MODERNISMO NO BRASIL

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A divulgação, no Brasil, das teorias vanguardistas européias é feita, em 1922, pela Semana de Arte Moderna. Com a chamada Geração de 22, instalam-se, na literatura brasileira, a escrita automática, influenciada pelos surrealistas franceses, o verso livre, o lirismo paródico, a prosa experimental e uma exploração criativa do folclore, da tradição oral e da linguagem coloquial. Em seu conjunto, essa é uma fase contraditória, de ruptura com o passado literário, mas, ao mesmo tempo, de tentativa de resgate de tradições tipicamente brasileiras.
O ataque de Monteiro Lobato, em 1917, à exposição de Anita Malfatti é respondido com a Semana. Em torno dela, surgem Mário de Andrade (Paulicéia desvairada, Macunaíma), Oswald de Andrade (Memórias sentimentais de João Miramar), Manuel Bandeira (Ritmo dissoluto), Cassiano Ricardo (Martim-Cererê) e movimentos como o da Revista de Antropofagia e o do Pau-Brasil, ambos liderados por Oswald, ou o da revista Verde, de Cataguazes, sempre com tendências nacionalistas.
A esse núcleo juntam-se Carlos Drummond de Andrade (Alguma poesia), Augusto Meyer (Giraluy), Mário Quintana (A rua do catavento), Jorge de Lima (Poemas negros) e o romancista José Lins do Rego (Menino de engenho).
Em reação ao liberalismo desse grupo, o Verde-amarelismo e o movimento Anta, de 1926, ambos comandados por Plínio Salgado e contando com poetas como Menotti del Picchia (Juca Mulato), fecham-se às vanguardas européias e aderem a idéias políticas que prenunciam o integralismo, versão brasileira do fascismo.
Mário Raul de Morais Andrade (1893-1945), nasce em São Paulo. Formado em música, trabalha como crítico de arte e professor. É um dos mais importantes participantes da Semana de 22. Pesquisa o folclore brasileiro e o utiliza em suas obras, distanciando-se da postura de valorizar somente o que é europeu. Esses estudos são utilizados em Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, onde traça o perfil do herói brasileiro, produto de uma grande mistura étnica e cultural.
José Oswald de Sousa Andrade (1890-1954), trabalha como jornalista e cursa direito, sempre em São Paulo. De família rica, viaja várias vezes para a Europa. É quem melhor representa o espírito rebelde do modernismo. Funda a Revista de antropofagia, em 1927, onde afirma ser necessário que o Brasil devore a cultura estrangeira e, na digestão, aproveite suas qualidades para criar uma cultura própria. Em Memórias sentimentais de João Miramar analisa de forma sarcástica o fenômeno urbano.O clima decorrente da Revolução de 30 ajuda a consolidar as revoluções propostas, ainda de forma desorganizada, em 22. Poetas como Drummond (A rosa do povo), Bandeira (Estrela da vida inteira) ou romancistas como Lins do Rego (Fogo morto) atingem a maturidade. Surgem nomes novos: Érico Veríssimo (a trilogia O tempo e o vento), Jorge Amado (Capitães de areia, Seara vermelha), Rachel de Queirós (O quinze), José Geraldo Vieira (A mulher que fugiu de Sodoma), Alcântara Machado (Brás, Bexiga e Barra Funda) e, principalmente, Graciliano Ramos (Vidas secas). Essa é uma fase de grande tensão ideológica e de abordagem da literatura como um instrumento privilegiado de conhecimento e modificação da realidade.Numa linha mais intimista, surgem poetas como Cecília Meireles (Vaga música), Vinícius de Moraes (Poemas, sonetos e baladas), o regionalista Raul Bopp (Cobra Norato), Augusto Frederico Schmidt (Desaparição da amada) e Henriqueta Lisboa (A face lívida), influenciados pelo Neo-simbolismo europeu; e prosadores como Cornélio Pena (A menina morta), Lúcio Cardoso (Crônica da casa assassinada), Dionélio Machado (Os ratos).
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasce em Itabira, Minas Gerais. Forma-se em farmácia, mas trabalha como funcionário público por muitos anos. Antes de se mudar para o Rio de Janeiro, na década de 30, funda A revista, onde divulga as idéias modernistas em Minas. Sua poesia não se restringe a esse movimento, mas é marcada pela ironia, pelo anti-retórico e pela contenção. Em Rosa do povo, de 1945, faz uma poesia de certa forma engajada, nascida das esperanças surgidas com o fim da 2a Guerra Mundial. Mas a partir de Claro enigma, de 1951, registra o vazio da vida humana e o absurdo do mundo, sem nunca abandonar a ironia.
Graciliano Ramos (1892-1953) nasce em Quebrângulo, Alagoas. Trabalha como jornalista, comerciante, diretor da Instrução Pública de Alagoas. Chega a ser eleito prefeito de Palmeira dos Índios (AL), em 1928. Acusado de subversão, passa 11 meses preso no Rio de Janeiro, período que narra em Memórias do cárcere. Com uma linguagem precisa, de poucos adjetivos, mostra conhecimento das angústias humanas e preocupação com os problemas sociais. Seus personagens não se adaptam ao mundo que os cerca. Paulo Honório, de São Bernardo, sabe como administrar suas terras, mas é incapaz de lidar com sentimentos. Na sua obra destacam-se também Vidas secas e Angústia. Em reação à postura muito politizada da fase anterior, os poetas dessa geração voltam para um neo-parnasianismo, que se preocupa com o apuro formal e foge a temas considerados banais. Dentre esses autores – Geir Campos (Coroa de sonetos), Péricles Eugênio da Silva Ramos (Poesia quase completa), Alphonsus de Guimaraens Filho (Lume de estrelas), Ledo Ivo (Acontecimento do soneto) – destaca-se João Cabral de Melo Neto (Educação pela pedra, Morte e vida severina), pela inventividade verbal e intensidade da participação nos problemas sociais. O mais importante livro de poesia dessa fase, influenciado pelas idéias dessa geração de artistas, é Claro enigma, de Carlos Drummond de Andrade. Na prosa, João Guimarães Rosa e Clarice Lispector (A maçã no escuro) revolucionam o uso da linguagem.
João Guimarães Rosa (1908-1967) nasce em Cordisburgo, Minas Gerais. Médico, torna-se diplomata em 1934. Exerce a medicina no interior de Minas. Como diplomata trabalha em Hamburgo (Alemanha), Bogotá (Colômbia) e Paris (França). Sua obra explora o manancial dos falares regionais, pondo-o a serviço de uma escrita complexa, de imensa criatividade: Grande sertão: veredas é uma epopéia ambientada no interior de Minas Gerais, que transpõe para o Brasil o mito da luta entre o ser humano e o diabo.
Clarice Lispector (1926-1977) vem da Ucrânia para o Brasil recém-nascida e é levada pela família para o Recife. Em 1934 muda-se para o Rio de Janeiro. Escreve o primeiro romance, Perto do coração selvagem, aos 17 anos. Em livros como A paixão segundo GH, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, A hora da estrela leva o subjetivo ao limite, deixando à mostra o fluxo da consciência e rompendo com o enredo factual.
João Cabral de Melo Neto, pernambucano, trabalha grande parte de sua vida na Espanha como diplomata. Sua poesia objetiva recusa sentimentalismos e traços supérfluos. Morte e vida severina, relato da viagem de um nordestino para o litoral que, no seu caminho, só encontra sinais de morte, é a obra que melhor equilibra rigor formal e temática social.
(Fonte: Google Pioneiros, Conhecimentos Gerais – Literatura)

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