De fins de setembro e começo de outubro de 1972, Edmond Jacob Safra, quarenta anos, brasileiro nascido no Líbano, emergiu como figura legendária nos jornais dos principais centros financeiros do mundo.
A súbita notoriedade foi provocada pelo lançamento, de 26 de setembro a 9 de outubro, em Londres, de 2,5 milhões de ações da Trade Development Bank Holding, com sede em Luxemburgo, fundada e presidida por Safra.
Conduzida por uma associação de mais de cem bancos mundiais – na qual figuravam o Banco do Brasil e o European Brazilian Bank (Eurobraz) -, liderada por Manufacturers Hanover Ltd. e N. M. Rotschild and Sons Ltd., a venda dessas ações, a 16,50 dólares cada, marcou a primeira abertura de capital de uma empresa não-britânica no mercado de Londres.
Safra morou no Brasil, na avenida Paulista durante sete anos – de 1954 a 1960 -, quando sua família emigrou do Líbano. No Brasil ele se naturalizou e se tornou “brasileiro de coração”.
Em 1955, Safra fundou em São Paulo a Safra S.A., que mais tarde passaria a ser o Banco Safra de Investimentos. Em 1965, incorporou em Genebra a Sudafin Société Financière, transformada em banco, em 1960.
No ano anterior, o nome já tinha sido trocado para Trade Development Bank, alicerce do império que ele criaria em menos de dez anos.
Em 1962, Safra transferiu de vez os negócios para o exterior, aqui permanecendo os seus irmãos Joseph e Moise (1934-2014), também brasileiros, que controlam as organizações Safra, um dos principais conglomerados financeiros do país.
Sua família está há mais de cem anos no setor bancário, desde o seu avô Eli, que financiava caravanas de camelos, rebanhos de ovelhas e tecelagens de Damasco.
Em 1920, seu pai Jacob Elie Safra (1891-1963) começou em Beirute a atual Banque de Crédit Nationale, que agora é controlada inteiramente por Edmond.
Aos dezesseis anos, ele já trabalhava com seu pai, cuja influência prolongou-se até sua morte, em 1963: “De vez em quando, ao sentir que estou para fazer uma besteira, ainda sinto meu pai à minha frente aconselhando ‘Edmundo, não faça isso'”.
Dele ouviu dizer uma vez que não é possível continuar crescendo sem liquidez, “nunca conceda um empréstimo cuja falta de pagamento você não possa cobrir.”
E, entre as pérolas recordadas do pai, Safra encaixa uma sua, ao definir suas relações com o trabalho: “O banco é uma virgem, cuja virgindade tem de ser preservada. Nada de truques, de golpes baixos ou negociatas.”
(Fonte: Veja, 18 de outubro de 1972 – Edição 215 – ECONOMIA – Pág: 112/113)