Nicette Bruno, foi uma das maiores atrizes da história do Brasil e, mais que isso, uma artista que conseguiu estabelecer em suas personagens uma marca de serenidade

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Dama da serenidade

 

Nicette Bruno em Tenda dos Milagres — (Foto: Bazilio Calazans)

 

 

Nicette Bruno (Niterói, no Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1933 – 20 de dezembro de 2020), foi uma das maiores atrizes da história do Brasil e, mais que isso, uma artista que conseguiu estabelecer em suas personagens uma marca de serenidade. Mesmo quando interpretou vilãs – como no supracitado O Que Terá Acontecido a Baby Jane? -, conseguia usar a característica a seu favor na construção de uma personalidade que beirava o sadismo.

Natural da cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, e filha da atriz Eleonor Bruno (1913-2004), Nicete Xavier Miessa completou neste 2020 75 anos de carreira artística contados a partir de 1945, quando estrelou a adaptação do Teatro Universitário para o clássico Romeu e Julieta, de William Shakespeare (1564-1616), ao lado de nomes como Sérgio Britto (1923-2011) e Sérgio Cardoso (1925-1972).

Em 1947, ano que considerava sua estreia profissional, recebeu a Medalha de Ouro de Atriz Revelação pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais (ABCT) por seu desempenho em A Filha de Iório, do poeta italiano Gabriele D’Annunzio (1863-1938) sob a direção e produção de Dulcina de Moraes (1908-1996) e sua companhia, onde Nicette permaneceu encenado obras como Dias Felizes (1947), Já é Manhã no Mar (1947), Trevas Ardentes (1948), Anjo Negro (1948), Fausto (1949) e Alegres Canções nas Montanhas (1950) até 1952, quando formou seu Teatro de Alumínio, que, dois anos depois, seria a sede de sua companhia, Teatro Íntimo Nicette Bruno.

Foi no Teatro de Alumínio, com a encenação de Senhorita Minha Mãe, do dramaturgo francês Louis Verneuil (1893-1952), que a atriz conheceu Paulo Goulart (1933-2014), ator e diretor que foi seu principal companheiro tanto na vida quanto no trabalho ao longo de 60 anos.

Ao lado de Goulart, Nicette não só tocou sua companhia até meados dos anos 1960, quando se mudaram para Curitiba para desenvolver trabalho em parceria com a Escola de Teatro do Guaíra, e com o Teatro de Comédia do Paraná em sua fase áurea (de 1962 a 1966), como também deu à luz três filhos: Bárbara Bruno, Beth Goulart e Paulo Goulart Filho, todos atores celebrados.

Nicette Bruno, filha única de Sinésio Campos Xavier e da atriz Eleonor Bruno, em 1933. Seguir a carreira artística foi quase uma imposição familiar. Estudou balé, piano. Aos 11 anos, entrou para o grupo de teatro da Associação Cristã de Moços, depois foi para o Teatro do Estudante do lendário Paschoal Carlos Magno. Aos 14 anos, já era profissional na Cia. de Dulcina de Morais. Estreou numa montagem de Romeu e Julieta, o clássico de Shakespeare. Em 1947, foi premiada por sua atuação na peça A Filha de Iório, de Gabriel D’Annunzio. Seguiram-se participações em montagens de Nelson Rodrigues (Anjo Negro) e Oscar Wilde (O Fantasma de Canterville).

Aos 17 anos, fundou em São Paulo o Teatro de Alumínio. Novo sucesso como Antônia em Pedro Mico, de Antonio Callado. A primeira novela foi Os Fantoches, de Ivani Ribeiro, em 1967. No cinemas, atuou em Querida Susana, de Alberto Pieralisi, Canto da Saudade, de Alberto Cavalcanti, e A Guerra dos Rocha, de José Fernando.

Nos anos 1970, a atriz estrelou nos sucessos Meu Pé de Laranja LimaÉramos Seis, e Como Salvar Meu Casamento. Esta última não foi encerrada porque marcou a extinção da TV Tupi.

Com uma carreira premiada no teatro (a atriz recebeu honrarias do quilate do Molière, em 1975, o APCA em 1998 e o Shell também em 1998), Bruno foi um dos principais nomes da TV brasileira, tendo gravado seu nome e sua imagem na memória do público em diferentes fases da teledramaturgia, sendo um de seus papéis mais icônicos os da avó Dona Benta, no remake da série infantil Sítio do Pica-Pau Amarelo, baseada na obra homônima de Monteiro Lobato (1882-1948), exibida pela Rede Globo em 2001.

A ida de Nicette para a Rede Globo foi a convite do diretor e ator Fabio Sabag, para interpretar a freira Júlia na novela Obrigado, Doutor, em 1981. Já na emissora, a atriz interpretou Sara Mendes, mãe da personagem paranormal de Regina Duarte, em 1982, na novela Sétimo Sentido, de Janete Clair.

Nos anos seguintes, esteve em Louco Amor, folhetim de Gilberto BragaSelva de Pedra (1986), Rainha da Sucata (1990) e Mulheres de Areia (1993). Úrsula foi a primeira vilã de Nicette, na novela O Amor Está no Ar, em 1997.

A temporada de retorno a O Sítio do PicaPau Amarelo levou à atriz para as novelas Alma Gêmea (2005), como a Ofélia, e Sete Pecados (2007), ambas de autoria de Walcyr Carrasco. Em 2010, estreou em Tititi, em seguida A Vida da Gente (2011), passou por Salve Jorge (2012), Joia Rara (2013), I Love Paraisópolis (2015), e Pega Pega (2017).

Entre suas personagens mais icônicas na teledramaturgia, é possível destacar também nomes como a rabugenta Ofélia, em Alma Gêmea (2006), de Walcyr Carrasco, quando construiu triângulo hilário com Fúlvio Stefanini e Neusa Maria Faro e, claro, a Dona Lola, da versão original da telenovela Éramos Seis, de Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho (1945-2019) baseado no romance homônimo de Maria José Dupré (1898-1984) e exibido na Rede Tupi em 1978.

O teatro permaneceu em sua vida – Perdas e GanhosO Que Terá Acontecido a Baby Jane? O monólogo de Lya Luft foi dirigido por Beth Goulart, uma dos três filhos que Nicette teve com Paulo Goulart, com quem foi casada por 60 anos, até a morte dele em 2014. Todos – Barbara Bruno, Paulo Goulart Filho e Beth – seguiram a carreira artística, uma tradição da família.

Incansável, a atriz passou seus últimos anos no palco. Em 2014, após a morte de Paulo Goulart, vítima de um câncer renal, a artista viveu seu luto em cena com a montagem do monólogo Perdas e Ganhos, baseado no livro homônimo da ensaísta gaúcha Lya Luft sob a direção de sua filha, Beth Goulart.

Dois anos depois, em 2016, aos 83 anos, deu vida à atriz Blanche Hudson na adaptação teatral do thriller O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, de Henry Farrell (1920-2006), montado no Brasil sob a direção de Charles Möeller e Claudio Botelho. Bruno deu vida à personagem defendida por Joan Crawford (1904-1977) no cinema, dividindo a cena com a amiga Eva Wilma, no papel de Jane Hudson.

Em 2018, aos 85 anos, voltou aos musicais 30 anos após dar vida à cantora Dircinha Batista (1922-1999) em Somos Irmãs, ao lado de Suely Franco. Também sob a direção da dupla Möeller & Botelho foi um dos destaques da temporada carioca de Pippin, de Stephen Schwartz, defendendo o papel que deu um Prêmio Tony à Andrea Martin no revival de 2014 na Broadway.

Em 2020, teve a excursão da comédia Quarta-Feira, sem Falta, lá em Casa, de Mário Brasini (1921-1997), interrompida devido a pandemia do novo Coronavírus. A atriz repetia a dobradinha com a amiga Suely Franco, substituindo Eva Wilma na comédia dirigida por Alexandre Reinecke.

Título conferido por Nelson Rodrigues (1912-1980) a Fernanda Montenegro, “Musa Sereníssima” caberia perfeitamente à personalidade de Nicette Bruno, atriz que foi imensa e deixa legado indispensável para entender um pouco da evolução do teatro patropi.

Nicette Bruno morreu aos 87 anos em 20 de dezembro, devido a complicações decorrentes do novo coronavírus. Ela estava internada desde o dia 26 de novembro na Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, que confirmou a morte da artista.

(Fonte: https://www.msn.com/pt-br/entretenimento/noticias – ENTRETENIMENTO / NOTÍCIAS / por Estadão Conteúdo – 20/12/2020)

(Fonte: https://observatoriodoteatro.uol.com.br/noticias – OBSERVATÓRIO DO TEATRO / DESTAQUE / NOTÍCIAS / Por Bruno Cavalcanti – 

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