Milton da Silva Bittencourt (Salvador, 18 de abril de 1915 – Rio de Janeiro, 1º de maio de 1990), seu nome de batismo, mas adotou o pseudônimo de Zé Trindade como um artifício para esconder da família severa sua atuação nas comédias da rádio baiana.
Se o comediante Zé Trindade não tivesse feito nada mais do que cunhar o grito de guerra “Mulheres, cheguei” e o verbo paquerar, dicionarizado e consagrado pelo uso, sua contribuição à cultura popular já seria notável. Foi, durante meio século, o inesquecível mulherengo da comédia brasileira. Deixou a imagem irreverente do malandro que burlava a vigilância da mulher feia e tirana para paquerar qualquer beldade que surgisse à sua frente. A carreira de Trindade teve início em 1935 na Rádio Sociedade, de Salvador, a cidade onde nasceu. O sucesso em Salvador empurrou Trindade para o Rio de Janeiro. Em 1945, ele foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga, cujos programas humorísticos rivalizavam, na época, com a programação da legendária Rádio Nacional.
Foi no cinema que Trindade conheceu o auge da carreira. À frente de 36 chanchadas – o gênero de comédias que dominou o cinema brasileiro na década de 50 -, seu personagem típico só perdia em popularidade para Oscarito e Grande Otelo. Seus maiores sucessos no cinema são Camelô da Rua Larga (1958), Marido de Mulher Boa (1960) e Mulheres, Cheguei! (1961). A trajetória de Trindade ficou de tal forma impregnada pelo sucesso das chanchadas que, a partir dos anos 60, quando este tipo de comédia entrou em decadência, ele só conseguia papéis secundários em programas humorísticos da televisão, como Balança Mas Não Cai e Chico Anysio Show. Seu último trabalho para o cinema foi uma ponta na produção Um Trem para as Estrelas, de 1987, do cineasta Cacá Diegues, no qual desempenhou mais uma vez o papel do malandro dominado e perseguido pela mulher. Nos últimos anos, Zé Trindade passava o tempo escrevendo poesias em sua casa à beira-mar, no município de Iguaba Grande, no Rio de Janeiro.
O comediante Zé Trindade morreu dia 2 de maio de 1990, aos 75 anos, de câncer no pulmão, no Rio de Janeiro.
(Fonte: Veja, 9 de maio, 1990 – ANO 23 – Nº 18 - Edição 1129 - Datas - Pág; 74)