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Neil Sheehan, repórter do NY Times que obteve os documentos do Pentágono e escreveu a crônica ‘Bright Shining Lie’ do Vietnã
Neil Sheehan, o jornalista que conseguiu os papéis do Pentágono
Neil Sheehan do lado de fora de sua casa, em Washington, em 2009. (Foto: Brendan Hoffman / The New York Times)
Repórter publicou um dos maiores vazamentos da História dos EUA sobre as mentiras do governo americano durante a Guerra do Vietnã
Cornelius Mahoney Sheehan (nasceu em Holyoke, Massachusetts, em 27 de outubro de 1936 – faleceu em Washington, em 7 de janeiro de 2021), jornalista e cronista, foi um dos grandes repórteres americanos, autor de reportagens exclusivas sobre os papéis do Pentágono, na década de 70, e ganhador do Prêmio Pulitzer por sua cobertura da Guerra do Vietnã entre 1962 e 1966.
Repórter do NY Times que obteve os documentos do Pentágono e escreveu a crônica ‘Bright Shining Lie’ do Vietnã, foi um cronista incansável da Guerra do Vietnã que obteve os Documentos do Pentágono para o New York Times e mais tarde recebeu o Prêmio Pulitzer por seu livro “A Bright Shining Lie”, uma acusação meticulosamente pesquisada do papel da América naquele conflito.
Neil Sheehan nasceu na cidade de Holyoke, Massachusetts, em 27 de outubro de 1936. Filho de imigrantes irlandeses, formou-se na Universidade de Harvard e serviu no Exército antes de ingressar no serviço de notícias da United Press International. Ele chegou ao Vietnã aos 25 anos para cobrir a guerra e saiu quatro anos depois “preocupado” com o papel dos Estados Unidos no confronto, que custou milhões de mortes e causou enormes prejuízos.
“Eu me pergunto, quando eu olho para as aldeias camponesas bombardeadas, os órfãos mendigando e roubando nas ruas de Saigon, e as mulheres e crianças com queimaduras de napalm em hospitais, se os Estados Unidos ou qualquer nação tem o direito de infligir esse sofrimento e degradação a outras pessoas por causa de seus próprios objetivos”, escreveu Sheenan, em 1966, na revista do New York Times, jornal para o qual ele havia noticiado, desde 1964, de Saigon, hoje chamada Cidade de Ho Chi Minh, onde estivera localizado o quartel general das tropas americanas durante a Guerra do Vietnã.
Depois da guerra, ele conseguiu que Daniel Ellsberg, um ex-analista do governo dos EUA que repudiava a guerra, vazasse um relatório secreto do Departamento de Defesa dos EUA sobre o envolvimento político e militar dos EUA no Vietnã entre 1945 e 1967.
Com mais de 7 mil páginas, foi o maior vazamento da história do país até aquele momento. Sheehan começou a publicar uma série de reportagens no New York Times a partir de 13 de junho de 1971. Na sequência, diferentes meios de comunicação, como o Washington Post e o Boston Globe, juntaram-se à cobertura. Parte dessa história é contada no filme “The post – a guerra secreta” (2017), dirigido por Steven Spielberg, que concorreu ao Oscar de melhor filme.
O relatório, encomendado em 1967 pelo Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert S. McNamara, demonstrou, entre outras coisas, que “o governo Johnson [ex-presidente Lyndon B. Johnson] mentiu sistematicamente não apenas para o público, mas também para o Congresso, em um assunto de importância crucial”, revelando ainda a ciência de vários presidentes dos EUA de que a Guerra do Vietnã estava perdida desde o início. O governo dos Estados Unidos tentou, então, impedir a publicação do relatório, mas a Suprema Corte decidiu que a imprensa poderia continuar a publicar o documento confidencial.
Depois de publicar uma série de reportagens, Sheenan passou anos escrevendo “A bright shining lie” (sem tradução em português), livro sobre a vida do tenente-coronel John Paul Vann e o envolvimento dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã — a obra foi publicada em 1988. Por esse trabalho, ganhou o Prêmio Pulitzer, o maior prêmio do jornalismo, e um Prêmio Nacional do Livro.
Sheehan nunca falou publicamente sobre como ele teve acesso aos documentos. Mas, em 2015, concordou em contar sua história para o New York Times com a condição de que fosse publicada apenas após sua morte.
Nessa entrevista, que durou quatro horas e foi publicada pelo jornal americano, o repórter disse que Ellsberg concordou em permitir que ele fizesse uma cópia dos documentos, mas por medo de ser processado e preso, desistiu. Convencido da importância de divulgar as informações, o jornalista conseguiu pegar o relatório sem a ciência de Ellsberg, copiá-lo e enviá-lo a Washington.
Durante a conversa ele ainda afirmou que, assim como Ellsberg, não roubara a documentação:
— Esses papéis são propriedade do povo dos Estados Unidos. Os cidadãos pagaram por eles com dinheiro do Tesouro Nacional e com o sangue de seus filhos. Eles têm direito a isso.
O jornalista Neil Sheehan faleceu aos 84 anos em sua casa em Washington em 7 de janeiro de 2021, segundo informou sua família à imprensa americana. Sua esposa, Susan Sheehan, relatou que o jornalista morreu por complicações da doença de Parkinson.
(Fonte: https://oglobo.globo.com/mundo – MUNDO / por Constanza Lambertucci, do El País – WASHINGTON — 08/01/2021)