gênero. Com uma trajetória de quase meio século de música, Davis soube moldar o estilo às novas demandas do mercado da música ao longo da carreira.
Filho de um dentista e de uma professora de música, Miles Dewey Davis Jr. nasceu em 25 de maio de 1926, em Alton, no Estado de Illinois (EUA). Aos 13 anos, teve seu primeiro contato com o trompete, quando ganhou o instrumento de presente do pai.
Miles Davis começou a se apresentar no início dos anos 40 em East St. Louis, cidade para onde sua família havia se mudado quando criança. Anos mais tarde, foi estudar na renomada Juilliard School of Music, em Nova York. Mas sua experiência musical naqueles anos foi adquirida dos encontros com os já consagrados Charlie Parker e Dizzy Gillespie, quando protagonizaram em meados dos anos 40 a chegada do bebop, um jeito mais sofisticado e complexo de fazer jazz. Esse período coincidiu com o sepultamento do swing, uma vertente dançante do gênero.
Entre 1949 e 1950, com o pianista e arranjador Gil Evans (1912-1988), Davis lidera as gravações de Birth of the Cool, álbum que deu origem ao cool jazz, uma variante lírica e introspectiva do gênero, e principal influência para a criação da Bossa Nova.
Durante os anos 50, além de “Kind of Blue”, tido pela crítica como uma das produções mais relevantes da história do jazz, Miles Davis lançou ainda álbuns como “Conception” (1951) e “Walkin’”(1954), ambos com a participação de Stan Getz (1927-1991). Em 1956, concebeu “Round About Midnight“, que contou com o então principiante e desconhecido John Coltrane.
No final dos anos 60, a trajetória de Miles Davis foi marcada pelo surgimento do que ficou conhecido como jazz fusion, com o lançamento do polêmico Bitches Brew (1970), disco duplo gravado em 1969, ano em que o músico radicalizou ao fundir o jazz com outros estilos musicais como o rock, o soul e o funk. Essa nova vertente eletrificada do jazz, com guitarra, baixo elétrico e percussão, já era sinalizada nos três álbuns anteriores: “Miles in the Sky”, “Filles de Kilimanjaro” (ambos de 1968) e “In a Silent Way” (1969). Criticado pelos ouvintes mais puritanos, o álbum serviu de referência para as bandas de rock progressivo, que começavam a surgir naqueles anos. Outro destaque da década foi a descoberta do jovem pianista Herbie Hancock, que em 1963, a convite de Davis, passou a integrar o seu quinteto.
NO BRASIL
Miles Davis esteve pela primeira vez no Brasil em 1974, quando se apresentou no Teatro Municipal do Rio e de São Paulo. Foram cinco shows entre os meses de maio e junho. Dois anos depois, debilitado pelo uso excessivo de heroína, ficou durante cinco anos sem pisar nos palcos, retornando apenas em 1981 com o disco “The Man with de Horn”.
Em 1985, a inquietude o leva ao lançamento de “You’re Under Arrest”, onde, em mais um momento de experimentações, interpreta as canções “Human Nature” –sucesso na voz de Michael Jackson– e “Time After Time”, de Cyndi Lauper.
No ano seguinte, após 12 anos, Davis retorna ao Brasil pela segunda e última vez para uma apresentação no Palácio das Convenções do Anhembi. Uma terceira vinda ao país, para a edição de 1988 do Free Jazz Festival, foi cancelada por razão de uma pneumonia.
Em entrevista cedida ao jornal francês “Le Monde”, em junho de 1991, Miles Davis declarou que pretendia se aposentar no ano seguinte, mas o destino não permitiu. Entretanto o músico ainda teve tempo de fundir o jazz ao hip hop, com o lançamento póstumo do álbum “Doo-Bop” (1992), em parceria com o produtor Easy Mo Bee, abrindo assim mais um caminho no cenário musical daqueles anos.
Nos 20 anos de sua morte, em 2011, o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) trouxe para o Rio a exposição “We Want Miles”, onde, além de expor instrumentos, fotografias e objetos pessoais do músico, também mostrou o lado pintor do Picasso do Jazz, como também era chamado. A mostra também foi realizada em São Paulo, no Sesc Pinheiros.
Outro presente para os fãs foi o lançamento em abril deste ano do filme “Miles Ahead“, protagonizado e dirigido pelo ator americano Don Cheadle. O filme é ambientado na segunda metade dos anos 70, período em que o músico passava por sérios problemas de saúde, e tentava derrotar a sua maior inimiga, a heroína.
No jazz, Davis teve importância equivalente a Igor Stravinski na música erudita e a Pablo Picasso nas artes plásticas. Como esses dois gênios, ele foi um inovador, que participou de todas as correntes jazzísticas de seu tempo. Nos anos 40, foi um dos pais do bebop – movimento que virou o jazz do avesso ao incorporar às escadas do blues as dissonâncias da música contemporânea. Na década seguinte, ajudou a inventar o cool jazz, transformando o som abafado de trompete em marca registrada dos anos 50. Com o declínio do jazz e a ascensão do rock, Miles fez uma mistura entre os dois gêneros e inventou o fusion – a bordo do qual conseguiu, nos anos 70 e 80, as maiores vendagens de sua carreira.
Miles teve uma vida agitada, usufruindo em ritmo alucinado a fortuna que amealhou. Gastava seu dinheiro com casas e carros suntuosos, mulheres estonteantes, drogas pesadas e internações em hospitais para se livrar delas. Chegou a interromper a carreira por cinco anos, entre 1975 e 1980, para se dedicar ao consumo de cocaína e a orgias sexuais. Minada pelo vício e pelos excessos, sua saúde foi definhando até que uma combinação de pneumonia, apoplexia e falha respiratória o levou à morte, no dia 28 de setembro de 1991, aos 65 anos, em Santa Mônica, Califórnia, Estados Unidos.
(Fonte: Veja, 9 de outubro de 1991 - ANO 24 - N° 24 – Edição 1203 - DATAS – Pág; 102)
(Fonte: http://acervofolha.blogfolha.uol.com.br/2016/09/28 – ACERVO FOLHA – PERFIL COMPLETO/ POR LUIZ CARLOS FERREIRA – 28/09/2016)
Miles Davis efetivamente constitui, sozinho, um capítulo à parte dentro do jazz. Pode-se dizer, sem medo de errar, que ele foi uma verdadeira força propulsora do jazz durante mais de quarenta anos. Seu som ao trompete, puro, macio e quase sem vibrato, emitido frequentemente com o uso da surdina, e seu fraseado conciso e despojado tornaram-se marcas registradas. Sua personalidade difícil, às vezes contraditória, também. Fundador do cool jazz, do jazz modal, do jazz-rock e da fusion, Miles fez da renovação das linguagens o principal impulso gerador de sua música.
Sua carreira, inciada dentro do bebop, apresentou uma fase brilhante já em 1948-1950, com a formação da célebre Miles Davis-Capitol Orchestra, onde o genial arranjador Gil Evans começou a escrever verdadeiras obras-primas que davam todas as condições para a expressividade de Miles. A colaboração Miles-Evans continuou ao longo dos anos 50. Os arranjos de Evans não têm paralelo em nenhuma big band: trata-se de peças impressionistas, com estruturas elaboradas, texturas timbrísticas sofisticadas, revelando influências variadas que incluíam, por exemplo, a música espanhola.
Paralelamente ao trabalho com Gil Evans, Miles dava, a partir de 1949, os contornos ao nascente estilo cool, eminentemente apropriado à sua maneira intimista de tocar, gravando as sessões intituladas Birth of the Cool.
De 1956 em diante, Miles lidera um quinteto / sexteto que, através de suas várias formações, entraria para a história do jazz. Para se ter uma ideia dos talentos envolvidos, inicialmente o quinteto contava com o saxofonista John Coltrane, o pianista Red Garland, o contrabaixista Paul Chambers e o baterista Philly Joe Jones; esta formação gravou a série de discos intitulados Relaxin, Workin, Steamin e Cookin. Com a entrada do sax alto Cannonball Adderley, o conjunto se tranformou no sexteto que gravou Milestones. Em 1959 Red Garland foi substituído por Bill Evans e Wynton Kelly, que se revezavam ao piano, e Jones cedeu o lugar a Jimmy Cobb, no sexteto que gravou um dos discos mais cult do jazz de todos os tempos, Kind of Blue. Com esse grupo, Miles começou a explorar o jazz modal, usando combinações harmônicas mais livres do que a harmonia tonal tradicional, e improvisando mais sobre os acordes do que sobre a melodia do tema. Em 1960-1961, houve pequenas mudanças, mas a base era mantida: ora Cannonball Adderley cedia o lugar a Sonny Stitt ou Hank Mobley, ora Jones voltava a assumir a bateria; o grupo também podia se reduzir a um quinteto, com apenas Coltrane ao tenor.
Paralelamente ao trabalho com quinteto e sexteto, Miles retoma a colaboração com Gil Evans e grava (respectivamente, em 1958 e 1960) duas obras-primas absolutas com orquestra: Porgy and Bess e e Sketches of Spain.
Em 1964 surgiu uma formação inteiramente nova do sexteto, com George Coleman ao sax tenor, Herbie Hancock ao piano, Ron Carter ao contrabaixo e o brilhante adolescente Tony Williams à bateria. (Hancock, Carter e Williams ocasionalmente foram substituídos, respectivamente, por Frank Butler, Richard Davis e Victor Feldman). Em 1965 a chegada do talentoso saxtenorista e compositor Wayne Shorter dá consistência ainda maior ao grupo. Ao lado de Shorter, Hancock, Carter e Williams, Miles grava discos como E.S.P., Miles Smiles, Sorcerer, Nefertiti e são recolhidos notáveis registros de shows ao vivo no Plugged Nickel Club de Chicago (hoje restaurados em sua totalidade, constituindo aquilo que Richard Cook e Brian Morton denominaram “a Pedra de Roseta do jazz moderno”).
No final dos anos 60, Miles se encaminha para mais uma renovação estética, começando a fazer experiências com a fusão entre jazz e rock. Nessa fase, fica novamente em evidência uma faceta de Miles que já havia se manifestado com o quinteto dos anos 50: o descobridor de talentos. Para formar seus conjuntos de jazz-rock, Miles convoca os tecladistas Herbie Hancock, Chick Corea e Joe Zawinul, os bateristas Tony Williams e Jack DeJohnette, os contrabaixistas Dave Holland e Ron Carter, o guitarrista John McLaughlin, o saxofonista Wayne Shorter, o organista Larry Young, entre outros. O jazz-rock, do qual Miles estava se aproximando gradativamente com os discos In a Silent Way e Filles de Kilimanjaro, nasce efetivamente com o revolucionário (e ainda hoje moderno) álbum duplo de 1969, Bitches Brew.
Com Live/Evil, de 1970, e alguns outros discos até 1972, encerra-se uma fase na carreira de Miles e tem início outra, ainda mais controversa que a de Bitches Brew. Durante os anos 70 e 80, Miles continua realizando experiências com a integração de linguagens, renovando completamente seus conjuntos com músicos pouco conhecidos, afastando-se do jazz (mesmo do jazz-rock) e aproximando-se do funk até do hip-hop. Mas, como se trata de Miles, nem por isso tal fusão se torna trivial ou comercial. Embora as opiniões se dividam acerca das obras desse período, o som de Miles continua inconfundível, e sua poderosa mente musical continua claramente no controle.
Em 28 de setembro de 1991 o trompete de Miles silencia. Sua obra – vasta, multifacetada, evolutiva, desbravadora, ora hermética, ora lírica – irá certamente fornecer material para análise e motivo de puro deslumbramento para muitas gerações.
(Fonte: www.ejazz.com.br - V. A. Bezerra, 2001)
No dia 25 de maio de 1926 - Nasce Miles Davis, músico e trompetista.
(Fonte: Correio do Povo - Ano 114 - Nº 237 - Geral - Cronologia/ RENATO BOHUSCH – 25 de maio de 2009 - Pág; 15)
Em 26 de maio de 1926 – Nasce, em Alton, Illinois, EUA, Miles Davis (Miles Dewey Davis Jr.), instrumentista e compositor de jazz, falecido em Santa Monica, Califórnia, 28 de setembro de 1991.
(Fonte: www.correiodopovo.com.br – ANO 116 – Nº 238 - Cronologia – 26 de Maio de 2011)