Montgomery Clift (Omaha, Nebraska, 17 de outubro de 1920 Nova York, Nova York, 23 de julho de 1966), deste jovem astro que tinha tudo, era bonito, bom ator, ficou famoso desde a estreia.
Seu melhor filme, Um Lugar Ao Sol, é baseado num livro chamado Uma Tragédia Americana, de Theodore Dreiser. Esse também poderia ser o título de uma biografia deste jovem astro que tinha tudo, era bonito, bom ator, ficou famoso desde a estreia.
Mas teve uma vida atormentada, sem nunca aceitar sua homossexualidade, prejudicado pelo alcoolismo de tal forma que morreria com apenas 45 anos, com sua beleza totalmente destruída. Falou-se muito num possível romance entre Montgomery e Elizabeth Taylor, sua parceira em três filmes. Na verdade, eles eram como irmãos, melhores amigos.
Uma noite, saindo da casa dela, alcoolizado, ele sofreu um acidente de carro que destruiu seu rosto. Foi Elizabeth quem o encontrou e literalmente reconstituiu seu corpo, impedindo que as fotos fossem divulgadas pela imprensa até chegar a ajuda da ambulância. Isso foi em 1957 e, desde então, Clift nunca mais foi o mesmo (eles rodavam na época A Árvore da Vida e Elizabeth exigiu que interrompessem as filmagens até que o amigo se recuperasse). Tinha dores terríveis e a face perdeu os movimentos, já que tinha sido toda refeita por operações plásticas. Naquela época isso ainda era rudimentar. Elizabeth o protegeu pela resto de sua vida, mas em vão. O melhor já tinha passado.
Nascido em Omaha, Nebraska, em 1920, ele começou a trabalhar como ator aos 14 anos e logo depois já estreava na Broadway. Em 1948, finalmente aceitou um convite de Hollywood e foi trabalhar para Howard Hawks, em Rio Vermelho, um faroeste que se tornaria clássico onde tinha a difícil tarefa de fazer o filho de John Wayne e numa cena famosa brigar a socos com o pai. Mas a produção foi tão demorada que a fita só ficou pronta depois de outro filme menos ambicioso, Perdidos na Tormenta (The Search), que acabou sendo de fato sua estreia no cinema.
É importante notar que Clift nunca foi visto como um simples galã, ele foi o precursor da figura de rebelde, anticonformista, um original, de tal forma que Marlon Brando foi um seguidor e o considerava como seu ídolo. Clift não ia à premières, nunca foi contratado de estúdios, só fazia os filmes que desejava, nunca aceitou o jogo de Hollywood .
Um Lugar ao Sol (A Place in the Sun), de 1951, é uma obra-prima de George Stevens, premiada com Oscars de direção, roteiro, fotografia em preto e branco, trilha musical, montagem e figurinos. Clift chegou a ser indicado como ator no papel do jovem pobre que mata a namorada grávida, Shelley Winters, para poder ficar com a belíssima Elizabeth Taylor. Outro trabalho extraordinário e premiado é Tarde Demais (The Heiress), de 1949, adaptação da peça Washington Square, de Henry James, sobre um solteirona, Olivia de Havilland, que é cortejada por um aventureiro. Olívia ganhou seu segundo Oscar numa fita que incluiu prêmios de direção de arte, trilha musical e figurinos.
Depois do acidente, com o rosto visivelmente modificado, Clift continuou trabalhando, mas sem o mesmo êxito e repercussão. O filme Rio Violento (Wild River), de 1960, é um dos trabalhos preferidos do diretor Elia Kazan. Passa-se durante a Depressão, quando tem que convencer uma velha, Jo Van Fleet, a sair de sua casa que será inundada.
O longa Freud, Além da Alma, de John Huston, de 1962 (biografia do criador da psicanálise), virou cult no Brasil. Clift aparece de barba, com os intensos olhos azuis, escondendo os problemas da produção com roteiro de Jean Paul Sartre, que acabou recusado, devido às brigas com o diretor e uma operação de emergência de cataratas nos dois olhos que o ameaçavam deixar cego. O caso terminou num tribunal num processo que ele moveu contra a Universal, que por sua vez o acusava de beber demais durante as filmagens.Embora isso não tenha afetado o resultado, seu estado lamentável ficou mais claro noutro filme do mesmo ano, O Julgamento, de Nuremberg, um trabalho de apenas dois dias que ele fez de graça. Já estão ali as marcas de uma vida infeliz e trágica que concluiria em 1966, quando morreu de um ataque do coração. Só amiga Elizabeth Taylor lhe continuava fiel.
Não mencionei alguns filmes importantes: A Tortura do Silêncio, dirigido por Hitchcock, Quando a Mulher Erra, de Vittorio de Sica, Os Desajustados, de John Huston, Os Deuses Vencidos, de Edward Dmytrik, o premiadíssimo A Um Passo da Eternidade, de Fred Zinnemann e De Repente no Último Verão, de Joseph L. Mankiewicz. Foi indicado quatro vezes ao Oscar, por Julgamento como coadjuvante, A Um passo da Eternidade, Um Lugar ao Sol e The Search. Nunca ganhou. Outra das grandes injustiças do prêmio.
Seu último filme de 66, LEspion, teve o título sintomático no Brasil de Talvez Seja Melhor Assim. Ele aparecia amargo, desfigurado, apático, muito triste. Curiosamente o diretor do filme, o francês Raoul Levy, matou-se logo depois, com 44 anos.
(Fonte: www.noticias.r7.com/blogs/rubens-ewald-filho – Crítico de cinema – 18 outubro 2010)
(Fonte: Veja, 26 de outubro de 1994 Edição n.° 1363 ANO 27 N.° 43 – MEMÓRIAS – Pág; 96)