Fundador da Yakult conseguiu integrar lucro e impacto social como poucos
Minoru Shirota (Iida, Nagano, Japão, 23 de abril de 1899 – 10 março de 1982), fundador da Yakult
Por fazer tão parte da vida das pessoas, a Yakult quase nunca é lembrada como negócio de impacto social. E pelo fato de boa parte da sua trajetória e do seu empreendedor estar em japonês, o resto do mundo só se lembra da pequena embalagem e do sabor inconfundível do seu leite fermentado.
Mas se você já empreende ou pretende criar um negócio que integre lucro e impacto social, a sabedoria empreendedora de Minoru Shirota, fundador da Yakult, pode trazer inspirações para que crie negócios grandes não só em tamanho, mas grandiosos em seu impacto.
Estude, pesquise e empreenda por uma causa: O Japão da década de 1910 tinha o padrão de vida de muitos países africanos atualmente. As condições sanitárias eram péssimas, a comida pouca e as pessoas, principalmente, as crianças morriam em função de graves problemas intestinais. Mesmo de origem rica, Minoru Shirota decidiu cursar medicina em 1921 com o único objetivo de reduzir a mortalidade infantil que tinha visto em sua adolescência. Intrigado com o trabalho do cientista russo, Ilya Metchnikov, que havia ganho o prêmio Nobel em 1908, começou a estudar como as bactérias poderiam ter efeitos positivos na saúde humana. Em 1930, conseguiu desenvolver um tipo de lactobacilo que impedia a proliferação de bactérias intestinais nocivas. Com isso, conseguiu uma solução para reduzir diversas doenças intestinais.
Pense global: A partir da sua descoberta, decidiu montar um negócio em 1935. Mas antes de criar a empresa em si, ele definiu os pilares que o negócio deveria se sustentar: 1) Medicina preventiva (promover a saúde é muito melhor do que ficar doente e ter se tratar depois), 2) A longevidade através da saúde intestinal (intestino mais “forte” permite desfrutar uma vida mais longa e saudável) e 3) Boa saúde acessível a todos (o maior número de pessoas deveria ter acesso com a melhor relação custo-benefício). Este último critério, em especial, o levou a pensar em um negócio que poderia se expandir além do Japão, daí a preocupação em escolher um nome que soasse mais globalizado: Yakult deriva do termo iogurte em esperanto.
Crie um design icônico: Muitas pessoas, com os olhos fechados, reconhecem a embalagem do Yakult atualmente. E era esta justamente sua intenção ao criar diferentes embalagens até a versão atual lançada em 1940. A embalagem também deveria ter outras funções: caber nas mãos de uma criança e que fosse divertido o seu consumo.
Ofereça conveniência: Para permitir que mais pessoas tivessem acesso ao seu produto, em 1960, a Yakult desenvolve um sistema de entregas domiciliares feito por senhoras. Isto não só aumentou a popularidade do produto como deu trabalho para milhares de mulheres japonesas que nunca tinham tido a oportunidade de um emprego. Hoje, só no Brasil, a empresa conta com mais de cinco mil distribuidoras residenciais que respondem por quase 60% das vendas da companhia.
Crie relacionamentos reais: As Yakult ladies (ou YakultObaasan em japonês ou tias do Yakult em português) também criaram fortes laços de relacionamento da empresa com seus clientes. A marca era sempre lembrada e as qualidades do produto sempre asseguradas, pois os clientes interagiam (elogiavam, reclamavam, davam sugestões) sempre com “alguém da empresa”, que estava ali, na sua frente.
Desenvolva hábitos de vida: Com o tempo, tomar Yakult se tornou um hábito nas crianças e seus pais, nas crianças que cresceram e se tornaram pais e o produto se tornou sinônimo de leite fermentado que “faz bem a saúde”.
Mesmo agora em que as condições sanitárias melhoraram muito, a Yakult, vendida em 33 países, continua a se posicionar como um produto que contribui para uma vida melhor e se tornou tão presente em nossas vidas que nem sequer sabemos ou lembramos que foi criada por um empreendedor, que ainda muito jovem, descobriu seu propósito de vida e conseguiu criar um negócio bem sucedido a partir disso.
(Fonte: http://blogs.pme.estadao.com.br/blog-do-empreendedor – EMPREENDEDOR/ Por Marcelo Nakagawa, professor do Insper e diretor de empreendedorismo da FIAP – 2 de outubro de 2015)
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