Níkos Kazantzákis (Heraclião, Creta, 18 de fevereiro de 1883 – Friburgo, 26 de outubro de 1957), autor do romance Zorba, o Grego – adaptado para o cinema com o ator Anthony Quinn no papel principal -, escreveu uma descomunal versão de 33 333 versos da Odisséia e é o responsável pela segunda surpresa de Poesia Moderna da Grécia.
Sente-se nos trechos do poema vertidos por Paes o legítimo sopro épico, até com uma nova Helena de Tróia. Uma Helena que talvez não exista mesmo no corpo do poema, mas que se justifica pela luta.
“Helena quer dizer, meu velho, combater por Helena”, afirma o poeta. Se a antologia contivesse apenas os trechos da Odisséia de Kazantzákis e as novas traduções de Kafáfis pela sua representatividade, ela é um dos melhores conteúdos no âmbito da poezia.
A língua grega é depositária da mais longa tradição poética do mundo ocidental. Essa tradição tem seu marco fundador e momento mais famoso nas epopeias Ilíada e Odisseia, que Homero teria composto no século IX a.C.
Como durante 2 000 anos a Grécia deixou de ser uma nação independente – sendo ocupada sucessivamente por romanos, francos, venezianos e turcos, até ressurgir em 1823 -, o idioma falado no país modificou-se profundamente.
Mudou a ponto de o grego, conhecido como demótico, ser completamente diferente do idioma homérico. Foi com o demótico, porém, que a poesia grega conseguiu projeção internacional no século 20, conquistando dois prêmios Nobel em menos de vinte anos – um para George Seféris, em 1963, e o outro para Odysseus Elýtis, em 1979.
(Fonte: Veja, 13 de agosto de 1986 Edição 936 LIVROS/ Por Mário Sérgio Conti Pág; 126)