Nos ensaios de ‘As Pequenas Virtudes’, escritos entre 1944 e 1962, autora fala de experiência com seus filhos e amigos mais próximos, como o poeta Cesare Pavese
Natalia Ginzburg (Palermo, Itália, 14 de julho de 1916 – Roma, 7 de outubro de 1991), foi uma escritora italiana. Um dos principais nomes do neorrealismo italiano, a escritora foi também tradutora de Proust e Flaubert, além de ter educado – o historiador Carlo Ginzburg, seu filho, autor do clássico O Queijo e os Vermes.
No livro As Pequenas Virtudes, revela como educar os filhos, ensinando a eles a indiferença ao dinheiro, a coragem, a franqueza, o amor à verdade e, principalmente, o desejo de ser e de saber, não o do sucesso.
Natalia foi Maria de Betânia no filme O Evangelho Segundo São Mateus, de Pasolini, o que diz muito sobre a escolha do cineasta italiano. Ninguém entendeu melhor o papel da irmã de Lázaro que ungiu e beijou os pés de Cristo num comovente gesto de humildade e amor ao próximo.
Natalia Ginzburg, que não por acaso teve vários de seus livros adaptados para o cinema – entre eles o belo Caro Michele, por Mario Monicelli, em 1976 – sabia como adaptar a técnica da decupagem de cinema à narrativa literária, ligando planos por meio de cortes.
Assim, As Pequenas Virtudes, apesar de reunir ensaios escritos em diferentes épocas (de 1944 e 1962), conversa sua unidade narrativa de planos mesmo quando novos personagens entram em cena, além da própria família da escritora.
Criada por pai e mãe judeus, intelectuais seculares, ela conviveu desde cedo com grandes nomes da literatura e das artes. Foi amiga de Montale, Calvino, Vittorini e do poeta Cesare Pavese, que descreve com notável senso de observação no ensaio Retrato de um Amigo, publicado em Roma, em 1957. Que fala de pessoas conhecidas, como Pavese. Ao lado dele, reconhece, todos os amigos se sentiam humilhados, porque não sabiam ser sóbrios como ele, escreve.
Pavese tratava-os de modo áspero, assim como à família, mas era atencioso com pessoas que os amigos julgavam indignas de atenção. Matou-se num hotel nas proximidades na estação de Turim, em 1950, “como um forasteiro na cidade que lhe pertencia”.
A morte é companheira inseparável nesses ensaios, desde o primeiro deles, Inverno em Abruzzo, de 1944. Nele, a autora narra o exílio interno dela e do marido, militante antifascistas, em Abruzzo.
O marido, Leone Ginzburg, morreria, vítima de tortura, nas prisões de Regina Coeli, em Roma, poucos meses depois de Natalia deixar o vilarejo. Natalia não tinha grande admiração pela Itália. Considerava o país “pronto a dobrar-se aos piores governos, onde tudo funciona mal”.
Numa comparação com a Inglaterra, que admirava, a Itália é definida como um país onde reina a desordem, o cinismo, a incompetência, a confusão.
Nascida Natalia Levi na capital da Sicília numa família judaica de origem triestina, seu pai, Giuseppe Levi, era professor universitário e seus três irmãos foram prisioneiros durante o regime fascista.
(Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura – 1722970 – CULTURA – LITERATURA – ANTONIO GONÇALVES FILHO – 11 Julho 2015)