Nelson Rodrigues (1912 – 1980) é mais do que um dos escritores mais importantes do Brasil – é daqueles criadores cuja obra está de tal forma incorporada à cultura nacional que transcende em muito a palavra impressa. Sua maestria na observação da vida cotidiana ficou famosa no teatro, em suas muitas peças – Vestido de Noiva, Toda Nudez Será Castigada e O Beijo no Asfalto são apenas algumas das mais conhecidas. Muitos desses textos também foram adaptados para cinema e televisão ao longo das décadas, antes e depois da morte do autor. E muitos de seus textos editados em livros foram publicados antes em páginas de jornal.
A carga dramática que Nelson soube tão bem aplicar em sua prosa tem origem na vida do autor – nascido em Pernambuco e levado pela numerosa família ainda criança para o Rio de Janeiro. Foi lá, por exemplo, que ele teve um enfrentamento decisivo com a morte, quando seu irmão Roberto foi assassinado em plena redação do jornal Crítica, fundado pelo pai deles, Mário Rodrigues. Nelson sempre lembraria a dor profunda do funeral de Roberto, um momento em que os demais integrantes da família “sentiam vergonha por estarem vivos”.
Essa carga sentimental passou naturalmente para os personagens de seus contos, romances e peças. A ponto de Nelson Rodrigues ser sempre tido como um autor polêmico, sem medo de temas escandalosos ou mesmo de palavrões – e sobre isso, ele declarou ao jornal O Estado de S. Paulo em 1978: “Todas as palavras são rigorosamente lindas. Nós é que as corrompemos”
(Fonte: Zero Hora – Edição n° 17.122 – ANO 49 – Almanaque Gaúcho/ Por Ricardo Chaves/ Bissigo – 23 de agosto de 2012 – Pág; 54)